19/12/2007

Afinal vou ver "A Bússola Dourada"

Segundo notícia do semanário "Sol", o jornal do Vaticano criticou o filme "A Bússola Dourada", do norte-americano Chris Weisz, qualificando a saga de "gnóstica, anti-Natal e soixante-huitarde".

Bom. Como já estou um pouco cansado de filmes de aventuras fantásticas, tinha pensado em não ir ver este. Mas, se incomoda assim tanto o Vaticano, então só pode ser bom.

Este fim de semana não me escapa.

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"Call Girl", ontem

Ante-estreia do filme "Call Girl", de António Pedro Vasconcelos, produzido pela MGN Filmes, de Tino Navarro, no Teatro de São Jorge, em Lisboa. À chegada, uma sala bem recheada de figuras públicas cheias de curiosidade para ver o filme e uma Soraia Chaves deslumbrante num vestido púrpura que, juntamente com o restante elenco, davam entrevistas para todos os órgãos de comunicação social deste País.

É bom ver que o cinema português começa a chegar com mais força à comunicação social, pois só assim poderá começar a atrair público e a gerar uma indústria com qualidade.

E, apesar de não ser um filme perfeito, "Call Girl" é claramente uma boa tentativa de fazer as pazes com o público português e será, com toda a certeza, um sucesso de bilheteira. É um filme descontraído, sem pretensões, com alguma acção, com muitas cenas ousadas e muita linguagem corrente (aqui talvez haja um excesso no uso dos palavrões), onde, sem ter que pensar muito, o espectador diverte-se e fica entretido com aquelas personagens e as suas desventuras durante as quase duas horas do filme.

De realçar a excelente interpretação de Nicolau Breyner, claramente o que melhor encarnou o personagem que lhe foi entregue, de político honesto, mas seduzido pela beleza da esplendorosa Soraia Chaves. De resto, Ivo Canelas teve momentos muito bons, embora não tenha conseguido manter esse nível elevado durante todo o filme, enquanto que Joaquim de Almeida e José Raposo estiveram à altura do que era exigido.

Soraia Chaves esteve bem, embora num papel ingrato. É difícil mostrar talento de interpretação numa personagem cuja maior parte das cenas são sexuais. Nesse campo esteve muito bem, muito à vontade com o seu corpo (e com razões para isso), nos gestos e nos olhares, mas, na altura de dar as deixas, parecia por vezes mais preocupada em parecer sensual do que em interpretar as palavras. Mas presumo que deve ser um papel complicado de se interpretar, pelo que tem que se considerar, obrigatoriamente, a sua prestação como positiva.

O final do filme tem alguma tensão e adrenalina, o que é sempre de saudar no cinema português, normalmente amorfo, embora, me pareça que o filme teria ganho se algumas personagens e cenas tivessem sido cortadas, tornando-o mais compacto e mais eficaz. Mas o filme cumpre perfeitamente o seu propósito de entretenimento e os fãs de Soraia Chaves não vão, com toda a certeza, ficar desiludidos com o filme.

Foi uma óptima noite, na companhia de muitos amigos que não via há muito tempo, e que, depois, terminou no Speak Easy, sempre excelentemente representado pelo inexcedível Gil do Carmo, onde uma noite musical se prolongou madrugada fora. Entre a oportunidade de reencontrar um outro grande amigo que não via há anos, o grande Luís Pinto, actual teclista dos Anjos, o prazer de beber um copo ao lado de Mariza, que estava no local e que, quase, quase, foi convencida pelos músicos a cantar uma música para os presentes.

Teria sido a cereja no topo do bolo. Mas mesmo sem essa cereja, o bolo foi saboroso.

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15/12/2007

Sermos o poeta que nascemos

Dizia o mestre Agostinho da Silva que, com toda a certeza, o homem não nasceu para este mundo difícil de obstáculos e de trabalho, mas sim para sonhar livremente, para que cada um de nós possa ser o poeta que nasceu.
Nunca percebi porque é que tanta gente tem medo de se perder nos sonhos. Sempre que alguém sonha com força suficiente, o mundo dá um salto evolutivo. E é verdade que um único homem, com um sonho grande o suficiente, pode mudar o mundo. A história está cheia de exemplos disso. E esse é o único verdadeiro caminho. Deixarmo-nos inundar pelos sonhos, pela vontade que sentimos e agir de acordo com ela. Assim, quem sabe, possamos transformar o que nos rodeia.
E sermos livres e agir perante o nosso livre arbítrio outra vez.

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13/12/2007

A greve dos argumentistas


A greve que os argumentistas estão a fazer nos Estados Unidos corre os noticiários do mundo, pois a mesma, que dura há mais de um mês, já afectou a rodagem de séries que são seguidas atentamente por milhões de pessoas pelo mundo fora. Ao contrário do que acontece cá, é hábito nos EUA reconhecer-se o talento e não a mediocridade. Por isso, os seus argumentistas são reconhecidos pelo público e bem pagos. Ou antes, são bem pagos em comparação com o resto do mundo, já que, ainda assim, os seus salários não chegam aos calcanhares dos valores milionários dos actores e realizadores. Basta lembrar que, por exemplo, Lindsay Lohan, uma jovem actriz de 20 anos, de talento mediano, recebe 7 milhões de dólares por cada filme que roda.



Normalmente não sou a favor de greves, que são, na maior parte do caso, meros exercícios políticos mascarados pelos sindicatos ou, então, justificações para dias sem trabalhar. Acredito que uma greve deve existir apenas quando se fundamenta na luta por direitos elementares. Acredito também que não há nada mais importante num filme ou numa série do que o seu argumento. A ideia que está por trás do enredo, os diálogos, a sequência dos acontecimentos, a riqueza das personagens, tudo isso é que cria a base para um bom filme. E como os argumentistas americanos apenas estão a lutar pelo direito óbvio de receber uma percentagem das vendas dos DVDs e dos downloads na internet das suas criações, parece-me justo.
E a prova de que é uma greve justa é que ela não termina até que os seus objectivos sejam alcançados. Nada parecido com a maioria das greves que normalmente se vêm por cá, que duram 2 ou 3 dias, apenas o tempo suficiente para um líder sindical mandar umas bocas ao governo.

É por isso que acho imensa piada ao risível apoio que os argumentistas portugueses resolveram dar aos americanos há coisa de 15 dias. O apoio consiste no apelo a que todos os argumentistas do nosso país deixem de escrever das 12 às 13 horas, já que, e segundo declarações do sindicato, “os direitos pelos quais os nossos colegas norte-americanos lutam neste momento, e muitos outros que eles já conquistaram no passado, são em Portugal ainda a matéria de que se fazem os sonhos”.

Ou seja, os nossos argumentistas vão apoiar a causa e lutar pelos seus direitos antecipando a hora do almoço. Parece-me bem. É para que esses produtores e canais de televisão aprendam que não se brinca com um argumentista português!

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Nobel da vergonha

Ramos Horta disse numa entrevista que propunha o nome de Durão Barroso para Nobel da Paz.

Bom... se por acaso isso algum dia acontecer, tenho a certeza de que não existirá outro dia em que me irei sentir tão envergonhado de ser português.

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Regresso

Novamente de regresso ao blog, após duas semanas de preocupação com o estado de saúde da minha mãe que, felizmente, já está bem.

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12/11/2007

Aviso

Os próximos três posts são extremamente longos e acabam todos por ter um fio condutor entre eles, começando no mais antigo.

Se não estiver com "paciência para testamentos" aconselho a ler os posts anteriores.

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Bobby

(III)

Ainda na continuação do tema anterior, vi recentemente o filme "Bobby", realizado por Emilio Estevez, filho mais velho de Martin Sheen. O filme é dedicado à figura de Robert Kennedy, irmão mais novo de JFK marcou muito todo o imaginário de Emilio Estevez.

Meteu por isso mãos à obra e terminou o argumento no início de Setembro de 2001. Mas, quando se preparava para iniciar contactos, deu-se o atentado ao World Trade Center. Então, resolveu guardar o filme para mais tarde, até porque seria demasiadamente sensível rodar naquela altura num filme sobre um homem que lutava pela igualdade racial, pelos direitos civís, pela paz entre os povos, pela liberdade, pelo combate à pobreza, e que, sendo candidato a presidente dos EUA, foi assassinado antes mesmo das eleições.

Mas o filme foi realizado e saiu há cerca de um ano. Como é óbvio, passou quase despercebido em Portugal. Primeiro porque não tem muitos tiros (só os que matam Robert Kennedy) e depois porque me parece que não existe a percepção de que aquele homem podia ter mudado radicalmente o mundo em que vivemos.

Quanto ao filme, creio que nunca vi tantas estrelas juntas num mesmo elenco, já que participaram grandes actores como Anthony Hopkins, Laurence Fishburn, Demi Moore, Martin Sheen, o próprio Emilio Estevez, Helen Hunt, Sharon Stone, Lindsay Lohan, Heather Graham, Ashton Kutcher, William Macy, Christian Slater e Elihaj Woods, no papel de pessoas reais que estiveram no Hotel Ambassador no dia em que aconteceu o assassinato. As cenas em que aparece Robert Kennedy são reais, já que é feita uma montagem muito inteligente dos seus discursos no meio dos personagens (pode ver o trailer aqui)

É um bom filme. Principalmente para quem tentar perceber o que significou aquela altura para o mundo:

- Com as suas manifestações pacíficas e discursos cheios de sentimento, Martin Luther King conseguia a igualdade de direitos entre as várias raças.

- A guerra do Vietname continuava e milhares de jovens americanos eram enviados para uma guerra sem sentido

- A guerra fria ia no seu auge e a guerra nuclear com a Crise de Cuba tinha sido evitada por um fio, muito graças também à participação de Robert Kennedy no processo de negociação, ainda enquanto Ministro da Justiça do seu irmão.

- A pobreza grassava fora das grandes cidades e as máfias controlavam os negócios, os sindicatos e os trabalhadores (quando Robert Kennedy foi Ministro da Justiça, as condenações a mafiosos subiram cerca de 800 por cento).

- As drogas invadiam a sociedade.

- Na Europa, o bloco de leste começava a dar sinais de fraqueza e começava a Primavera de Praga.

Era a altura de todas as esperanças que começaram a cair quando Luther King, após um discurso altamente profético, foi morto a tiro. Houve grande consternação nessa noite e quase todas as grandes cidades americanas sofreram grandes manifestações e revoltas. Menos Indianápolis, onde Robert Kennedy fez um discurso imperdível e emotivo a revelar a morte de Luther King e a apelar à calma, que vale a pena ouvir aqui.

Era esse o espírito que admiro. Era um homem que inspirava os outros, que juntava multidões de brancos, negros e mexicanos por todas as ruas onde passava, ansiosos simplesmente por vê-lo ou ouvi-lo, ou levá-lo literalmente às cavalitas pelas ruas, sempre sem segurança ou guarda-costas (mesmo depois do seu irmão JFK ter sido assassinado), porque acreditava que se tinha que dar às pessoas, às suas pessoas, como próprio dizia. Era um homem que falava de ideais e de justiça racial, que lutava publicamente contra as máfias e a pobreza, que desafiava o poder cara a cara, que era contra a Guerra do Vietname e a favor da paz entre as nações. Que até ajudou a acabar com o apartheid na África do Sul, com um discurso memorável numa das suas visitas. E, mesmo assim, ou antes, e por isso mesmo, foi assassinado antes de ser eleito presidente. O mundo seria completamente diferente hoje se isso não tivesse acontecido.

E volto por isso à questão anterior: será que hoje não há líderes a sério neste mundo? Será que já foram todos eliminados?

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A identidade nacional

(II)

Na RTP Memória vi um antigo episódio do "Hermanias", um dos primeiros programas de Herman José. Em cerca de 10 minutos, consegui contar mais de seis piadas com referências culturais que, presumo eu, hoje poucos conseguiriam perceber, mas que, se eram usadas no programa com maior popularidade, eram entendidas pela maior parte do público da altura. Piadas que metiam escritores, letristas, pintores, nomes como Natália Correia, Lídia Jorge, Fernando Pessoa, Cargaleiro, Mário Cláudio, entre outros.

Depois, novo programa da RTP Memória mostrava uma homenagem em teatro a João Vilarett. Pouco depois, ouço a "Desfolhada", de Simone de Oliveira, devidamente referenciados os seus autores, Nuno Nazareth Fernandes e José Carlos Ary dos Santos. Ou seja, há poucos anos, o público português conhecia autores nacionais, sabia quem compunha as músicas, quem escrevia os poemas, dava valor ao que era produzido aqui, conhecia os seus autores. Havia uma identidade portuguesa que ia além de cantar o hino antes dos jogos de futebol e colocar bandeiras à janela durante o Europeu.

O que nos aconteceu entretanto? Por que razão já não damos valor aos nossos autores, aqueles que transportam para a arte a realidade, o espírito e a forma de ser português? Será que o preço da liberdade é não termos identidade? Será que só a cultura que vem dos Estados Unidos, que como já referi no post anterior ( que aconselho ler para melhor entender este), também me agrada bastante, é boa?

Ou será que os portugueses são hoje menos sensíveis e inteligentes do que eram há anos atrás? O que se passa? E como resolver isto?

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A má educação de Chávez


(I)

Tenho dado acrescida atenção nos últimos dias à cena política internacional e à história de algumas grandes figuras da política no passado, os grandes líderes que, durante os tempos, conseguiram mudar o mundo.

E, no meio dessa investigação, pensava para com os meus botões que já não existem grandes líderes, que os políticos de hoje são homens medíocres, incapazes de lutar verdadeiramente por uma causa ou de revolucionar o mundo. Limitam-se a gerir a economia e a lutar por interesses, ainda que sigam uma plataforma e um ideal.

E então constantemente vejo também notícias sobre Hugo Chávez. O presidente venezuelano, que tem um passado revolucionário e duvidoso, que, apesar da fachada democrática não passará de um ditador, não é um bom exemplo de homem, acredito eu. É mal educado, é agressivo, desagradável e fundamentalista. E perigoso. Aliás, isso mesmo se viu pela forma como ofendeu o ex-primeiro ministro Aznar na conferência ibero-latina que se realizou nos últimos dias, ao ponto de provocar a ira (!) do sempre pacífico rei Juan Carlos I.

Mas por outro lado, leio num semanário que Chávez criou na Venezuela uma enorme estrutura de produção e criação de cinema e que o estado venezuelano se prepara para apoiar largamente a produção de longa-metragens naquele País. Tudo em nome da cultura. Uma vez que, segundo dados do governo venezuelano, mais de 90 por cento do cinema que se vê na América Latina, é proveniente dos Estados Unidos e que é preciso voltar a lembrar ao povo que existe uma cultura própria local.

Chávez tem razão. A cultura americana, de que eu sou particularmente fã, invade em demasia todo o mundo. E cada uma das culturas locais desfaz-se. E isso, independentemente de se gostar dos filmes, da literatura, da música, do lifestyle, não pode acontecer. Em Portugal, isso é evidente, como falarei no post seguinte.

Chego à conclusão: Chávez é uma besta. Mas, provavelmente, será dos poucos políticos mundiais capazes de fazer a diferença se tiver oportunidade. Ainda que seja fundamentalista e arrogante. Ainda que seja incómodo à Europa e aos EUA. Aquele homem luta pelos seus ideais e está disposto a morrer por eles.

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O meu silêncio

Tenho andado calado. Ou antes, não tenho escrito neste blogue na última semana, não por falta de coisas para dizer, como se pode ver agora pela quantidade de posts que coloco num só dia, mas porque vários projectos chegaram a uma altura em que exigem mais atenção. E dois deles, ligados à vertente literária, terminaram.

Nos últimos dias terminei uma nova peça de teatro, baseada num livro clássico de que muito gosto, "A Eneida", de Virgílio, e um conto que também vai beber um pouco à mitologia, embora de outra forma. Mas não quero falar desses projectos agora, mas sim quando eles derem origem a coisas mais palpáveis, como livros ou encenações.

Por isso, serve este post basicamente para explicar a todos aqueles que aqui vêm diariamente e que me enviam mensagens e comentários que não fui embora. E que adoro cada visita e cada comentário.

A propósito, o blogue já ultrapassou as 18000 visitas. Quem diria?

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11/11/2007

Adeus a Norman Mailer


Uma das correntes literárias mais curiosas que apareceram nos últimos cem anos é a "não ficção criativa", ou o "Novo Jornalismo".

Este género literário é oriundo dos Estados Unidos da América, onde autores como Norman Mailer e Truman Capote, entre outros, escreveram verdadeiras obra-primas da literatura partindo não de enredos ficionais, mas de factos reais. É o caso de "A Sangue Frio", de Truman Capote, que recentemente teve grande projecção mediática graças ao filme "Capote", que deu o óscar de melhor actor a Philip Seymour Hoffman. Neste livro, "A Sangue Frio", o autor usa a investigação intensa e as conversas que teve com um serial killer para criar uma obra perturbante que viria a mudar a face da literatura e impressionar largamente a opinião pública mundial.

Mas quero falar de Norman Mailer, que nos deixou hoje, vítima de doença renal. Raramente foi um autor pacífico, como convém a qualquer grande autor. Afinal, é a inquietude que um autor provoca no público que o consagra; autores que se limitam a contar os passos e dizer o óbvio não acrescentam nada ao mundo. No caso, infelizmente, Mailer não foi apenas um escritor provocador, mas também um homem violento no seu dia a dia, que, por diversas vezes, foi notícia pelo seu pavio curto.

Mas isso não tirará com certeza o mérito da sua obra, quer na criação do "Novo Jornalismo", com livros como "Exércitos da Noite" ou a polémica biografia que escreveu sobre Marylin Monroe, quer nos romances mais "tradicionais", de onde, pessoalmente, destaco "O Evangelho segundo o Filho", e o consagrado "Os nús e os mortos".

Quanto a mim, que gosto da sua escrita, deixo aqui esta singela homenagem, relembrando uma frase sua, inscrita precisamente no "Evangelho segundo o Filho", que usei como epígrafe para o meu terceiro romance "Mandrágora": "Pois o amor não é a vereda segura que nos conduzirá ao nosso fim, mas antes a recompensa que recebemos no termo da dura estrada que é a nossa vida e os dias da nossa vida".
Talvez seja verdade. Talvez. E se for, tê-lo-ás encontrado agora, Norman Mailer.

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02/11/2007

Corrupção

Não percebi. Na televisão, um anúncio avisa insistentemente que "Corrupção" vai estrear brevemente numa sala perto de si.

É impressão minha ou isso já estreou em Portugal há muitos anos? Estes homens das TVs deviam actualizar-se...

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Mais uma do Papa

Vejo na SIC Notícias uma reportagem sobre uma doença que até agora desconhecia, que é a Doença Celíaca, ou seja, uma incapacidade do organismo de tolerar o glúten, que, segundo percebi, está presente em quase todos os cereais.

Na reportagem, a doente entrevistada explicava os extremos cuidados que tinha que ter com a sua alimentação. Mas o que mais me chocou foi ouvir a mãe da doente a lembrar-se de alguns desafios que teve ao longo da educação da sua filha. E deu este exemplo inacreditável: quando quis que a filha fizesse a primeira comunhão, teve bastantes dificuldades já que a hóstia contem glúten e não havia forma de dar a volta à questão. É que o então cardeal Ratzinger (sim, esse mesmo que agora, infelizmente, é Papa)para evitar o enorme trabalho de se produzirem hóstias sem glúten, proibiu a comunhão para alcóolicos e indivíduos com doença celíaca.

A ser verdade, é, sem dúvida, uma atitude completamente de acordo com o que é a fé cristã. E será mais um grande exemplo da grande hipocrisia que existe em redor deste pseudo homem de Deus. E depois admiram-se que cada vez existam menos pessoas a ingressar na Igreja Católica. É caso para dizer, Perdoai-lhes que não sabem o que fazem...

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Guerra iminente

A administração de George W Bush garantiu que vai usar da diplomacia para resolver o problema que coloca Turquia e Iraque na iminência de confrontos militares.

Isso deixou-me verdadeiramente preocupado. Ou muito me engano ou vem aí outra guerra...

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01/11/2007

O escritor e o vizinho


Sou um homem com hábitos estranhos, muito diferentes do normal. Como sou freelancer na área da publicidade e comunicação e trabalho em casa, onde também passo bastante tempo à volta dos meus livros, tenho horários completamente trocados com os das outras pessoas.

Por isso, às vezes tenho a noção de que os meus vizinhos olham para mim um pouco de lado, até porque só estou no prédio onde moro agora há menos de um ano. Pergunto-me o que pensarão deste indivíduo que trabalha ou fica acordado a ver filmes até às tantas da madrugada, que sai à noite quando quer, seja durante a semana ou ao fim de semana, que muitos dias parece não fazer nada, que está sentado no café à hora que quer, que parece nunca andar a correr de um lado para o outro, que sai às vezes de casa às cinco da tarde acabado de tomar banho?

Hoje, curiosamente, um deles abordou-me no café do lado. Fala um português misturado com castelhano pois, apesar de estar em Portugal há muitos anos, nasceu na Andaluzia. "Desculpe incomodar-me, mas nós somos vizinhos. Disseram-me que é escritor. É verdade?"

Surpreendido, respondo que sim e sentamo-nos na mesma mesa a conversar. Delicio-me com as histórias que me conta, nitidamente amante da literatura. Falamos de Lorca, Ballester, Camilo José Cela e surpreendo-me por não conhecer o meu escritor espanhol preferido, António Muñoz Molina. "Já não estou em Espanha há muito tempo e os nossos países estão de costas voltadas em termos de cultura", lamenta.

Quando falamos de Fernando Pessoa, porque é incontornável, lembra-se que amigos seus lhe disseram que há uma grande febre sobre Pessoa na Espanha actual. Que é um dos escritores da moda. Ou seja, concluo eu, Portugal está de costas para Espanha e não vice-versa. E ganhávamos bastante se lessemos um pouco mais os autores que já referi neste post.

Era bom que Lorca, grande poeta e romancista, ficasse na moda em Portugal. Ou Ballester. Mas não. Cá só ficam na moda os grandes fenómenos do marketing, que são de mastigar e deitar fora, como os "Sei lá" ou os "Código DaVinci". Ou "O Perfume", o tal livro que é frequentemente citado como o preferido de toda a gente, embora quase ninguém o tenha realmente lido.

Mas lamentos à parte, fiquei contente com a conversa. Parece que, apesar de me acharem a pessoa mais estranha do mundo, os meus vizinhos comentam qualquer coisa de positivo a meu respeito. A não ser, claro, que, para eles, ser escritor seja ofensivo. O que, neste País, talvez não seja assim tão descabido.

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Uma língua para toda a Europa

Nas minhas pesquisas diárias pelo infinito universo da internet descubro a Interlíngua, que, segundo a Wikipedia, é uma "língua auxiliar internacional baseada na existência de um vasto vocabulário comum compartilhado por línguas de grande difusão mundial. Uma palavra é adotada em interlíngua desde que ela seja comum a pelo menos 3 das 4 línguas nacionais escolhidas como fonte: português/espanhol (tratados como um só), italiano, francês e inglês; alemão e russo podem vir a ser considerados."

Assim, esta linguagem artificial é entendida facilmente por qualquer falante dos referidos idiomas, o que me parece absolutamente espantoso. Obviamente que todos sabemos que as várias línguas têm, entre elas, raízes comuns, e influências mútuas, mas, ao olhar para esta invenção extraordinária, é incrível reparar como, na prática, as várias línguas, apesar das variações que foram sofrendo ao longo dos tempos, se tocam em tantos pontos.

Por exemplo, usando o exemplo na wikipedia, tente ler esta frase escrita em Interlingua: "Le 900 milliones de personas qui parla portugese, francese, espaniol, italiano, romaniano, etc. e mesmo le parlatores de anglese comprende un texto technic in interlingua sin studio previe. Illo tamben es relativemente intelligibile a eruditos parlatores de linguas germanic (germano, per exemplo) e slave (como le russo)."

Fácil, não é? Para mais informações sobre esta maravilha, visite este site. Apesar de estar escrito em interlingua, tenho a certeza de que perceberá tudo o que está lá.

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30/10/2007

O assassino de Salazar


Viagem a Lisboa para um café com amigos e uma ida à Livraria Bertrand do Chiado para a apresentação do romance de Joel Neto, "O assassino de Salazar", a convite da editora Casa das Letras.

Infelizmente atrasei-me um pouco e não cheguei na altura que queria e, por isso, consegui ouvir a conversa toda que Joel Neto teve com os presentes, entre os quais se contavam Fernando Dacosta, que muito aprecio e que tive a honra de conhecer por altura do lançamento do meu primeiro romance "A Rainha de Copas", em 1998, já que foi ele que procedeu à sua apresentação pública, e Adelino Gomes, entre outros. Mas, do que ouvi, parece-me ser um romance muito interessante, com raízes históricas, embora não histórico, como o próprio autor insistiu em afirmar, que narra uma época ainda muito desconhecida dos portugueses, a época do final da ditadura de Salazar.

Já tenho o livro e assim que terminar de ler "Jerusalém", de Gonçalo M. Tavares (brilhante até ao momento), irei degustá-lo e comentar.

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26/10/2007

Cientistas fizeram progresso

Segundo notícia do semanário Sol, cientistas em França fizeram uma descoberta importante na luta contra o vírus da SIDA, conseguindo descobrir uma forma de impedir a multiplicação do vírus dentro do organismo do infectado.

Uma notícia importante e moralizadora que pode ser lida aqui.

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25/10/2007

O momento mais importante


Excerto de uma das cenas mais impressionantes do guião de "V for Vendetta", um dos filmes mais geniais que vi até hoje e que revejo de vez em quando. É a cena em que V fala com Evey, após a sua brutal tortura (Quem não viu o filme, veja antes o trailer e vá alugá-lo depressa...)

Evey Hammond: You got to me? You did this to me? You cut my hair? You tortured me? You tortured me! Why?
V: You said you wanted to live without fear. I wish there'd been an easier way, but there wasn't.
[Evey whispers, "Oh my God...?]
V: I know you may never forgive me... but nor will you understand how hard it was for me to do what I did. Every day I saw in myself everything you see in me now. Every day I wanted to end it, but each time you refused to give in, I knew I couldn't.
Evey Hammond: You're *sick*! You're *evil*!
V: *You* could've ended it, Evey, you could've given in. But you didn't. Why?
Evey Hammond: Leave me alone! I *hate* you!
V: That's it! See, at first I thought it was hate, too. Hate was all I knew, it built my world, it imprisoned me, taught me how to eat, how to drink, how to breathe. I thought I'd die with all my hate in my veins. But then something happened. It happened to me... just as it happened to you.
(...)
[Evey continues sobbing]
V: They took your parents from you. They took your brother from you.
[Evey groans]
V: They put you in a cell and took everything they could take except your life. And you believed that was all there was, didn't you? The only thing you had left was your life, but it wasn't, was it?
[Evey sobs, "Oh please...?]
V: You found something else. In that cell you found something that mattered more to you than life. It was when they threatened to kill you unless you gave them what they wanted... you told them you'd rather die. You faced your death, Evey. You were calm. You were still.

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Steiner e os génios


George Steiner, em conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, teceu considerações sobre a Europa nos dias de hoje. Falou da incapacidade de gerarmos nos dias que correm génios como Bach, Mozzart ou Platão e afirmou que a Europa está a morrer, passando o papel intelectual para os outros países em vias de crescimento.

Obviamente que concordando com parte das suas teorias e não pondo em causa a genialidade deste afamado investigador, tão premiado e conceituado em todo o mundo, parece-me que a afirmação em causa é, no mínimo, infeliz. Primeiro, que eu saiba, Mozzart ou Bach não foram grandes génios da humanidade porque tenham sido ensinados a sê-lo. Não se ensina a genialidade, ensina-se apenas a técnica. E, quanto a isso, até tenho a certeza de que existem hoje métodos de ensino artísticos muito mais avançados do que na altura em que estes génios apareceram.

E, na verdade, também não me parece que exista uma real ausência desses génios artísticos nos dias que correm, até porque é impossível comparar épocas, quando hoje existem tantas novas formas artísticas que não existem há séculos atrás. Ou não se podem considerar génios personalidades como Andrew Lloyd Webber, Tim rice, Ennio Morricone, Bjork, Dulce Pontes, Luciano Pavarotti, Monserrat Caballet, Bono Vox, Ben Kingsley, Pedro Almodovar, Roberto Benigni, Milos Forman, Wim Wenders, John Cleese, Milan Kundera, Harold Bloom, José Saramago, Harold Pinter, Dario Fo, Italo Calvino, Camilo José Cela, Agostinho da Silva, Lyotard, Derrida, entre muitos outros?

Quando aparece um génio com a lucidez e a criatividade de um Bach, ele atinge esse patamar por mérito próprio e não por influência externa. Achar que é a influência cultural exterior que faz aparecer os inovadores e pioneiros, aqueles que rompem com o que já existe, é um contrasenso.

E obviamente que hoje é mais difícil criar teorias e harmonias completamente originais. Já muito foi criado e muitos são aqueles que tentam todos os dias fazê-lo. No tempo de Mozzart ou Bach, não era assim. Apesar da sua genialidade, eles eram privilegiados que, no meio de um povo doente e inculto, tinham a possibilidade de explanar as suas criações para gáudio de todos os poucos que se dispunham a ouvi-los.

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23/10/2007

Mandei-lhe uma carta...

A Teresa Salgueiro acaba de lançar um novo disco. Pelo que percebi do pouco que ouvi na televisão, trata-se de um trabalho interessantíssimo, onde pega em vários temas de autores da MPB, música ligeira portuguesa e outros estilos musicais, e interpreta-os à sua maneira.

Já gosto do trabalho e ainda só ouvi um pouquinho, como pano de fundo na reportagem: era a versão, muito bonita, do "Namoro", tema que conheço na voz de Sérgio Godinho, interpretando um maravilhoso poema de Viriato da Cruz...

"Mandei-lhe uma carta em papel perfumado,
e com letra bonita, eu disse
Ela tinha um sorriso luminoso, tão triste e gaiato,
Como um sol de Novembro, brincando de artista,
Nas acácias floridas, na fimbria do mar... la ra la ra..."

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21/10/2007

Comprar tempo


Gonçalo M. Tavares ganhou, no Brasil, perante a concorrência de outros grandes autores, entre os quais o meu muito estimado Mia Couto, o prémio literário da Portugal Telecom que, além do prestígio lhe dá também um bom conforto económico. O prémio é merecido pois, apesar da sua juventude enquanto escritor - só publica há seis anos e já tem cerca de vinte livros nas bancas -, é realmente notável e tem um estilo único. Confesso-me um admirador das suas crónicas, que no seu estilo rápido e certeiro são extremamente provocadoras, e consegue sempre surpreender nos seus livros, quer na colecção "O Bairro", quer nos livros negros. Confesso que ainda não li "Jerusalém", a sua obra mais famosa e que lhe tem dado acesso aos maiores prémios que já ganhou, como este no Brasil, o Prémio José Saramago ou o Prémio Ler/Millenium, mas está na lista das próximas aquisições.

Mas este post tem outra função além de dar os parabéns a Gonçalo M. Tavares. Numa entrevista dada ao Correio da Manhã, na reacção à vitória nesse galardão por terras brasileiras, o autor afirma que o prémio monetário de cerca de 37 mil euros é importante não por questões de luxo ou riqueza material, mas porque lhe "compra tempo" para poder recusar outros trabalhos e concentrar-se na escrita.

Percebo perfeitamente o que quer dizer. Sempre que há uma folga no orçamento também penso isso: que bom, posso agora ficar um pouco mais concentrado naquilo que mais gosto e menos nos trabalhos que se fazem apenas para poder pagar a renda e comprar o almoço.

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Frases bonitas

Num dos canais da TV por cabo vejo mais um anúncio que me deixa preocupado. O senhor do anúncio pergunta se, muitas vezes, não tenho vontade de dizer algo romântico, mas não sei como. Então propõe-me que envie uma sms para determinado número, que, por um pequeno custo, receberei a seguir uma frase romântica. E então, terei apenas que usar a minha imaginação e conquistar a minha amada.

Se calhar sou eu que sou antiquado e estou a ver mal as coisas, mas quando uma pessoa quer dizer algo romântico é porque tem, por princípio, um alvo em mente, a não ser que goste de dizer frases de "amor" para o ar. Então, não há melhor inspiração do que a pessoa em causa e, acredito eu que sou romântico, mesmo uma frase simples mas honesta em relação ao que se sente é muito mais significativa do que uma frase feita qualquer que nem sequer tem nada a ver com a pessoa em questão.

E... depois de receber a frase é só usar a imaginação? Porque não se usa antes? O que se passa afinal? Será que andamos tão mortos por dentro, tão cegos que até já precisamos de ajuda para dizer algo a quem gostamos? E, ainda por cima, frases feitas e horríveis, iguais para todas as pessoas?

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17/10/2007

A prosa de Hemingway


Apesar da tourada não ser uma temática que me interesse minimamente, leio "Fiesta", o segundo romance de Ernest Hemingway, autor de quem, além dos obrigatórios "Por quem os sinos dobram" e "O velho e o mar", ainda não tinha lido outro romance.

Gosto imenso da sua escrita, da extrema facilidade com as que os diálogos surgem, da fluidez das descrições, da não complicação do discurso. As personagens ganham vida porque se comportam como pessoas, porque aparecem no livro sem qualquer aparência plástica, mas sim como indivíduos com vícios, hábitos, tiques, características que os diferenciam uns dos outros, mas sem serem demasiado óbvias ou empurradas.

Admito que, às vezes, quando se escreve um romance, é difícil resistir à tentação de tentar criar personagens absolutamente únicas, com características tão diferentes das pessoas que nos rodeiam que se constituirá como uma personagem inesquecível. Mas, fora casos de enredos mais fantásticos ou mesmo com um cunho mitológico ou de extremo mistério, a verdade é que as personagens mais fantásticas são as que conseguem, sendo iguais a qualquer outro homem, têm a sua individualidade e a sua maneira única de ser. As outras, que têm características exageradas nessa ânsia de serem únicas, correm mesmo o risco de se tornarem ridículas.

Para mim, ler Hemingway não é apenas um prazer. É uma lição de como escrever, sem complicações, um bom livro e criar boas personagens.

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Com ou sem mãos

No meu zapping diário, vejo parte da Praça da Alegria, no Canal Um. Jorge Gabriel e Sónia Araújo entrevistam Paulo, um jovem que nasceu sem mãos nem pés, mas que é completamente independente, está a tirar um curso de treinador de futebol, sonha ser actor, tem uma namorada muito bonita e estudou em Coimbra (creio que não estou a dizer mentira nenhuma, pois escrevo de memória, mas o seu percurso é, com certeza, parecido com o que estou a contar).

Obviamente que qualquer pessoa se emocionará com este testemunho de coragem e força de vontade. Ninguém ficará indiferente a este exemplo e admirará o jovem, com uma lágrimazita no canto do olho, afinal, coitado, consegue ter uma vida normal apesar de tantas dificuldades. Eu, claro, não fugi à regra.

No entanto, o mais importante que se pode retirar deste caso é o que foi dito por uma das participantes no programa, de cujo nome não me lembro, mas que dizia que, apesar de não parecer, o Paulo acaba, no fundo, por ser um privilegiado. Porque apesar das óbvias deficiências a nível físico, tem uma característica rara nos dias que correm, que é um cérebro perfeito. Ou seja, uma mente forte, um cérebro que não se deixa abater, que raciocina com lógica e vigor, e essa é a maior arma que o ser humano pode ter.

Concordo perfeitamente com este testemunho e atrevo-me mesmo a dizer que, se o Paulo tem uma deficiência motora, a maior parte dos outros Homens tem uma deficiência a nível de coragem. Ao nível da moral, da confiança, da força de vontade e da lucidez. E essa é realmente a mais importante. De que vale ter mãos e pernas se não temos nada que fazer com elas, se nos fechamos em nós, se não sonhamos, se não tentamos fazer algo que faça diferença? Se nos limitamos a seguir o dia a dia e a ser inundados pelas modas e trends?

A verdade é essa e é inabalável: uma mente em boas condições, saudável, corajosa e com uma visão ampla do mundo permite que tudo o resto seja possível. Com ou sem mãos.

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15/10/2007

Mais uma vez...

Francisco Louçã, o eternamente revoltado líder do Bloco, disse, para variar e para surpresa geral, que tudo está mal. Falando em concreto no Orçamento de Estado para 2008, afirmou que era mais um desastre do Governo Socialista.

Agora a sério, e sem conversas para boi dormir: será que todos os Governos que estiveram até agora no poder tomaram apenas decisões erradas? Será que nunca houve uma única decisão certa?

Quando é que vai finalmente aparecer uma nova forma de fazer política onde deixe de existir tanta hipocrisia, tanto negativismo, tanta crítica só por ser crítica e comece a haver alguma coisa de construtiva? Quando é que este País vai produzir políticos a sério e não demagogos?

Será que não há ninguém farto de tudo isto?

Será que as novas gerações, no meio dos Morangos com Açúcar e do Wrestling vão ser capazes disso? O pior é que tenho medo que não...

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14/10/2007

A reportagem sobre os segredos da Maçonaria


Vi na TVI parte de uma grande reportagem sobre os "segredos da Maçonaria", feita com a conivência das diversas ordens maçónicas e com a visualização de imagens dos templos, dos trajes e dos rituais, tudo a bem da "proximidade da Maçonaria ao grande público".

Por um lado compreendo a vontade de que a grande maioria das pessoas, que mesmo ignorante sobre determinado assunto exprime a sua opinião, perceba que a Maçonaria não é nenhum papão, nem nenhum clube de homens maus. Que se trata sim, apesar de como qualquer outro grupo também ter elementos menos positivos, de um grupo privado de homens, que, em sessões rituais, convivem entre si e discutem assuntos do foro intelectual, cultural e espiritual, com o objectivo de tornar cada um dos seus membros um melhor ser humano e contribuir assim para um mundo melhor, com mais liberdade, igualdade e fraternidade.

Mas, por outro lado, não deixo de ficar extremamente preocupado com a reportagem e com o "abrir de portas" que é feito actualmente. Abrir as portas ao "segredo", escancarar o ritual e a tradição para qualquer um ver é, definitivamente, tirar valor ao ritual. Afinal de contas, qualquer ritual que é secreto, é-o não porque os elementos que o conhecem são especiais, mas porque o segredo (ou sagrado) deve ser buscado, deve ser conquistado, e não dado.

Mas compreendo que no mundo de hoje, onde todos achamos que temos direito simplesmente a ter, independentemente de lutar pelas coisas ou não, em que já ninguém busca por nada a não ser a imagem e o gozo fácil, seja complicado perceber o que é isso de "buscar um segredo". Abrir as portas tem duas consequências: o ganho de prestígio junto do grande público mas, ironicamente, a perca de valor do simbolismo. E não é esse simbolismo afinal o grande propósito da Maçonaria? É preciso cuidado para os excessos.

Se uma filosofia existe, ela vale por si, não pelo que os outros dizem. Quem quiser encontrar o segredo, que o busque. Quem quiser apenas falar só por falar, que fale das revistas cor de rosa e da Floribela.

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Não caso!


Com a apresentação do Orçamento de Estado de 2008 foram também apresentadas as alterações tributivas para o próximo ano. E foi com grande mágoa minha que vi que o Sr. Sócrates (de quem eu até gostava e defendia até agora) e os seus pares decidiram aumentar o IRS para os solteiros, continuando assim a beneficiar aqueles que constituem família em vez dos que preferem manter uma vida independente, quer seja porque ainda não tiveram a sorte de encontrar a cara metade, quer seja porque não sentem vontade de entrar para esse grande clube que é o das famílias portuguesas, com créditos imensos a pagar, dois filhos, almoços com sogros, passeios dos tristes ao domingo e cão para passear. Tudo a bem da ideia de que o País precisa de mais casais e que o Governo é que vai agora decidir o que é melhor para a vida privada de cada um.

Mas, como não sou pessoa de me calar e, por acaso, até me enquadro na segunda categoria referida antes, tenho apenas uma mensagem a deixar ao Sr. Sócrates, no caso de algum dos elementos do Governo ou do SIS andarem por aqui a bisbilhotar blogues que falem do seu nome:

Faça o que quiser, Sr. Sócrates, até me pode multar, mandar prender ou obrigar-me a fazer parte do Governo! Mas eu não me caso!

Tenho dito.

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11/10/2007

Jantar com fado

Jantar na “Adega do Avô”, no Cartaxo, com os amigos Florbela Silva, Ricardo Carriço, Maria Helena Torrado e Miguel Torrado. Entradas deliciosas e fartas, tantas que os secretos de porco preto quase ficaram para segundo plano.

Depois do repasto e de uma deliciosa conversa, a surpresa da noite, preparada pela Florbela. Para surpresa dos restantes (eu já fora avisado de antemão), entrou a Deolinda Bernardo, fadista que já gravou um CD com o Rão Kiao e que vai dar muito que falar nos próximos tempos e, acompanhada à viola pelo grande Zé Pires, deu origem a um espectáculo intimista e esplendoroso. Fados, mas não só. Também música de intervenção portuguesa, poemas de Ary dos Santos (grande amigo da Maria Helena Torrado), alguma MPB e, até, um inacreditável “Sunrise” que aqueceu todos os presentes, até os empregados e cozinheiras que, entretanto, já se haviam sentado connosco a ver o espectáculo, devidamente acompanhado com as luzes apagadas e velas acesas.

A voz da Deolinda Bernardo, ou Deo como assina o disco que irá sair daqui a poucas semanas, é um portento e ela própria é um furacão, um animal de palco como existem poucos, sempre a sentir a música, a interpretá-la não apenas com a voz potente, mas também com os gestos e as expressões. Atrevo-me mesmo a dizer que é uma das melhores intérpretes que já ouvi na minha vida. E a ver pelo ar emocionado dos restantes espectadores, não fui o único a achar isso.

Uma noite deliciosa que já tem data marcada para ser repetida.

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10/10/2007

Maddie

Isto tudo da Maddie já começa a irritar. Principalmente saber que, mesmo que se prove que os pais são os culpados, ainda vai tudo demorar muito tempo até ter um fim. Olho para o dossier Casa Pia e arrepio-me. Será que, caso aqueles pais sejam os monstros que parecem ser, ainda vão passar anos até pagarem a atrocidade do que fizeram?

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08/10/2007

Eterno Woody


Acabei de ver "Scoop", um dos últimos filmes de Woody Allen, desta vez rodado em Londres, e que conta com a minha adorada Scarlett Johanson e o Hugh Jackman, de quem também gosto muito. Não sendo uma obra prima, é um filme divertido que conta a história de uma estudante de jornalismo que recebe a informação de um jornalista famoso recém falecido sobre uma notícia que seria capa de qualquer jornal. Bem ao jeito das comédias do mestre, a estudante vai então, com a ajuda do seu recém amigo e inenarrável "mágico de circo" Splendinni (Woody Allen) tentar investigar o dito caso.

Não sei, digam o que disserem os críticos, que o Woody Allen já não é a mesma coisa, que está longe da forma de "Manhattan" ou de "Hanna e suas Irmãs", que está acabado, não quero saber. Hei-de sempre achar piada ao seu jeito atrapalhado, à forma como enrola as situações, ao humor cortante e subtil que está contido nas frases que derrama nos momentos de atrapalhação. Quase que diria que, quando vejo um filme dele, é por esses momentos que eu espero. O resto, o enredo logo se vê.

Um exemplo é outro filme dele, "A Maldição do Escorpião de Jade" que, não tendo a profundidade dos mais antigos, delicia-me completamente com o seu sentido de humor despretencioso e improvável.

No caso, em "Scoop", também gostei de ver a Scarlett… bom, mas isso não é novidade. Já agora, alguém tem o número de telemóvel dela?

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06/10/2007

De menina Cascais a Cascais Menino

Nova ida ao Casino, mas desta vez ao Estoril, para assistir à estreia da peça “De menina Cascais a Cascais Menino”, da autoria da Maria Helena Torrado e encenação do Ricardo Carriço. Muita gente conhecida no Casino e muitos amigos presentes, curiosamente amigos que são recentes mas com quem existe uma natural empatia.

Confesso que ia completamente a zero, sem expectativas, já que o Ricardo Carriço se tinha fartado de avisar que o Grupo de Teatro de Cascais, de que é encenador, é completamente amador e, conhecedor da realidade dos grupos amadores como sou (já tive alguns textos encenados dessa forma), sei que nem sempre é fácil, com as limitações existentes e mesmo apesar da dedicação dos intervenientes, conseguir um espectáculo à altura dos acontecimentos.

Por isso, a surpresa foi total. A peça, um retrato histórico de Cascais, baseada no livro de Pedro Falcão, “Cascais Menino”, conta a sua evolução desde a sua fundação até aos dias de hoje, falando dos momentos mais memoráveis, das personalidades da terra e das tradições que, infelizmente, se vão esquecendo, ajudando Cascais a tornar-se em algo bem diferente do que era. É uma obra bem conseguida, com mudanças de ritmo, interpretações notáveis (um aplauso especial para o João Quiais, para o Fábio Neves e para a Sara Inês), um guarda-roupas impressionante e coreografias e efeitos especiais que me surpreenderam e emocionaram. Um excelente trabalho que vale a pena ver, até ao final de Outubro, às sextas e sábados, no Casino do Estoril.

Depois da peça, o habitual jantar, num restaurante ali perto que, pelos vistos, fica aberto até às seis da manhã. Para mim, que nos dias normais vivo numa cidade onde quase tudo morre às oito da noite, tudo me pareceu um outro mundo. Ainda por cima rodeado de tanta gente simpática e boa conversadora.

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29/09/2007

Olhos perdidos no vazio


Sim, sim… joguei no Casino. Cinco euros, claro, que não sou maluco de perder fortunas. E essa pequenina perdi-a em dois minutos. Mesmo assim, comparativamente, acho que fui dos que se saiu melhor. Muito melhor do que aqueles indivíduos que vi junto da roleta e da mesa de Black Jack, os olhares perdidos no vazio, as mão nervosas a levarem o cigarro à boca. Os gestos secos de desânimo a cada número dito em voz alta. E as fichas, pilhas delas, centenas de euros a desaparecerem a cada minuto.

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Figueira

Adoro a Figueira da Foz. Além de ter um amplo espaço onde se pode passear em paz, é inundada de um ar sereno e juventude. Acho que, de todas as cidades junto do mar onde costumo ir, é a única que eu conheço onde não sinto um certo peso, talvez das lendas, das dores, dos presságios.

Apenas manias minhas, provavelmente.

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Um animador na Figueira

Casino da Figueira para assistir a um espectáculo de Guilherme Silva, cantor moçambicano, de onde também sou oriundo, que está no Brasil há alguns anos, a morar na zona de Fortaleza, com uma agenda de espectáculos impressionante. Conta-me que já chegou a fazer três espectáculos no mesmo dia e que, cada vez, tem mais solicitações.

Apesar de já o conhecer há alguns meses, ainda não tinha tido a oportunidade de o ver cantar. Mas hoje vejo-o, one man show, a surpreender o Casino. De início, o bar está relativamente vazio, de qualquer forma é cedo, o Porto acabou de vencer o Boavista, altura de se começar a sair de casa.

Com a sua voz rouca e polivalente, com a sua manha própria de descobrir exactamente qual a música indicada para cantar a seguir, começa a animar os presentes que, pouco a pouco, vão sendo cada vez mais. Para minha surpresa, de repente, o bar do Casino está cheio, com vários casais a aventurarem-se até a dançar.

Percebo nessa altura a razão do sucesso do Guilherme. Grandes vozes, como a dele, há muitas por aí. Felizmente que existem muitas pessoas abençoadas com esse dom. Mas o que ele tem é um carisma muito próprio, é um artista no verdadeiro sentido da palavra, um animador. Aliás, por alguma razão é que, chegando ao Brasil vindo de um país pobre e com poucas referências culturais como é Moçambique, conquistou estatuto rapidamente no norte brasileiro e gravou mesmo há pouco tempo um CD com letras de um magistrado de Brasilia e com a participação de alguns cantores de topo brasileiros, entre as quais a Elba Ramalho.

Brevemente vêm mais novidades. Inclusive um disco por cá com a participação de alguns nomes bem sonantes da nossa praça musical e literária… mas não posso revelar mais nada por agora, pois ainda está tudo no segredo dos deuses. Mas tenho a certeza de que vai arrasar.

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13/09/2007

Escritores policiais

Durante uma das minhas actividades preferidas, o Zapping, vejo que no programa da Júlia Pinheiro está António Albuquerque, mais conhecido por Dick Haskins, o maior escritor português de policiais, com quem já passei grandes momentos em cafés a conversar sobre a arte de escrever policiais.

Divertido, ouço as teorias que ele e outros dois autores, António Navarro e o outro que, confesso, agora não me lembro o nome, desbobinam sobre o caso "Maddie" e como escreveriam um livro sobre o caso, se tudo não passasse de ficção.

Realmente, é bom ver a mente criativa a funcionar, mesmo falando de um caso tão triste. E, realmente, lembro-me também de que há muito tempo que não estou um pouco com o Dick Haskins a ouvi-lo contar as suas histórias delirantes.

Nota mental: telefonar para ele e marcar um café.

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