04/03/2008

Gorilas vermelhos e verdes

Ontem a minha mãe fez anos e fui ver o Sporting - Benfica com ela. No intervalo daquele jogo de grande qualidade, ela mudou a televisão para um canal onde dava um documentário sobre gorilas, a forma como se afeiçoam aos humanos e as coisas que aprendem a fazer, como brincar, comer à mesa, dormir numa cama, tapados com um cobertor, etc.

Passados os dez minutos do intervalo, voltámos a mudar para o futebol. Confesso que, quando o apito final soou, continuava mais impressionado com o que vi dos gorilas.

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Coisas de que gosto (I)

nunca escrevi
sou
apenas um tradutor de silêncios.

a vida
tatuou-me nos olhos
janelas
em que me transcrevo e apago

sou
um soldado
que se apaixona
pelo inimigo que vai matar.

(Mia Couto)

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03/03/2008

Os Óscares e os filmes

Ainda não coloquei nenhum post a comentar os resultados da cerimónia de atribuição dos òscares deste ano, mas a razão é simples: antes de tecer qualquer comentário, quero assistir aos principais filmes que estiveram em contenda na cerimónia e, enquanto se espera que todos cheguem aos cinemas portugueses, só agora tive acesso aos DVDs com os mesmos.

O que mais curiosidade me levanta é, claro está, "Este País não é Para Velhos" (No Country To Old Men), dos irmãos Cohen, não só por ter sido o grande vencedor da noite, mas, principalmente, pela interpretação do "nuestro hermano" Javier Barden, o primeiro espanhol a ganhar um oscar da Academia.

O seu grande adversário, "There Will Be Blood" (Haverá Sangue) também me parece interessante, mas principalmente pela curiosidade em ver a muito gabada interpretação de Daniel Day Lewis, já que o tema não me atrai particularmente.

Curiosamente, um dos filmes a estrear brevemente nas nossas salas de cinema que mais tenho curiosidade em ver não participou na cerimónia dos Óscares. Trata-se de "The Other Boleyan Girl" (Duas Irmãs, Um Rei), uma trama histórica baseada no livro homónimo da escritora Philippa Gregory, autora de uma interessante série de livros sobre a temática das mulheres na corte inglesa do passado. O filme conta com a interpreação de duas das mais talentosas e belas actrizes da actualidade, Scarlett Johanson e Natalie Portman, além de Eric Bana, que passei a admirar depois de o ver encarnar o nobre Heitor, minha personagem preferida do clássico "A Íliada", no filme "Tróia".

Para já, dos mais premiados deste ano, vi o "Juno", que ganhou o Oscar de melhor Argumento Original. Gostei muito do filme, uma comédia despretenciosa, com um ritmo muito interessante e um tema urbano e actual. A grande piada do filme, ao contrário do que acontece nas comédias que costumamos ver, não está no disparate, nem em personagens idiotas. Está na inteligência dos diálogos e na possibilidade de tudo aquilo ser real bem aqui ao nosso lado. Está de parabéns a argumentista Diablo Cody, que se estreou no cinema com este filme, depois de ter trabalho como Stripper durante um ano.

Mas, atenção: grande interpretação de Ellen Page, no lugar de Juno, a personagem principal do filme, uma jovem que fica grávida aos 16 anos, dando origem a todo o enredo. Merecedora de Oscar de Melhor Actriz pela naturalidade e inteligência da interpretação, o que me deixa ainda mais curioso para ver a interpretação da vencedora, a francesa Coutillard, em "La Vie En Rose".

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Um raro Dali

Há noites em que me perco completamente no Youtube. Começo a ver um pequeno vídeo e, depois, saltando de tema em tema, reparo com espanto que as horas passaram rapidamente e que vi e ouvi grandes momentos históricos ou culturais, revisitei momentos inesquecíveis e revi cenas espantosas com uma facilidade que, até há poucos anos, era impensável.

Numa destas minhas maratonas descobri este vídeo onde Salvador Dali é o convidado de um popular concurso americano, "What's my line", apresentado pelo inesquecível John Daly, onde os concorrentes têm que, através das perguntas que fazem a um convidado surpresa, descobrir quem a sua identidade. No caso, o convidado surpresa era nada mais nada menos do que Salvador Dali!

Escusado será dizer que é imperdível ver este grande génio da humanidade participar num momento tão descontraído como um concurso de televisão, ainda por cima num contexto com alguma piada, já que ele praticamente responde que sim a tudo, demonstrando a sua vontade de ser o mais multifacetado possível. Um grande momento em redor de Dali, o génio do surrealismo e da pintura "hiper-realista metafísica", como ele próprio a definiu. O tal homem que, nas suas últimas palavras em público referiu que "um génio não deveria nunca morrer, pois tem nas suas mãos a missão de melhorar a humanidade".

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A sondagem sobre cinema

Acabou o tempo estabelecido para mais uma sondagem aqui no "Depois da Noite". Obrigado a todos os que participaram e responderam à pergunta "Acha que o cinema português algum dia conseguirá a adesão do público nacional?"

Trinta e seis por cento dos votantes é optimista e acredita que, um dia, o cinema português conseguirá um lugar de destaque e fará as pazes com o grande público, levando com regularidade um número de espectadores ao cinema que faça com que esta arte seja auto-sustentável e independente de subsídios.

Também acredito que sim. Mas, para isso, será necessário que o cinema português consiga um difícil equilíbrio entre a qualidade artística (que desde sempre foi a preocupação única dos cineastas portugueses, ainda que nem sempre de forma feliz), a capacidade de focar temas que interessem ao grande público (longe de temas autistas) e de uma forma que contenha também alguma dose de entretenimento.

Um bom argumento, com um enredo forte, uma mensagem interessante e diálogos e personagens inteligentes, é, claro, a base de tudo isto. A seguir, o que há a melhorar é a qualidade das interpretações de alguns actores, que ainda não atingiram o patamar ideal. Quanto à produção, apesar dos meios escassos que existem em Portugal, parece-me que o nível conseguido é, no geral, muito acima do que se podia esperar.

Existem obviamente bons exemplos de filmes bem conseguidos. O meu preferido é o "Jaime", de António Pedro Vasconcelos, uma história tocante, com boas interpretações, alguns diálogos notáveis e uma banda sonora excelente. Mas existem outros bons exemplos de filmes que me parece terem alcançado uma boa qualidade, como "Adão e Eva", "Alice", "Coisa Ruim" e "Tentação", entre outros.

Quanto ao resto da sondagem, o segundo resultado mais votado foi o humorístico "Gosto é do Rambo", mostrando que para muitos o cinema ainda é apenas uma forma de entretenimento puro. E obviamente que também não há mal nisso, desde que não seja essa a única forma de fazer cinema.

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