17/10/2007

Com ou sem mãos

No meu zapping diário, vejo parte da Praça da Alegria, no Canal Um. Jorge Gabriel e Sónia Araújo entrevistam Paulo, um jovem que nasceu sem mãos nem pés, mas que é completamente independente, está a tirar um curso de treinador de futebol, sonha ser actor, tem uma namorada muito bonita e estudou em Coimbra (creio que não estou a dizer mentira nenhuma, pois escrevo de memória, mas o seu percurso é, com certeza, parecido com o que estou a contar).

Obviamente que qualquer pessoa se emocionará com este testemunho de coragem e força de vontade. Ninguém ficará indiferente a este exemplo e admirará o jovem, com uma lágrimazita no canto do olho, afinal, coitado, consegue ter uma vida normal apesar de tantas dificuldades. Eu, claro, não fugi à regra.

No entanto, o mais importante que se pode retirar deste caso é o que foi dito por uma das participantes no programa, de cujo nome não me lembro, mas que dizia que, apesar de não parecer, o Paulo acaba, no fundo, por ser um privilegiado. Porque apesar das óbvias deficiências a nível físico, tem uma característica rara nos dias que correm, que é um cérebro perfeito. Ou seja, uma mente forte, um cérebro que não se deixa abater, que raciocina com lógica e vigor, e essa é a maior arma que o ser humano pode ter.

Concordo perfeitamente com este testemunho e atrevo-me mesmo a dizer que, se o Paulo tem uma deficiência motora, a maior parte dos outros Homens tem uma deficiência a nível de coragem. Ao nível da moral, da confiança, da força de vontade e da lucidez. E essa é realmente a mais importante. De que vale ter mãos e pernas se não temos nada que fazer com elas, se nos fechamos em nós, se não sonhamos, se não tentamos fazer algo que faça diferença? Se nos limitamos a seguir o dia a dia e a ser inundados pelas modas e trends?

A verdade é essa e é inabalável: uma mente em boas condições, saudável, corajosa e com uma visão ampla do mundo permite que tudo o resto seja possível. Com ou sem mãos.

4 comentários:

Rock In The Attic disse...

Admiro pessoas assim!

Mais importante do que aquilo que possuimos é o que fazemos com o que temos.

E o que eu mais vejo por aí, são elementos da espécie "animal racional", que não sabem o que fazer com os seus neurónios.

"Ir na onda" nunca foi a característica humana que mais apreciei.

A propósito, estou a gostar verdadeiramente deste blog.

Dunyazade disse...

Obrigada por me relembrares o essencial da vida humana: a coragem.

*********

kiduchinha disse...

Realmente Luís, tens toda a razão! A sociedade, e todos nós algumas vezes, catalogamos /rotulamos as pessoas... por terem isto, por não terem aquilo... chamam-se deficientes a quem tem um problema visual, de audição, motor, entre outros... eu chamo deficientes aos nossos governantes, a quem não dá valor aos outros, a quem é mesquinho, desumano, etc (esta lista é infindável, infelizmente). Este teu texto vem ao encontro do que coloquei também no meu blog. É importante divulgarmos e valorizarmos as pessoas fantásticas, corajosas e fortes que existem!
Beijocas

O Meu Confessionário da Alma disse...

Pouco há a acrescentar... Bom saber-te sensivel a estas coisas, a estes herois, e suas reais vivências.

Sempre fico boquiaberta, com este tipo de histórias e há tantas assim, são vidas de coragem subrehumana, de vontade de SER e VENCER. Fico triste comigo mesma por não ter esta garra, este espirito, este ânimo, pois tenho duas pernas, dois pés, duas mãos e por vezes até talento, mas pouco faço. A verdade é que nunca se pode ver estes seres como coitadinhos ou inferiores, pois têm algo a ensinar tão grandioso que nunca serão tão pouco coitados.
Lembro-me da história do menino de 13 anos de Africa que morreu com AIDS, e que graças ao seu existir, deixa uma fundação, deixa uma coisa que nós saudáveis esquecemos, lutar não homens contra homens, não matando e destruindo, mas lutando contra as crises da vida. Isto são mensagens, são lições, ensinamentos que de vez enquanto olhamos e admiramos, mas que depois se esvanecem no ar.
è nestas alturas que paro penso, e ,e dá aquele ódio em ser gente humana, raça estragada. Nós temos um inimigo enorme, a VIDA e lutamos uns contra os outros causando a essa VIDA a morte. E pessoas que por vezes poderiam ser menos capazes ou menos aptas conseguem chegar onde os outros aptos nem sequer sonham alcançar. Tenho uma admiração profunda por pessoas assim especiais desde o seu cerne.
Temos que pôr os olhos nas suas vidas e aprender.
Penso que sai do teu texto... mas já sabes que vagueio.

Beijocas.
ps: hummm não referiste o jogo Portugal, estás doente?

:P