A greve que os argumentistas estão a fazer nos Estados Unidos corre os noticiários do mundo, pois a mesma, que dura há mais de um mês, já afectou a rodagem de séries que são seguidas atentamente por milhões de pessoas pelo mundo fora. Ao contrário do que acontece cá, é hábito nos EUA reconhecer-se o talento e não a mediocridade. Por isso, os seus argumentistas são reconhecidos pelo público e bem pagos. Ou antes, são bem pagos em comparação com o resto do mundo, já que, ainda assim, os seus salários não chegam aos calcanhares dos valores milionários dos actores e realizadores. Basta lembrar que, por exemplo, Lindsay Lohan, uma jovem actriz de 20 anos, de talento mediano, recebe 7 milhões de dólares por cada filme que roda.
Normalmente não sou a favor de greves, que são, na maior parte do caso, meros exercícios políticos mascarados pelos sindicatos ou, então, justificações para dias sem trabalhar. Acredito que uma greve deve existir apenas quando se fundamenta na luta por direitos elementares. Acredito também que não há nada mais importante num filme ou numa série do que o seu argumento. A ideia que está por trás do enredo, os diálogos, a sequência dos acontecimentos, a riqueza das personagens, tudo isso é que cria a base para um bom filme. E como os argumentistas americanos apenas estão a lutar pelo direito óbvio de receber uma percentagem das vendas dos DVDs e dos downloads na internet das suas criações, parece-me justo.
E a prova de que é uma greve justa é que ela não termina até que os seus objectivos sejam alcançados. Nada parecido com a maioria das greves que normalmente se vêm por cá, que duram 2 ou 3 dias, apenas o tempo suficiente para um líder sindical mandar umas bocas ao governo.
É por isso que acho imensa piada ao risível apoio que os argumentistas portugueses resolveram dar aos americanos há coisa de 15 dias. O apoio consiste no apelo a que todos os argumentistas do nosso país deixem de escrever das 12 às 13 horas, já que, e segundo declarações do sindicato, “os direitos pelos quais os nossos colegas norte-americanos lutam neste momento, e muitos outros que eles já conquistaram no passado, são em Portugal ainda a matéria de que se fazem os sonhos”.
Ou seja, os nossos argumentistas vão apoiar a causa e lutar pelos seus direitos antecipando a hora do almoço. Parece-me bem. É para que esses produtores e canais de televisão aprendam que não se brinca com um argumentista português!
2 comentários:
Estou plenamente de acordo com o que dizes em relação às greves portuguesas (pelo menos a sua maioria). Será uma mera coincidência as greves portuguesas serem preferencialmente à sexta-feira ou vésperas de feriado?!
Pois é, duas horas de almoço nesta época vêm mesmo a calhar... por causa do tempo que falta para comprar as prendas de Natal... Mais uma coincidência, com certeza!!!
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