(III)
Ainda na continuação do tema anterior, vi recentemente o filme "Bobby", realizado por Emilio Estevez, filho mais velho de Martin Sheen. O filme é dedicado à figura de Robert Kennedy, irmão mais novo de JFK marcou muito todo o imaginário de Emilio Estevez.
Meteu por isso mãos à obra e terminou o argumento no início de Setembro de 2001. Mas, quando se preparava para iniciar contactos, deu-se o atentado ao World Trade Center. Então, resolveu guardar o filme para mais tarde, até porque seria demasiadamente sensível rodar naquela altura num filme sobre um homem que lutava pela igualdade racial, pelos direitos civís, pela paz entre os povos, pela liberdade, pelo combate à pobreza, e que, sendo candidato a presidente dos EUA, foi assassinado antes mesmo das eleições.
Mas o filme foi realizado e saiu há cerca de um ano. Como é óbvio, passou quase despercebido em Portugal. Primeiro porque não tem muitos tiros (só os que matam Robert Kennedy) e depois porque me parece que não existe a percepção de que aquele homem podia ter mudado radicalmente o mundo em que vivemos.
Quanto ao filme, creio que nunca vi tantas estrelas juntas num mesmo elenco, já que participaram grandes actores como Anthony Hopkins, Laurence Fishburn, Demi Moore, Martin Sheen, o próprio Emilio Estevez, Helen Hunt, Sharon Stone, Lindsay Lohan, Heather Graham, Ashton Kutcher, William Macy, Christian Slater e Elihaj Woods, no papel de pessoas reais que estiveram no Hotel Ambassador no dia em que aconteceu o assassinato. As cenas em que aparece Robert Kennedy são reais, já que é feita uma montagem muito inteligente dos seus discursos no meio dos personagens (pode ver o trailer aqui)
É um bom filme. Principalmente para quem tentar perceber o que significou aquela altura para o mundo:
- Com as suas manifestações pacíficas e discursos cheios de sentimento, Martin Luther King conseguia a igualdade de direitos entre as várias raças.
- A guerra do Vietname continuava e milhares de jovens americanos eram enviados para uma guerra sem sentido
- A guerra fria ia no seu auge e a guerra nuclear com a Crise de Cuba tinha sido evitada por um fio, muito graças também à participação de Robert Kennedy no processo de negociação, ainda enquanto Ministro da Justiça do seu irmão.
- A pobreza grassava fora das grandes cidades e as máfias controlavam os negócios, os sindicatos e os trabalhadores (quando Robert Kennedy foi Ministro da Justiça, as condenações a mafiosos subiram cerca de 800 por cento).
- As drogas invadiam a sociedade.
- Na Europa, o bloco de leste começava a dar sinais de fraqueza e começava a Primavera de Praga.
Era a altura de todas as esperanças que começaram a cair quando Luther King, após um discurso altamente profético, foi morto a tiro. Houve grande consternação nessa noite e quase todas as grandes cidades americanas sofreram grandes manifestações e revoltas. Menos Indianápolis, onde Robert Kennedy fez um discurso imperdível e emotivo a revelar a morte de Luther King e a apelar à calma, que vale a pena ouvir aqui.
Era esse o espírito que admiro. Era um homem que inspirava os outros, que juntava multidões de brancos, negros e mexicanos por todas as ruas onde passava, ansiosos simplesmente por vê-lo ou ouvi-lo, ou levá-lo literalmente às cavalitas pelas ruas, sempre sem segurança ou guarda-costas (mesmo depois do seu irmão JFK ter sido assassinado), porque acreditava que se tinha que dar às pessoas, às suas pessoas, como próprio dizia. Era um homem que falava de ideais e de justiça racial, que lutava publicamente contra as máfias e a pobreza, que desafiava o poder cara a cara, que era contra a Guerra do Vietname e a favor da paz entre as nações. Que até ajudou a acabar com o apartheid na África do Sul, com um discurso memorável numa das suas visitas. E, mesmo assim, ou antes, e por isso mesmo, foi assassinado antes de ser eleito presidente. O mundo seria completamente diferente hoje se isso não tivesse acontecido.
E volto por isso à questão anterior: será que hoje não há líderes a sério neste mundo? Será que já foram todos eliminados?
12/11/2007
Bobby
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 00:57
Etiquetas: robert Kennedy bobby emilio estevez marthin luther king assassinato
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2 comentários:
muito legal seu comentário sobre o filme BOBBY!
SOU ESTUDANTE DE CIÊNCIAS POLÍTICAS E GOSTEI MUITO DO SEUS COMENTÁRIOS SOBRE O FILME BOBBY!
OBRIGADA!!
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