21/12/2009

Britanny Murphy encontrada morta

Mau ano para Hollywood. Morreu a actriz Britanny Murphy, em circunstâncias misteriosas. A actriz foi encontrada morta na sua banheira, após uma chamada de emergência para os Bombeiros de LA.

Recordemo-la agora revendo a grande obra de Frank Miller e Robert Rodriguez, "Sin City". Um sugestão, apenas. De qualquer forma, poderemos vê-la no cinema outra vez em 2010, em três filmes diferentes que já tinha terminado de gravar, com destaque para "The Expendables" (supostamente traduzido no futuro como "Os Dispensáveis"), com Sylvester Stalone.

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Jesualdo vergonhoso

O Benfica ganhou com justiça, com titulares lesionados e suspensos e contra erros graves do árbitro, como aquele penalty escandaloso do traidor Cristian Rodriguez e, depois, uma agressão selvagem ao Xavi Garcia.

O Porto perdeu, mas não deixa de ser uma boa equipa por isso, que ainda vai lutar pelo título. Agora Jesualdo Ferreira provou, com as suas declarações, que pode ter ganho títulos ao serviço do seu clube, mas não tem estofo de campeão nem um pingo de classe.

Perante o que se passou na Luz hoje, o que mais é necessário para um treinador admitir que a outra equipa foi simplesmente melhor? Será assim tão difícil ter, uma vez na vida, um pingo de honestidade e fazer do futebol um desporto, como devia ser?

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18/12/2009

Avatar: obra prima entre os blockbusters (Post longo)

Assisti à estreia nacional do novo filme de James Cameron, “Avatar”. E a verdade é que o filme, que custou oficialmente 230 milhões de dólares, e não oficialmente perto de meio bilião, é uma obra prima dentro do seu género.

Obviamente que, sendo um blockbuster cheio de acção, explosões e efeitos especiais, contém momentos previsíveis e clichés, mas que não poderiam faltar para que fosse bom dentro do género. Também há, na sequência do enredo, algo que não é totalmente original, podendo mesmo ser comparado em alguns elementos a “O Último Samurai” ou “Danças com Lobos”, embora com uma roupagem e cenários completamente diferente. Mas quanto ao resto, bem, quanto ao resto, tudo é genial.

James Cameron queria fazer este filme há quinze anos, mas só agora conseguiu a tecnologia necessária para o tornar realidade. E em boa hora isso foi possível, pois “Avatar” é um banquete para os sentidos. As cores, as paisagens, as criaturas, os efeitos, o som, a animação gerada por computador (CGI), as sequências de combate, tudo isto e muito mais será o suficiente para deixar qualquer um de boca aberta, ainda mais se visualizado com os devidos óculos 3D.

O filme conta a história da colonização de uma lua chamada “Pandora” (qualquer ligação com o mito da Caixa de Pandora não é coincidência, com a esperança a ser a única coisa que ainda resta) pelos humanos, cento e cinquenta anos no futuro. Nesta lua existe um precioso metal que os humanos tentam explorar a todo o custo, não se importando, para isso, de colocar em risco o riquíssimo habitat natural e o povo indígena do planeta. Para se integrarem na sociedade indígena, criam os “Avatares”. Um pouco à semelhança de outro filme que saiu este ano, “Os Substitutos”, com Bruce Willis, os Avatares são criaturas controladas à distância pelos cérebros humanos, mas que misturam o DNA do seu condutor com o dos indígenas, permitindo assim a sua aceitação na sociedade de Pandora.

E é precisamente a sociedade de Pandora, com toda a sua sabedoria ancestral e ligação dos Na’vi (assim se chamam os habitantes) à natureza, as cores ricas e maravilhas naturais que se encontram nos cenários, que colocam o primeiro espanto na boca dos espectadores.

Tentando não revelar o enredo, passo imediatamente para as considerações seguintes. O elenco não é particularmente conceituado, com as respeitosas excepções de Sigourney Weaver, que mais uma vez se associa a Cameron para interagir com extra-terrestres, e de Michelle Rodriguez, esta num papel mais secundário, mas é sólido. E, de qualquer forma, com todos os efeitos especiais e com a animação computorizada em redor dos Na’vi e dos Avatares, tecnologia que alcança um nível nunca antes alcançado, principalmente ao nível do movimento e das expressões faciais, o elenco não era de todo o mais importante.

Aliás, como piada, lembrei-me, durante o filme, de um episódio da série “Entourage” (com o título muito mal escolhido “A Vedeta”, em Portugal), onde James Cameron entra, interpretando-se a si próprio. Nesse episódio, o personagem Ari Gold brinca com o facto de Cameron ser um adepto das novas tecnologias, dizendo que qualquer dia o cinema nem vai precisar de actores. Responde Cameron, com um ar sério, que daqui a cinco anos, isso tornar-se-á realidade. A ver por “Avatar”, ele não estava a brincar.

Bom ano para Sam Worthington, no papel principal representado um marine paraplégico que assume o comando de um dos Avatares e se integra na sociedade Na’vi, que, sem mostrar o carisma necessário para o papel, consegue ainda assim destaque em dois dos blockbusters do ano, depois de ter participado também em “Terminator: Salvation”, ao lado de Christian Bale.

Mas, mais do que tudo, para quem quiser ver este filme além do espectáculo de cor e fantasia, “Avatar” fala-nos de consciência ecológica. Mas não se trata da normal propaganda sobre o meio ambiente que tantas vezes ouvimos, não são os simples apelos para não tratar mal os animais, fechar a torneira ou não incendiar as florestas, nem emails que se reencaminham cheios de imagens chocantes e que são esquecidos em seguida. “Avatar” fala-nos de algo muito superior a tudo isso, fala-nos da necessidade da humanidade entender a forma complexa como ela própria faz parte da natureza de uma forma muito mais espiritual do que entende, da forma divina como estamos interligados a tudo o que existe e que, por isso, salvar o ambiente deixa de ser um acto de caridade ou bondade, para passar a ser inclusive um acto lógico de sobrevivência e auto-preservação.

Fala do entendimento que é necessário ter para com cada um de nós para que o que está em redor também evolua. “Eu vejo-te”, dizem os Na’vi, sendo esta uma expressão de iluminação do seu povo. Sim, porque na maior parte dos casos nós, humanos, andamos pela rua sem vermos realmente ninguém.

Os humanos, enquanto colonizadores gananciosos, enquanto empresários cegos em busca do minério, sacrificando vidas e a natureza, ficam mal vistos neste filme de Cameron, que acaba por retratar o que também se passa no nosso próprio planeta. Mas, se é a raça humana em geral, com a sua ganância e frieza, a grande vilã do filme, Cameron não deixa também de fazer um pouco de política e criticar as invasões por questões económicas, como a do Iraque, ou as chacinas da Amazónia.

Resumindo, “Avatar” é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano e vem mudar muito do que se faz em cinema no que diz respeito à animação gerada por computador e ao 3D. Mas, acima de tudo, é uma experiência fabulosa para os sentidos que ninguém deve perder.

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11/12/2009

Larry David no seu melhor

Uma delícia absoluta o último episódio da sétima temporada de "Curb Your Enthusiasm". Larry David, criador e argumentista da maior parte dos episódios da sitcom de maior êxito da história da televisão, "Seinfeld", aparece no seu melhor, com todo o elenco de Seinfeld (Jerry, Jason Alexander (George Constanza), Julia Louis-Dryfus (Elaine Benis), Michael Richards (Cosmo Kramer) e os outros que fazem de Newman, Benia, etc, a interpretarem-se a si próprios enquanto actores) a simular a gravação de um suposto episódio de reunião do grupo.

Enquanto isso, Larry tenta reconquistar a ex-mulher.

Para isso, Larry David cria um enredo complicado onde George tenta reconquistar a sua ex-mulher, fazendo a personagem da série viver o mesmo que ele próprio está a viver. E, claro, convida a sua ex-mulher na realidade para fazer o papel de ex-mulher de George na série.

Toda a série é brilhante, mas este episódio é de antologia.

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10/12/2009

O Magalhães e os sites porno

O DN deu a notícia que afinal existem problemas de segurança nos "Magalhães". Parece que existe uma página oficial do computador que ensina a desbloquear os conteúdos proíbidos e as crianças podem, facilmente, navegar pelos sites pornográficos ou por onde quiserem. Importante informação, sem dúvida, e as medidas a serem tomadas são urgentes.

Mas, para termos todos certeza de que é verdade, o DN coloca na notícia o link para a tal página.

Assim não há como os putos se enganarem. Os que ainda não sabiam como, podem agora facilmente seguir o link proporcionado pelo jornal e aprender a desbloquear os sistemas de controle parental.

Agora, OK, a notícia fica mais completa assim. Mas não dá vontade de rir que a emenda seja pior do que o problema?

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09/12/2009

Pequena entrevista a Bruno Simões

Uma das alegrias que tive nos últimos anos foi a hipótese de conhecer e trabalhar com o Bruno Simões, um excelente artista 3D que tem estado a trabalhar, em Londres, nos efeitos especiais de vários dos filmes que todos vemos no cinema, entre os quais os últimos da saga do Harry Potter e Crónicas de Narnia.

Temos vários projectos em comum, entre eles uma média-metragem de animação chamada "Abril", que já está num estado de projecto muito avançado e com alguns nomes de peso confirmados no elenco, e outro que, apesar de ainda não poder revelar, me encherá de orgulho daqui a alguns meses.

De qualquer forma, serve esta pequena introdução para explicar que lhe fiz uma pequenina entrevista para um jornal com o qual colaboro, entrevista essa que passo a transcrever.

O cinema é uma paixão de sempre? E dentro do cinema, quando e como te envolveste com a área da animação?
Sim, sempre gostei muito de cinema, mas foi só já depois de miúdo que comecei a pensar nele como uma área onde poderia vir a trabalhar. O facto de o cinema em Portugal ser uma indústria tão pequena faz com que seja visto como uma opção de carreira algo irrealista e demasiado sonhadora. O meu contacto com a animação ocorreu durante a universidade na ESAD das Caldas da Rainha, onde me licenciei em Design Multimédia.

Como iniciaste o teu percurso profissional em Londres?
O contacto com a animação aguçou-me o apetite e fez com que decidisse aprofundar os estudos, o que me levou até a Barcelona para fazer um mestrado em Cinema de Animação. Acabado este mestrado, resolvi mudar-me para Londres, já que é lá que se encontra a maior indústria de animação e efeitos visuais da Europa.

Trabalhas como artista 3D nos filmes da saga do Harry Potter. Como te sentes quando vês o sucesso mundial desses filmes? E como é trabalhar num projecto tão grande?
Comecei a trabalhar na saga do Harry Potter já no quinto filme, por isso o seu sucesso já não era surpresa nenhuma. Confesso que não era um fã, mas depois de trabalhar nos filmes percebi o culto e a importância que estes filmes têm para toda uma geração que cresceu com os livros e os filmes, e passei a admirá-los de uma forma diferente. Quanto a trabalhar num projecto tão grande, e devido a ter tido a sorte de começar logo por aqui, e de já ter trabalhado em 4 filmes da saga, a verdade é que ainda não sei como é trabalhar num projecto mais pequeno!

Tens em desenvolvimento um projecto em Portugal chamado "Abril". Em que consiste e em que fase está?
"Abril" é um projecto para uma curta-metragem de animação passada em Lisboa nos dias que antecedem a revolução de 1974, e que conta a história de um pequeno rapaz chamado João, que se viu obrigado a ficar sozinho durante os últimos dias da revolução. Neste momento, o projecto encontra-se em fase de pré-produção, conceitos de arte e testes de animação, e passará brevemente à fase de busca de financiamento.

O que pensas do cinema português?
Não conheço o cinema português tão bem como gostaria, daí ser-me difícil falar, mas para uma indústria tão pequena, é bom ver as excepções pontuais de elevada qualidade que vão surgindo pontualmente.

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Umberto Eco e o Google

Numa entrevista ao Der Spiegel (aqui traduzida para português), Umberto Eco afirmou, no meio de uma sequência lógica de pensamentos, perguntas e respostas, que o Google era a tragédia dos jovens, frase imediatamente utilizada para título da entrevista. Obviamente que numa primeira vista e fora de contexto, a frase parece estranha e motivou logo grande movimentação em blogues e nos fórums dos órgãos de comunicação social.

Curiosamente, não me parece que haja sequer motivo de polémica. Afinal, se é verdade que a internet (não o Google, porque não é o único motor que existe) permite um acesso rápido e fácil a uma quantidade quase infinita de informação, também é verdade que é difícil saber qual dessa informação é verdadeira ou não. É isso que é preciso ter em atenção.

Por isso, o alerta de Eco faz todo o sentido e que já tinha defendido em algumas conversas com amigos. Uma das preocupações futuras que os sistemas de educação devem ter é ensinar o estudante a discernir entre o que é verdade ou mentira, entre o que é informação válida ou criação. Afinal, cada vez mais o importante não é deter toda a informação dentro do cérebro, mas sim saber como, rapidamente, obter o que é necessário para cada ocasião.

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Os Substitutos - Opinião sobre o filme

Apesar de muitas vezes explorado, o tema de “Os Substitutos” apresenta-se como cada vez mais actual e necessário na sociedade contemporânea. Desde o “1984” de Orwel até ao “Matrix” dos Irmãos Wachowski, passando por “Equilibrium” (fabuloso e pouco conhecido filme com Cristian Bale, Dominic Purcel e Sean Bean), o tema do re-despertar de uma sociedade adormecida e robótica em direcção ao regresso à humanidade tem sido uma constante nas obras de ficção científica.

Talvez porque os autores percebem como estamos cada vez mais dependentes da tecnologia, como cada vez mais nos esquecemos das nossas verdadeiras origens, nos colocamos mais longe dos sentimentos e desligamos da verdadeira ligação com os outros, entrando numa espiral de narcisismo e busca exagerada de status e conforto. Essa tendência, com o passar do tempo e o progresso das tecnologias, poderá tornar-se no mundo tenebroso que todas as estas obras retratam, onde o ser humano passará a ser completamente robotizado e sem qualquer capacidade de humanização.

No caso, “Surrogates” acrescenta uma outra dimensão ao problema e trata-o de uma forma original. Com a criação de versões robóticas de cada um de nós, possibilitando a cada um desfrutar a vida, indirectamente, através do conforto e segurança da sua casa, deitados com electrodos ligados à cabeça, acrescenta-se o tema da vaidade extrema e do narcisismo, pois todos os novos “robots” pessoais são fisicamente perfeitos, fortes, sem defeitos de espécie alguma, transformando a sociedade numa grande mansão da Barbie. Ou, se quisermos ir ainda mais longe, trazendo para uma realidade mais próxima e destorcida na sua intenção fenómenos como o jogo online “Second Life”, onde cada jogador desenvolve uma personagem virtual onde poderá fazer tudo o que quiser e ser aquilo com que sempre sonhou, vivendo numa sociedade constituída por outros jogadores de todas as partes do mundo, com uma economia própria, dinheiro real, eventos, etc.

Bruce Willis - que, apesar de não atingir o brilhantismo de outros filmes, tem um bom desempenho - é um agente da FBI que, ao investigar o assassinato do filho do criador de todo o novo sistema de Robots, começa a perceber como a humanidade está agora diferente. A partir dessa investigação, uma série de eventos, traições e revoluções vão acontecer, até que, no final, se decidirá o que é melhor: a perfeição de uma vida cheia de mentiras, frieza e máscaras, ou a imperfeição de sermos humanos e sentirmos cada pequena coisa à nossa volta.

De resto, destaque positivo para os efeitos especiais e para a excelente caracterização dos personagens, bem como à expressividade dos vários actores que representam os robots, aparentemente felizes mas completamente sem vida.

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28/10/2009

Vasco Graça Moura

Ainda sobre "Caim", excelente e esclarecedor post de Vasco Graça Moura no DN de hoje. Aconselho a leitura aqui.

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25/10/2009

Saramago, Caim e os pecados de Deus

Ainda não li o novo romance de Saramago e confesso que não planeio lê-lo. Mas por nenhuma razão em especial, nada tenho contra o tema e jamais iria intrometer-me na liberdade criativa de um autor. Não o lerei apenas porque o tema não me interessa no momento e já conheço o que queria sobre a história de Abel e Caim.

É precisamente por conhecer o referido episódio, bem como muitos outros contidos nos primeiros livros do Antigo Testamento da Bíblia, que eu não compreendo onde está toda a polémica com o romance. E, baseando-me não no romance, mas nas declarações públicas do autor, só realmente quem não tiver lido, por exemplo, o Génesis, é que poderá não perceber o que Saramago quer dizer quando defende que o Deus representado no Antigo Testamento não é de fiar, é cruel e malicioso. Concordo perfeitamente. Aliás, por diversas vezes já discuti isso com amigos e já foquei o assunto em algumas crónicas no passado, como por exemplo num pequeno texto sobre o sacríficio de Isaac, neste mesmo blogue.

Com ou sem polémica em redor, provavelmente criada propositadamente para efeitos de marketing, pois a verdade é que as vendas desse livro e da Bíblia dispararam (assim como irá acontecer com muitos outros que irão surgir nos próximos dias sobre o tema), “Caim” é apenas um romance. E sendo escrito por Saramago, é provavelmente um grande romance. Mas, se o interesse do leitor agora, depois desta polémica toda, for perceber melhor a história destes dois filhos de Adão e conhecer a figura do Deus retratado no Antigo Testamento, não leia Saramago. Vá antes ler a Bíblia. E aí, sem a polémica à volta da falta de fé e sem as declarações algo excessivas de Saramago, certamente que até chegará às mesmas conclusões que ele chegou.

O problema é que a religião é vista como uma vaca sagrada, onde não se pode tocar nem da qual se pode falar. E, se alguém tem uma opinião diferente da instituída, independentemente de ser verdadeira ou não, é um blasfemo. Interessará às instituições religiosas, certamente, que os fiéis não questionem nem investiguem por si próprios as fundações das mesmas. Pois aí, certamente, muita coisa ruiria. As Igrejas terão muita coisa para explicar quando os fiéis começarem a perceber como apenas algumas coisas no Livro Sagrado são seguidas, como muitas são ignoradas, como muitas são aberrantes, e como são interessantes algumas interpretações das suas palavras.

Na verdade, até ao início do Novo Testamento, onde aparece o redentor Jesus Cristo, que vem mudar todo o sentido da Bíblia, humanizando o Criador, trazendo a imagem de fraternidade, justiça, caridade, compaixão e misericórdia, que todos conhecemos, Deus é realmente mostrado como um ser caprichoso, cruel e ardiloso. Claro que os tempos eram outros e é necessário contextualizar a própria escrita dos vários livros bíblicos. Isso é evidente.

Mas ainda assim, o que dizer de um Deus que ordena a Abraão que sacrifice e mate o seu próprio filho (como está escrito no Génesis 22:1-18)? Que recompensa o mesmo Abraão por prostituir a sua mulher Sarah ao Faraó em troca de riquezas e terras (Gn 12:10-20)? Que considera justo e salva de Sodoma o cínico Loth, que, só para não ser chamado de mau hospitaleiro, oferece a virgindade das suas duas filhas para que um grupo de homens faça delas o que quiser (Gn 19:4-8)? O mesmo Loth que, em momentos de aberrante incesto, embriagado, permitirá que as filhas se deitem com ele e as engravidará (Gn 19:30-36)? Ou do seu familiar Jaco, que dará origem a uma inteira geração de servos de Deus, que só aceita alimentar o seu irmão, morto de fome, se este lhe conceder os direitos de filho mais velho (Gn 25:29-34)?

Ou o que dizer de um Deus que propositadamente provoca o desentendimento entre os homens, só para que não consigam construir a Torre de Babel, com medo do que o Homem pode realizar se se unir? E diz isto, textualmente: "Eis que os homens são um só povo e falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os seus empreendimentos. Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de forma a que já não se compreendam um ao outro." (Gn 11:6-7)

Isto e muito mais está no Génesis, que é o primeiro livro do Antigo Testamento. Já para não falar das duríssimas leis de Moisés que aparecerão noutros livros, do desprezo pelas mulheres, das injustiças, das guerras, do incentivo à vingança com o famoso “olho por olho, dente por dente”. Ou da pavorosa história de Job, descrito pelo próprio Senhor como o mais “justo e bom homem à face da terra”, que vê a sua vida destruída pelo Criador, perdendo mulher, filhos, colheitas, animais e saúde, só para satisfação de uma aposta entre Deus e o Diabo.

Por tudo isto, repito que só uma muito baixa tolerância à diferença de opinião, a ignorância sobre o assunto e o fanatismo religioso podem levar a que se censure um romance como este de Saramago. É verdade que ele tem uma postura arrogante e algo intratável no que toca à religião, e que se excedeu em algumas afirmações e expressões. Mas a livre expressão é um direito alcançado por um País que, está visto, não o sabe honrar. Só um ignorante pode querer calar a voz de um escritor, seja ele quem for, por questões de cegueira religiosa ou política. E muito menos quando esse escritor é dos poucos motivos de orgulho que este País cada vez mais cego, fútil e decadente teve nas últimas décadas.

Quanto ao eurodeputado do PSD que sugeriu a Saramago que renunciasse a ser português, só espero que fique lá por Bruxelas por muito tempo. E, de preferência, não como eurodeputado porque me envergonha profundamente que represente Portugal de qualquer forma que seja.

É que todas estas reacções são o regressar ao mau antigamente. À tentativa de censura da liberdade contra a qual tantas pessoas lutaram durante anos. Deviamos antes ser mais evoluídos e tentar seguir o exemplo de Voltaire quando disse: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de dizê-lo”.

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22/10/2009

Uma poça de água

Com a chuva, aparecem no chão as primeiras poças de água do ano. Ontem, ao deparar-me com uma particularmente grande, pensei, aborrecido, que não tinha outra forma de passar a rua senão molhando os pés. Fi-lo contrariado, maldizendo a minha sorte.

E foi então que percebi como a idade nos transforma, nem sempre da melhor maneira.

Há vinte e poucos anos atrás, se me deparasse com uma poça daquele tamanho, não ficaria aborrecido nem incomodado. Em vez disso, olharia para ela, veria nas suas águas paradas o reflexo das casas, das árvores e do céu escuro, e ela deixaria de ser apenas uma poça para se transformar num violento oceano ou num lago tenebroso cheio de mistérios por desvendar. E eu já não seria apenas um menino a tentar passar para o outro lado da rua; seria antes um valente aventureiro que se prepara para enfrentar todo aquele mar. E, quando finalmente passasse para o outro lado, não estaria incomodado com as meias e os sapatos molhados.

Sentiria sim um orgulho enorme, uma sensação de dever cumprido. Provavelmente parecido com o que sentiu Gil Eanes ao dobrar o Bojador. Ou Cabral quando descobriu o Brasil.

Mas, agora, com tanto aborrecimento por algo tão simples e pensamentos tão adultos e responsáveis, já não sou nenhum intrépido navegador.

Agora sou apenas um velho do Restelo.

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21/09/2009

O único amor (post muito longo)

Parece-me que é importante, cada vez mais, que cada um de nós entenda dentro de si que existe apenas um amor na vida, que é o amor próprio. Nenhum outro amor pode existir sem este, nenhum outro amor é mais senão a extensão do mesmo. Porque só aquele que, amando-se como é e o que é, poderá ter dentro de si a generosidade de dar daquilo que ama a quem quiser, seja a um parceiro ou à humanidade. Porque aquele que, na verdade, não tem amor próprio, quando dá, dá aquilo que é de si, um imenso vazio, uma necessidade, uma busca, uma tristeza, uma incompletude, nunca uma luz.
Porque amar é sem dúvida mais um acto de dar do que de receber. É um acto de dádiva e não de recompensa. Por isso, há primeiro que procurar a paz interior, o orgulho no acto de ser, de respirar, antes de procurar o outro ou os outros que possam completar a nossa existência.


Poderá parecer, numa primeira vista, um discurso egoísta e individualista. Mas a verdade é o oposto. Em vez de falhar em tentativas frequentes de procurar nos outros a solução para as nossas falhas e para as nossas ausências, o indivíduo que assim proceder estará, talvez numa primeira fase, a abster-se sim de partilhar, mas, quando finalmente o fizer, será com mais substância e grandiosidade. E sem medos, angústias ou falhas.

Deveria então toda a educação deste mundo - todos os sistemas educativos - ser focada na ideia de incentivar e moralizar as crianças. Incentivá-los a aprender que podem ser criadores e amar tudo o que sai de qualquer gesto seu, mesmo que incompleto ou inconsequente. Incentivá-los a interpretar pelas suas palavras e lógicas os textos, a deixar voar livre o pensamento e imaginação, a procurar a diferença em vez de a temer.

É verdade que existem valores fundamentais. Valores que não podem nem devem ser mudados. Do bem e do mal. O respeito pela vida humana, pelo esforço alheio, o não preconceito. Entre outros. E é, claro, verdade que esses valores devem ser ensinados. Mas, com certeza que, se a educação for feita no sentido da autovalorização e da alegria, eles serão naturalmente integrados sem esforço, como extensões naturais desse acto de criação livre que não tem lugar para invejas ou medos.

E então dever-se-á lutar por uma meta na sociedade: a igualdade de oportunidades. Apenas isso. Que cada ser humano, que cada cidadão use de todas as suas forças para que cada um dos indivíduos que apareçam neste mundo tenha as mesmas oportunidades do que os outros, independentemente da sua origem, da sua cor ou da sua religião. Mas apenas a igualdade de oportunidades deverá ser igual. A partir daí, cada um deverá escolher o seu caminho, sem morais de espécie alguma, pois cabe a ele e ao seu livre arbítrio, ao seu amor próprio, no fundo a grande ordem que o Criador – seja ele quem for, Deus ou a genética humana – preparou e ofereceu a cada um de nós. Pois é verdade que, como já foi dito, se a lógica da vida fosse sermos todos iguais, não teria o Criador feito tantos diferentes e absolutamente únicos indivíduos, mas teria antes juntado todos num só corpo.

Então, a seguir às oportunidades e à liberdade chega sim a hora de escolher. Cada um por si. Cada um com o seu ego, os seus anseios, as suas expectativas. Porque cada um realizar-se-á à sua maneira e apenas o próprio indivíduo saberá qual o caminho que quer percorrer. Poderá fazer escolhas erradas, sem dúvida. Auto-destrutivas, até. Mas será uma escolha sua. Do seu amor próprio, o tal que é o único que verdadeiramente existe, e a cada um dos outros cabe apenas a tarefa de respeitar e, quanto muito, conversar sobre o assunto pois das ideias partilhadas também podem nascer novos caminhos.

E esse combate, o das escolhas, aquele que leva cada um a ser único e absolutamente inimitável, esse combate do individuo contra o seu ego, deve ser um combate absolutamente solitário. Porque é tarefa de cada um dos Homens travar o seu e apenas o seu, e não deixar que esse mesmo combate cresça para além desse universo interior e afecte negativamente os outros indivíduos e a sua liberdade, nem que imponha regras ou faça exigências.

Mas é isso que acontece tantas vezes, principalmente nas relações humanas, nas relações de amor entre os indivíduos, o que me leva ao início desta conversa. É o que acontece na esmagadora maioria das relações, o confronto entre um ego e o outro, as necessidades de um ego ferido reflectidas, projectadas no outro indivíduo, como um soldados que, ferido, toca a trombeta a pedir ajuda.

E não cabe de facto ao outro ajudar nesse combate. Pois o outro tem, ele próprio, um combate semelhante à sua espera: o de se realizar. O de, no meio dessa confusão de sentimentos e hipóteses – pois é essa a maldição do Homem, o de ter infinitas hipóteses e caminhos e apenas poder seguir um de cada vez -, encontrar o absoluto equilíbrio, ou pelo menos alguma estabilidade, para poder projectar para fora de si, não o medo, a angústia, a carência e a necessidade, mas sim a luz criadora, a força e o verdadeiro amor.

Será difícil saber quando então é que uma partilha é verdadeira, sabemos que os sentimentos são confusos e difíceis de discernir. Mas talvez haja um pequeno método, simples e eficaz. Unamos por um pouco o dom de sentir ao dom de pensar, pois são ambos de igual importância, ambos provêm da mesma fonte e nenhum deles é inferior ao outro.

Unamos então à luz do sentimento a luz da razão: sempre que um acto ou decisão, tomada por nós em relação a outro, ou por outro em relação a nós, ferir no mais fundo do nosso eu, for contrário à nossa crença, à nossa vontade, à nossa dignidade enquanto ser humano, ao nosso livre arbítrio, quando racionalmente o entendermos como tal, façamos ainda uma pequena pergunta. Será este acto praticado em prol de um bem maior para a comunidade ou humanidade ou para a salvação de outro ser humano? Ou, pelo contrário, será praticado apenas tendo em vista a satisfação, ainda que momentânea, do ego de um individuo incapaz de travar a sua própria batalha?
Se a resposta for a primeira, estará no critério de cada um a generosidade ou não de aceitar esse sacrifício. Mas, se for a segunda, então, mesmo que vá contra tudo o que nos diz o sentimento, a recusa será o único caminho sensato.

Mas o amor obriga a coisas impossíveis, a sofrimentos atrozes, dirão alguns. Não é esse o amor em que eu acredito. Esse é o amor dos egos desfeitos e fatalistas. E, se esse sentimento confuso, ainda apesar da razão apontar outra direcção, insistir em aceitar a humilhação, é preciso lembrar que, em todas as grandes vitórias da humanidade foi preciso esforço. Foi preciso determinação e resistência. Nenhum atleta consegue facilmente correr uma maratona se não começar a correr pelo menos dez minutos antes disso. Então é o treino, o hábito, ainda que contra todas as forças que fará, um dia, o indivíduo, facilmente, encontrar uma situação humilhante, em que o ego de outro ser egoísta, se queira impor sobre si, e lhe diga categoricamente não, respeitando a vontade de quem nos deu essa chama única, criadora e individual.

Soltar as amarras do medo e da carência. Deixar de procurar nos outros o que não temos, mas encontrá-lo dentro de nós. Porque amar verdadeiramente alguém nunca é sinónimo de necessidade, mas sim de vontade. Vontade pura de estar, de dar, de partilhar, sem que nisso haja outro interesse que não a simples alegria, livre de carência, medos ou necessidades, mas cheia de partilha e livre arbítrio. Pois quem pensa amar algo de que necessita e que lhe ocupa, ainda que apenas por uns momentos, o seu vazio, comete a maior das imprudências. Quem ama à espera de ter algo, está equivocado, pois será o algo que realmente o tem, será o algo que é realmente o dono e senhor a quem o infeliz se curva a toda a hora, numa dependência sem fim e, no final de tudo, desoladora e fria.

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09/06/2009

Exposição de Vítor Neno no Cartaxo

O meu amigo Vítor Neno vai inaugurar, hoje, dia 9 de Junho, pelas 22:30 horas, no Centro Cultural do Cartaxo, uma exposição de fotografias da sua autoria, registadas durante os últimos quatro anos de espectáculos realizados no mesmo espaço.

O trabalho de fotógrafo é um trabalho difícil, de grande perícia e imaginação. Mas, quando se trata de fotografar eventos, como um espectáculo ou um evento desportivo (onde o Neno é especialista, pois tem vários anos de experiência a trabalhar para jornais de prestígio, entre os quais o Record), tudo se torna ainda mais difícil pela velocidade e imprevisibilidade.

Nesses momentos, o fotógrafo não está num ambiente controlado, onde a luz foca o que deseja ou o enquadramento é amplamente estudado. Aqui, além da técnica e da imaginação, é necessário também ter timing, atenção e precisão. Os momentos certos não esperam. Ou o fotógrafo, como uma águia, repara e dispara a tempo, ou os momentos, mesmo que mágicos, nunca mais ficam registados em nenhum outro lugar que não a memória dos que a eles assistiram.

E o Neno é excelente nesse campo, sempre atento, sempre presente, fazendo a máquina disparar no momento exacto, captando as emoções e a força dos eventos.

De realçar ainda que, antes da inauguração da exposição, vai haver lugar, no Centro Cultural do Cartaxo, um concerto com os MadredeDeus e a Banda Cósmica, a ter início pelas 21:30.

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27/05/2009

A verdadeira crise que vivemos

"The crisis is a crisis in consciousness, a crisis that cannot anymore accept the old norms, the old patterns, the ancient traditions.

And, considering what the world is now with all their misery conflict, destructive brutality, aggression, and so on, man is still as he was: is still brutal, violent, aggressive, acquisitive, competitive, and he has built a society along these lines.

What we are trying to, in all these discussions and talks here, is to see if we cannot radically bring about a transformation of the mind. Not accept things as they are, but to understand it, to go into it, to examine it, give your heart and your mind and everything that you have to find out a way of living differently.

But that depends on you and not somebody else. Because in this there is no teacher, no pupil, there is no leader, there is no guru there is no master, no saviour. You yourself are the teacher and the pupil, you are the master, you are the guru, you are the leader.

You are EVERYTHING.

And to understand, is to transform what is."

Jiddu Krishnamurti

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18/05/2009

Balanço da "tour" algarvia

Excelente, excelente, a passagem pelo Algarve.

A sessão com o Clube de Leitura da Biblioteca de Loulé foi fantástica. Adorei a participação dos membros e a discussão em volta do meu último romance "Ao teu lado", principalmente acerca dos dilemas morais do personagem José Carlos Sagácio. Aliás, confesso que fico sempre emocionado quando vejo a forma como os personagens e os enredos que crio aqui neste computador, muitas vezes a altas horas da noite, acabam por tocar outras pessoas. É para isso que se escreve. É a sensação do dever cumprido.

Para quem leu o livro, refiro que, quanto à discussão propriamente dita, acho curioso o impacto que a "minha Desidéria" tem nos leitores. No livro, apesar de estar sempre presente, é ainda assim uma personagem com uma névoa em redor, com algum mistério e muita subtileza. E, apesar de ser o mote de todo o enredo, é aquela de quem menos se fala em todas as discussões sobre o romance. Quase como se, como o é no romance, fosse na realidade também apenas uma musa intocável. Pelo contrário, Sagácio é um personagem presente, saudavelmente odiado pela maior parte dos leitores, antes de despir a sua capa de anti-herói e entrar no caminho que transforma o final do livro numa autêntica surpresa.

Depois, na Livraria Pátio das Letras, em Faro, houve lugar a outra sessão, também muito interessante. Desta vez não tinha havido uma leitura prévia do livro, o que levou a conversa a voar para outros assuntos que não apenas o romance, mas foi mais uma tarde muito interessante, rodeado de pessoas interventivas que me fazem acreditar que talvez o País ainda tenha uma solução. Enquanto houver gente que pense, que se preocupe, que olhe para além do seu próprio umbigo, tudo poderá mudar.

Um agradecimento à Dra. Rita, da Biblioteca de Loulé, que foi incansável e de uma simpatia incrível, e à Dra. Liliana, da Pátio das Letras, que também me recebeu muito bem e tem a coragem de levar adiante um projecto arrojado e dinâmico que vale a pena conhecer melhor.

E, claro, à Adriana Nogueira, à Professora Doutora Adriana Nogueira, mas que, pela amizade que nos une, prefiro tratar apenas por Adriana, que me recebeu tão bem no Algarve, falou de forma tão amável do meu trabalho e que é um exemplo de vitalidade, voluntariado e cooperação.

Tudo coisas que fazem tanta falta a este mundo.

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04/05/2009

Luís Costa Pires na feira do Livro de Lisboa, Loulé e Faro (Nota de Imprensa)

O romance “Ao teu lado”, do escritor Luís Costa Pires, é o motivo de diversas sessões literárias nos primeiros dias de Maio. O autor estará presente na Feira do Livro de Lisboa por duas ocasiões, para sessões de autógrafos relativos a este último romance publicado em Dezembro último pela Nova Vega, e que marcou o seu regresso à publicação após cinco anos de ausência. As sessões de autógrafos terão lugar nos pavilhões E 11 e 12, na próxima sexta-feira, dia 8 de Maio, e na próxima terça-feira, dia 12 de Maio, em ambos os casos pelas 17 horas.

Depois, dia 14 de Maio, Luís Costa Pires deslocar-se-á até ao Algarve, mais concretamente a Loulé, onde participará, pelas 21:30 horas, de um encontro do Clube de Leitura de Loulé, a decorrer na Biblioteca Municipal. Ainda por terras algarvias, no dia 16 de Maio, Luís Costa Pires estará em Faro, desta vez para participar na programação cultural da livraria “Pátio das Letras”. Assim, pelas 17:30 horas, a Professora Doutora Adriana Nogueira, da Universidade do Algarve, irá apresentar o romance ao público presente, contando depois com a presença do autor para explicações mais detalhadas sobre a obra.

Recorde-se que antes de “Ao teu lado”, uma história de amor com influências Shakesperianas, o escritor de 32 anos publicou “A Rainha de Copas” (vencedor do prémio Prosas de Estreia, em 1998), “Depois da Noite”, “Mandrágora” e “A Desconstrução da Alma”. Depois de uma passagem pela fotografia e edição, Luís Costa Pires voltou a dedicar-se inteiramente à escrita, estando agora a trabalhar no seu próximo romance, a ser publicado em Novembro também pela Nova Vega. Paralelamente, está a trabalhar na área do guionismo para cinema e televisão para o mercado norte-americano, através do contrato assinado, em Março último, com a empresa Eileen Koch & Company, Inc, sediada em Los Angeles, Califórnia.

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Viagem a Los Angeles - parte 7 - Obama, Marijuana e Tatuagens

Barrak Obama, o novo presidente norte-americano, é, mais do que um presidente. É uma estrela. Por toda a parte e bancas, jornais e revistas fazem capa com notícias sobre os seus hobbies e vida privada, sobre o seu passado e ideais, e nem mesmo a Marvel perdeu a oportunidade de colocar Obama como uma das personagens das histórias do Homem Aranha.


Até Portugal beneficia da fama de Obama: por exemplo, falando com os californianos percebe-se que Portugal é famoso no estado da Califórnia por causa de Cristiano Ronaldo, do Benfica (um fã de soccer até sabia que Rui Costa é director do clube), do café e do pão português, das laranjas nacionais (?) e... do cão de Obama, que é português.
No entanto, o excesso de mediatismo de Obama começa a incomodar os americanos, até porque às vezes o novo presidente também comete algumas gafes ou tem saídas menos felizes. Mas, enquanto o efeito novidade durar e enquanto persistir o pudor de criticar Obama, com medo de parecer racismo, o novo presidente estará seguro nas sondagens.

Marijuana Livre

Por toda a Hollywood Boulevard, por entre as estrelas com os nomes de Frank Sinatra, Steven Spielberg ou Liza Minneli, estão abertas várias “Smoke Shops”. Nelas, convictos activistas pedem a participação das pessoas na angariação de assinaturas tendo em vista a legalização da Marijuana. “Porque é que o Tabaco é legal e só faz mal à saúde, mas a Marijuana que acalma, nos deixa felizes e cura algumas doenças como o stress e a ansiedade, é proíbida? Eles não querem é que sejamos felizes, querem-nos sempre doentes para nos poderem controlar”, afirma Steve, um dos proprietários de uma das lojas, antes de se oferecer para nos fazer um cartão de fumador livre de Marijuana. Para obter o cartão bastaria dirigir-me ao fundo da loja, onde um “in local doctor” estava pronto a fazer-me uma consulta rápida e averiguar da necessidade. Assim, ficaria autorizado a fumar em qualquer parte da Califórnia, mesmo em frente a um polícia. “Tens alguns destes sintomas?”, perguntava, mostrando uma lista imensa de problemas tão comuns a toda a gente. “Bom, sinto-me um pouco cansado”, respondo, “mas é provável que seja ainda do jet lag”. “Não interessa”, retorque, “Tens um sintoma, estás dentro das condições”. E lá foi buscar o formulário para eu preencher.

Tatuagens e Cabeleiras

Ainda em Hollywood Boulevard contam-se, em pouco menos de 500 metros, três lojas que se dedicam exclusivamente a tatuagens e outras tantas à comercialização de cabeleiras postiças. E o mesmo se pode dizer em relação às clínicas de cirurgia estética, que também crescem como cogumelos, com preços inacreditavelmente baixos, numa concorrência feroz. Em Los Angeles cada um é como quer ser.
Em nenhum outro local é tão normal um homem estar tatuado até aos olhos ou uma mulher andar com uma longa cabeleira verde até ao chão. Artistas, dirão os mais conservadores com desdém.
E, apesar da fast food e do mito de que os americanos são um povo com extrema obesidade, tal não acontece na cidade dos sonhos. É claro que existem pessoas morbidamente obesas, mas a maioria dos habitantes apresentam corpos esculturais e musculados.
Exigências do estrelato.

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Viagem a Los Angeles - parte 6 - Portugueses em Hollywood

Às vezes o mundo mais parece um berlinde do que o enorme planeta que é na realidade. Foi em Los Angeles, em plena Larchmont Avenue, que conheci Américo Silva, então vice-presidente para a área da distribuição de Home Entertainment da Paramount, mas desde sempre português do Porto, emigrado nos Estados Unidos há mais de 28 anos, e com uma passagem profissional pelas Caldas da Rainha há muitos anos atrás. Dei por mim a falar, sem esperar, em plena Los Angeles, da Foz do Arelho, da comida da região e da cerâmica tradicional da minha terra.


No meio de muitas gargalhadas e recordações, ficou bem patente o espírito de solidariedade que dois portugueses têm quando se encontram num ponto distante. Tem razão o provérbio, Portugal é onde um português estiver. E ali fez-se um pequeno Portugal, em jantares e almoços, com ele e outros lusitanos em busca da felicidade na terra do Tio Sam.

Por exemplo, Mónica Cabral é natural dos Açores, mas está em Los Angeles há mais de cinco anos. A adaptação não foi difícil pois o cinema sempre foi o seu sonho. Com o tempo, os contactos vão surgindo e a experiência aumentando. Agora, podemos vê-la num pequeno papel no filme de Adam Sandler, “Não te metas com o Zohan”. Um primeiro pequeno passo para uma grande futura carreira.

Por sua vez, Lia Feitz viveu já em diversas cidades do mundo, mas nasceu também em Portugal. Em Los Angeles é já uma actriz com experiência em TV e teatro. No final de Março fez um dos principais papéis numa versão da peça “Monólogos da Vagina”, que esteve em cena num pequeno auditório junto de Hollywood Boulevard.
A comunidade portuguesa vai crescendo em Hollywood, onde é apreciada pelo seu dinamismo, alegria e criatividade. A questão é porque razão é que as nossas melhores características só aparecem quando estamos fora do nosso país?

Ronaldo, Café e Laranjas

Uma pergunta muito frequente em Los Angeles é “De que país vens?”. Isto porque na terra dos sonhos existem pessoas de todas as nacionalidades, todas movidas pelo mesmo desejo, ver o seu talento reconhecido. Quando respondia que vinha de Portugal, ficava sempre curioso por ver as reacções das pessoas. Cristiano Ronaldo era invariavelmente o primeiro nome a vir à baila. A fama do futebolista português é realmente mundial, tanto que, em plena Disneylandia, duas americanas compravam, mesmo à minha frente, uma camisola com o número sete de Portugal. A seguir, vêm as referências ao café e ao pão português (inteiramente justificadas pois o café e o pão americano não são nada comparados com os nossos) e, de quando em vez, a Eusébio e ao Benfica. Mas a mais estranha referência foi feita logo no avião, por uma agente da Homeland Security, que viajava à paisana para garantir a segurança da viagem. “Portugal? Ahhh... e trazes aí das vossas laranjas? São tão boas!”.

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Viagem a Los Angeles - parte 5 - Life is like a box of chocolates

Junto a uma bela fonte nos estúdios da Paramount Pictures, está o banco que Robert Zemeckis escolheu como adereço para o filme “Forrest Gump”, agora disponível para os visitantes se sentarem e tirarem fotografias de recordação de um dos mais belos e tocantes filmes da história do cinema. No banco, uma placa dourada, contém uma inscrição referente ao filme, “My name is Forrest, Forrest Gump. They call me Forrest Gump”.
Quase que daria vontade de continuar a frase, acrescentando outra parte do monólogo do brilhante personagem: “My mamma always told me that life is like a box of chocolates. You never know what you're gonna get”. Porque é esse o espírito da Califórnia. Ir em frente, seguindo os sonhos e impulsos, dando tudo de si em cada momento, à espera de ver o que a vida devolve.

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Viagem a Los Angeles - parte 4 - Os estúdios de cinema

Não é possível visitar Los Angeles e não ir à Disneylandia. Mesmo quem não for particularmente fã das eternas histórias criadas pelos estúdios de Walt Disney, ficará emocionado com a beleza, alegria e magia do local. O ingresso é caro, 65 dolares para ver um dos parques, 95 para ver ambos (quase impossível ver ambos no mesmo dia, de tão grande que é a Disneylandia, maior do que uma pequena cidade portuguesa), mas vale cada cêntimo.



Lá dentro, a magia acontece realmente. Cidade dentro de uma cidade ainda maior, localizada em Orange County, região celebrizada pela série juvenil “The O.C.”, a Disneylandia é um mundo de sonho, cheio de diversões, crianças e adultos a conviver com o Pato Donald, o Dumbo e a Branca de Neve, em locais encantados como o Castelo da Cinderela, o navio dos Piratas das Caraíbas, o túmulo perdido de Indiana Jones, montanhas russas e rodas gigantes e, claro, muitas lojas e espectáculos.
Num mundo perfeito, qualquer criança do mundo deveria ter a oportunidade de a visitar. Nem que fosse uma vez na vida.

Em redor de Hollywood, a norte, sul e oeste, ficam localizados os principais estúdios de cinema e televisão. A norte, a Universal Studios é, provavelmente, o mais impressionante pois alia a produção cinematográfica a um parque de diversões que quase rivaliza com a própria Disneylandia. Aqui, além de uma tour guiada por vários cenários de filmes clássicos, como o Tubarão (com direito a sermos atacados pela assustadora criatura a saltar da água e tudo), o Motel de Psycho, a cidade de Hysteria Lane, onde as Donas de Casa Desesperadas vivem as suas aventuras, a uma estação de metro abandonada que desaba sobre as nossas cabeças, no meio de explosões e inundações, existem várias salas temáticas que irão, certamente, maravilhar qualquer visitante.

A área dedicada ao “Exterminador Implacável” coloca o visitante no meio do confronto entre Sarah Connor e as máquinas do futuro, num ambiente 4D, onde o calor dos lasers e o impacto das explosões é sentido e tudo é extremamente real. O castelo dedicado a Shrek é divertidissimo e relembra grande parte das piadas feitas pelo ogre verde e seus companheiros. Mas o ponto alto é sem dúvida a Montanha Russa dos Simpsons onde, dentro de uma cúpula 3D, o visitante entra dentro de um episódio da série e alia-se a Homer e Bart, no combate ao malvado SideShow Bob, no meio de muitas peripécias e gargalhadas. Uma experiência alucinante à qual nem sequer falta o cheio a pó de talco quando a queridíssima Maggie se aproxima de nós.

Descendo a Vine Avenue a partir de Hollywood Boulevard, chega-se à Paramount Pictures. Aqui não existem montanhas russas nem salas 3D. Mas, em compensação, existem 22 estúdios de gravação e uma cidade inteira construída para ser o palco dos filmes e séries que vemos diariamente. Na altura da visita à Paramount, gravava-se uma cena de CSI Nova Iorque. Gary Sinise andava pela rua de Nova Iorque à procura de pistas para mais um assassinato, no meio de vários dezenas de extras que são contratados apenas para andar pelas ruas e encher de realismo a fantástica série (ganhando o cachet diário de 130 dólars). E quando os decoradores mudam as placas das portas e lojas, árvores e adereços, cores das paredes e automóveis das várias ruas de fachadas falsas da Paramount, estas se transformam em qualquer outra cidade do mundo.

São muitos os interesses da visita à Paramount, como o banco onde Tom Hanks se sentou enquanto contava a história de Forrest Gump, a rua onde Seinfeld, George, Elaine e Kramer viviam as suas desventuras, ou o estúdio que se diz assombrado, e onde foi gravado “Poltergeist”.

Mas um dos mais fascinantes pontos é o parque de estacionamento enorme, com o chão pintado de azul e uma das paredes pintada como se fosse o horizonte. Apesar da estranheza inicial, obviamente que existe uma razão para tal decoração: quando despido de carros e cheio de água, o parque, visto pelas câmaras, transforma-se num oceano, onde Charles Heston, enquanto Moisés, separou as águas no filme “Os Dez Mandamentos”, ou Jim Carrey tentou chegar à liberdade em “The Truman Show”. Este era também o local onde se planeava “afundar o Titanic”. Mas James Cameron preferiu, à última da hora, construir um enorme tanque de água, com vista real para o oceano, no México e levar DiCaprio e Winslet para lá. Enfim, nada é realidade nos estúdios. Mas é dessa fantasia que nascem as mais belas histórias a que assistimos.

Faltou tempo, infelizmente, para visitar os estúdios da Warner Brothers, da CBS City, e de muitos outros estúdios que funcionam em Los Angeles.

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Viagem a Los Angeles - parte 3 - Vida em LA

É na zona costeira, principalmente nas praias de Santa Monica, Venice, Newport e Long Beach (com os seus enormes pontões cheios de lojas, esplanadas, diversões e artistas), e nas zonas in de Beverlly Hills e Bel Air (onde a maioria das ruas são privadas), que os angelinos mais se sentem à vontade, em avenidas largas, com várias faixas de rodagem, e as suas paralelas e perpendiculares cheias de espaços verdes, palmeiras e outras árvores, e o comércio activo e fervilhante das zonas comerciais. Enquanto nas zonas residenciais a calma governa, nas comerciais a confusão abunda, encontrando-se um café Starbucks em quase cada esquina (é fácil localizar um pela enorme quantidade de pessoas que anda pelas ruas de café em copo de plástico na mão) e vários restaurantes de comida rápida.


As cadeias e restaurantes de comida rápida, como stands de Hot Dogs, Pizzarias, Subway, McDonalds, Taco Bell, Burger King, KFC, etc, são tantas que surpreendem até os mais avisados. Mas, passados poucos dias em Los Angeles percebe-se a sua profunda necessidade, tendo em conta os altíssimos custos de comer num restaurante tradicional ou mesmo de comprar comida no supermercado. Afinal de contas, apesar do altíssimo nível de vida da cidade, um menu completo no McDonalds fica em apenas 5 dólares e pouco, pouco mais de 4 euros, bem menos do que os 60 dólares que se paga por um bife num bom restaurante, sem contar com os acompanhamentos que são sempre comprados à parte.

Existem algumas diferenças gritantes de preços entre a zona da Califórnia e a realidade portuguesa. A água, por exemplo, é ridiculamente cara: uma garrafa de dois litros custa em média 2.5 dolares. Mas esse preço elevado deve-se a questões ecológicas. É que, quem tiver já uma garrafa de plástico consigo e a quiser encher, pagará apenas 25 centímos.

Já o preço da gasolina é o sonho de qualquer condutor: com vinte dólares enche-se o depósito de um dos muitos carros de mudanças automáticas que andam pelas ruas e passeia-se à vontade pelas largas avenidas e freeways (não existem portagens) de seis faixas de cada lado, onde, exceptuando à hora de ponta, não se verifica nenhum problema.

Los Angeles é também o paraíso dos não-fumadores. Em lado nenhum se pode fumar. Nem mesmo nos comboios abertos onde se fazem os passeios pelos estúdios de cinema. Aliás, em oito dias de estadia, só me lembro de ter visto alguns fumadores à saída de uma discoteca, já depois das duas da manhã.

Nos bares e discotecas, amplos e cheios de motivos de diversão, como karaokes, touros mecânicos, bowling, pistas de dança, artistas em actuações ao vivo, dançarinas exóticas, os americanos divertem-se sem limites. Apesar do alto preço das bebidas, os cocktails voam de mão em mão, mas apenas depois dos Bilhetes de Identidade serem verificados pelos empregados. Ninguém com menos de 21 anos pode comprar uma bebida alcoólica e os empregados, altamente profissionais, não facilitam. E ai de quem quebrar alguma regra. Então terá que prestar contas aos seguranças e porteiros, muito bem educados e simpáticos enormes ex-jogadores de Futebol Americano e ex-wrestlers.

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Viagem a Los Angeles - parte 2 - Hollywood

Hollywood é, provavelmente, o local mais conhecido de Los Angeles. Este bairro é o centro turístico da cidade, com os seus três ícones principais a movimentarem milhões de pessoas por ano, o famoso sinal no monte, que de início era o placar de uma agência imobiliária, mas com o tempo passou a ser a mais famosa imagem do mundo do cinema, o Kodak Theatre, espantoso complexo que reúne um fabuloso centro comercial ao ar livre e a sala de espectáculos onde são entregues os prémios da Academia, os Óscares, e o Passeio da Fama, onde as estrelas mais sonantes do cinema, TV, rádio e música têm os seus nomes imortalizados no passeio, para gáudio dos fãs que se ajoelham junto das respectivas estrelas para uma fotografia que lhes permita guardar uma recordação do local.


À noite, jovens e menos jovens de toda a cidade frequentam os seus bares e discotecas (muitas vezes chegando ao local em opulentas limusines), principalmente a comunidade asiática de Koreatown, que fica a poucas centenas de metros do local. Não sendo o local mais famoso da vida noturna da cidade, pois esse privilégio pertence a Sunset Strip e às zonas dos pontões das praias, é sem dúvida um local entusiasmante, cheio de vida e de gente bonita à espera de entrada nas discotecas da moda, no meio das passadeiras vermelhas e dos sapatos e vestidos de design.
Mas, ao contrário do que se pode pensar, apesar de ser uma zona central e de grande importância turística e comercial (encontram-se grandes lojas nas suas ruas, como as megastores da Virgin, da HM ou da GAP), Hollywood não é a zona mais apreciada pelos habitantes da cidade. Destino turístico um pouco caótico, é muitas vezes vista de lado pelos habitantes das zonas mais ricas, pois encontra-se nesta zona, principalmente em Hollywood Boulevard e Sunset Boulevard (uma enorme avenida de 35 quilómetros que cruza Los Angeles quase de um lado ao outro, também apelidada de “Boulevard of Broken Dreams” pelos mais pessimistas), um sem número de artistas de variedades, como cantores oferecendo os seus últimos CDs aos transeuntes, na esperança de conhecerem um agente ou produtor, malabaristas, dançarinos e actores mascarados dos maiores ícones do cinema e da ficção.

Em nenhum outro local se podem encontrar Homer Simpson a conversar com o Super-Homem no passeio ou Darth Vader a andar lado a lado com o Capitão Jack Sparrow, enquanto, ao lado, um guitarrista interpreta temas do seu último álbum e, mais à frente, um Michael Jackson “wannabe” mostra a sua destreza imitando os movimentos do rei da Pop. E, claro, quem quiser uma fotografia ao lado de tais vedetas, poderá tirá-las facilmente, a troco de uma pequena “tip”, pois são as gorjetas que mantém vivos estes actores desempregados em busca de uma primeira oportunidade no mundo do cinema.

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Viagem a Los Angeles - parte 1 (reportagem)

Um mundo à parte, cheia de sonhos, alegria e opulência. É o mínimo que se pode dizer da cidade de Los Angeles, na Califórnia. Aliás, até os próprios americanos, no meio de toda a sua espantosa multiculturalidade, admitem essa diferença tremenda entre a solarenga e quente Califórnia, onde a crise parece ainda não ter chegado, e o resto do país.


Capital do entretenimento mundial, onde se localizam os principais estúdios de cinema, as agências de artistas e muitas das editoras musicais mais importantes do mundo, Los Angeles é uma cidade vibrante e com um ritmo muito próprio. Os seus habitantes, de todas as raças possíveis e imaginárias, são, na esmagadora maioria, calorosos, educados e extremamente atenciosos, capazes de irem a extremos para bem receberem os habitantes ou turistas; afinal de contas, Los Angeles é, por excelência, a capital do sonho americano, e a maior parte dos seus habitantes, vindos de todas as partes do mundo e dos Estados Unidos, percebem como é difícil chegar a um local estranho em busca de um sonho.
Por isso, é uma cidade extremamente acolhedora e a sua população extremamente atenciosa e simpática. Em qualquer lado se faz um novo conhecido, seja ao balcão de um bar, num fila para um espectáculo ou mesmo numa loja. Para os europeus, habituados a um convívio frio e desconfiado, é uma surpresa constatar como facilmente é ultrapassada a barreira do primeiro diálogo com qualquer pessoa, não interessa se é homem ou mulher. E não há também lugar a títulos de doutor ou engenheiro, nem tratamentos por últimos nomes. Nada de complicações presunçosas tão típicas dos europeus.
Percebe-se facilmente que o profissionalismo é ponto de honra na cidade, onde raramente se vêem conduções perigosas, empregados mal dispostos ou lixo deitado para o chão. As regras são para cumprir e há momentos para tudo. Se é hora de trabalhar, a concentração e disponibilidade são máximas. Mas se é hora de diversão, não há limites.

Os horários são bem diferentes dos europeus e mesmo dos vividos na costa leste dos Estados Unidos. Em Los Angeles, para aproveitar o bom tempo (as temperaturas andam todo o ano entre os 15 e os 35 graus, com apenas uma leve brisa refrescante), o dia começa cedo. Às sete da manhã já muitos angelinos estão a trabalhar para que, às seis e meia da tarde seja já hora de jantar. É por isso que, pelas nove, os bares e as ruas estão cheias de gente em plena diversão, rindo, brincando sem pudor, confiantes em si, na sua figura e nos seus impulsos. E, pelas duas da manhã tudo termina. As discotecas fecham e os angelinos dão uma última volta pelas ruas das cidades, sentam-se nos balcões ao ar livre para comerem um último hot dog, antes de se recolherem para, de manhã cedo, estarem de novo na rua.

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