25/10/2007

Steiner e os génios


George Steiner, em conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, teceu considerações sobre a Europa nos dias de hoje. Falou da incapacidade de gerarmos nos dias que correm génios como Bach, Mozzart ou Platão e afirmou que a Europa está a morrer, passando o papel intelectual para os outros países em vias de crescimento.

Obviamente que concordando com parte das suas teorias e não pondo em causa a genialidade deste afamado investigador, tão premiado e conceituado em todo o mundo, parece-me que a afirmação em causa é, no mínimo, infeliz. Primeiro, que eu saiba, Mozzart ou Bach não foram grandes génios da humanidade porque tenham sido ensinados a sê-lo. Não se ensina a genialidade, ensina-se apenas a técnica. E, quanto a isso, até tenho a certeza de que existem hoje métodos de ensino artísticos muito mais avançados do que na altura em que estes génios apareceram.

E, na verdade, também não me parece que exista uma real ausência desses génios artísticos nos dias que correm, até porque é impossível comparar épocas, quando hoje existem tantas novas formas artísticas que não existem há séculos atrás. Ou não se podem considerar génios personalidades como Andrew Lloyd Webber, Tim rice, Ennio Morricone, Bjork, Dulce Pontes, Luciano Pavarotti, Monserrat Caballet, Bono Vox, Ben Kingsley, Pedro Almodovar, Roberto Benigni, Milos Forman, Wim Wenders, John Cleese, Milan Kundera, Harold Bloom, José Saramago, Harold Pinter, Dario Fo, Italo Calvino, Camilo José Cela, Agostinho da Silva, Lyotard, Derrida, entre muitos outros?

Quando aparece um génio com a lucidez e a criatividade de um Bach, ele atinge esse patamar por mérito próprio e não por influência externa. Achar que é a influência cultural exterior que faz aparecer os inovadores e pioneiros, aqueles que rompem com o que já existe, é um contrasenso.

E obviamente que hoje é mais difícil criar teorias e harmonias completamente originais. Já muito foi criado e muitos são aqueles que tentam todos os dias fazê-lo. No tempo de Mozzart ou Bach, não era assim. Apesar da sua genialidade, eles eram privilegiados que, no meio de um povo doente e inculto, tinham a possibilidade de explanar as suas criações para gáudio de todos os poucos que se dispunham a ouvi-los.

1 comentário:

O Meu Confessionário da Alma disse...

Parabéns... um texto que levanta o tapete do chão.
Ora... concordo e vou mais longe, os grandes génios são-o por natureza, porque algo nasceu dentro deles e ninguem lhes pode retirar isso. Aliás, um génio de sangue puro é-o e ponto final. Apenas necessita de limar algumas arestas,, mas sinceramente aprender a ser génio não torna ninguém merecedor desse título.
Falas do Sr. Pavarotti, pois bem a sua voz está esculpida de uma forma tão natural quanto possivel, nada de tentativas extremas de atingir uma dada nota musical, nada artificial, nada falso.
Os "génios" trabalhados são PLÁGIOS de uma arte, genealidade e sabedoria.
Quanto à comparação feita entre o hoje e o ontem, ora no ontem as oportunidades de escolhas eram reduzidas até um bater de tachos de cozinha poderia soar fenomenal; hoje o mesmo já não acontece, e infelizmente as grandes obras ficam esquecidas algures para um ou outro apreciarem; o que é comercial, o que vende nem sempre -e digo mesmo na maioria das vezes- poderia ser lixo.
E já chega!
Beijocas não pares de escrever:P