13/11/2003

O Namoro

Fausto e Sérgio Godinho cantaram este poema de Viriato da Cruz, poeta moçambicano, com todo o talento que se lhes reconhece. Gostava de vos deixar este poema (na versão musicada, não na versão original), que tem uma doçura, uma inocência e um calor que só está ao alcance, digo eu, das pessoas que conseguem ver a luz da vida. A mim, dizem sempre que África é inesquecível. Quando for, finalmente, conhecê-la, quero ver se consigo escrever, durante a minha estada, um poema assim.

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse "ela tinha
um sorriso luminoso, tão triste e gaiato,
como o sol de Novembro brincando de artista
nas acácias floridas, na fímbria do mar".
Sua pele macia era sumauma,
sua pele macia, cheirando a rosas,
seus seios laranja, laranja do Loge,
eu mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.
Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou
"por ti sofre o meu coração"
num canto "sim", noutro canto "não"
e ela o canto do "não" dobrou
Mandei-lhe um recado pela Zefa do sete,
pedindo e rogando de joelhos no chão,
pela Senhora do Cabo, pela Sta Efigénia,
me desse a ventura do seu namoro
e ela disse que não.
Mandei à Vó Xica, quimbanda de fama,
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço bem forte e seguro
e dele nascesse um amor como o meu
e o feitiço falhou.
Andei barbado, sujo e descalço
como um monangamba procuraram por mim
não viu, ai não viu, não viu Benjamim
e perdido me deram no morro da Samba
Para me distrair levaram-me ao baile
do Sr. Januário, mas ela lá estava
num canto a rir, contando o meu caso
às moças mais lindas do bairro operário.
Tocaram a rumba e dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu
e a malta gritou "Aí Benjamim"
Olhei-a nos olhos, sorriu para mim
pedi-lhe um beijo, la la la la la.
e ela disse que sim

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