Assisti à estreia nacional do novo filme de James Cameron, “Avatar”. E a verdade é que o filme, que custou oficialmente 230 milhões de dólares, e não oficialmente perto de meio bilião, é uma obra prima dentro do seu género.
Obviamente que, sendo um blockbuster cheio de acção, explosões e efeitos especiais, contém momentos previsíveis e clichés, mas que não poderiam faltar para que fosse bom dentro do género. Também há, na sequência do enredo, algo que não é totalmente original, podendo mesmo ser comparado em alguns elementos a “O Último Samurai” ou “Danças com Lobos”, embora com uma roupagem e cenários completamente diferente. Mas quanto ao resto, bem, quanto ao resto, tudo é genial.
James Cameron queria fazer este filme há quinze anos, mas só agora conseguiu a tecnologia necessária para o tornar realidade. E em boa hora isso foi possível, pois “Avatar” é um banquete para os sentidos. As cores, as paisagens, as criaturas, os efeitos, o som, a animação gerada por computador (CGI), as sequências de combate, tudo isto e muito mais será o suficiente para deixar qualquer um de boca aberta, ainda mais se visualizado com os devidos óculos 3D.
O filme conta a história da colonização de uma lua chamada “Pandora” (qualquer ligação com o mito da Caixa de Pandora não é coincidência, com a esperança a ser a única coisa que ainda resta) pelos humanos, cento e cinquenta anos no futuro. Nesta lua existe um precioso metal que os humanos tentam explorar a todo o custo, não se importando, para isso, de colocar em risco o riquíssimo habitat natural e o povo indígena do planeta. Para se integrarem na sociedade indígena, criam os “Avatares”. Um pouco à semelhança de outro filme que saiu este ano, “Os Substitutos”, com Bruce Willis, os Avatares são criaturas controladas à distância pelos cérebros humanos, mas que misturam o DNA do seu condutor com o dos indígenas, permitindo assim a sua aceitação na sociedade de Pandora.
E é precisamente a sociedade de Pandora, com toda a sua sabedoria ancestral e ligação dos Na’vi (assim se chamam os habitantes) à natureza, as cores ricas e maravilhas naturais que se encontram nos cenários, que colocam o primeiro espanto na boca dos espectadores.
Tentando não revelar o enredo, passo imediatamente para as considerações seguintes. O elenco não é particularmente conceituado, com as respeitosas excepções de Sigourney Weaver, que mais uma vez se associa a Cameron para interagir com extra-terrestres, e de Michelle Rodriguez, esta num papel mais secundário, mas é sólido. E, de qualquer forma, com todos os efeitos especiais e com a animação computorizada em redor dos Na’vi e dos Avatares, tecnologia que alcança um nível nunca antes alcançado, principalmente ao nível do movimento e das expressões faciais, o elenco não era de todo o mais importante.
Aliás, como piada, lembrei-me, durante o filme, de um episódio da série “Entourage” (com o título muito mal escolhido “A Vedeta”, em Portugal), onde James Cameron entra, interpretando-se a si próprio. Nesse episódio, o personagem Ari Gold brinca com o facto de Cameron ser um adepto das novas tecnologias, dizendo que qualquer dia o cinema nem vai precisar de actores. Responde Cameron, com um ar sério, que daqui a cinco anos, isso tornar-se-á realidade. A ver por “Avatar”, ele não estava a brincar.
Bom ano para Sam Worthington, no papel principal representado um marine paraplégico que assume o comando de um dos Avatares e se integra na sociedade Na’vi, que, sem mostrar o carisma necessário para o papel, consegue ainda assim destaque em dois dos blockbusters do ano, depois de ter participado também em “Terminator: Salvation”, ao lado de Christian Bale.
Mas, mais do que tudo, para quem quiser ver este filme além do espectáculo de cor e fantasia, “Avatar” fala-nos de consciência ecológica. Mas não se trata da normal propaganda sobre o meio ambiente que tantas vezes ouvimos, não são os simples apelos para não tratar mal os animais, fechar a torneira ou não incendiar as florestas, nem emails que se reencaminham cheios de imagens chocantes e que são esquecidos em seguida. “Avatar” fala-nos de algo muito superior a tudo isso, fala-nos da necessidade da humanidade entender a forma complexa como ela própria faz parte da natureza de uma forma muito mais espiritual do que entende, da forma divina como estamos interligados a tudo o que existe e que, por isso, salvar o ambiente deixa de ser um acto de caridade ou bondade, para passar a ser inclusive um acto lógico de sobrevivência e auto-preservação.
Fala do entendimento que é necessário ter para com cada um de nós para que o que está em redor também evolua. “Eu vejo-te”, dizem os Na’vi, sendo esta uma expressão de iluminação do seu povo. Sim, porque na maior parte dos casos nós, humanos, andamos pela rua sem vermos realmente ninguém.
Os humanos, enquanto colonizadores gananciosos, enquanto empresários cegos em busca do minério, sacrificando vidas e a natureza, ficam mal vistos neste filme de Cameron, que acaba por retratar o que também se passa no nosso próprio planeta. Mas, se é a raça humana em geral, com a sua ganância e frieza, a grande vilã do filme, Cameron não deixa também de fazer um pouco de política e criticar as invasões por questões económicas, como a do Iraque, ou as chacinas da Amazónia.
Resumindo, “Avatar” é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano e vem mudar muito do que se faz em cinema no que diz respeito à animação gerada por computador e ao 3D. Mas, acima de tudo, é uma experiência fabulosa para os sentidos que ninguém deve perder.
18/12/2009
Avatar: obra prima entre os blockbusters (Post longo)
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 04:56
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3 comentários:
Não estava muito curiosa em relação ao filme, mas depois deste post talvez dê um pulinho no cinema...!
Hum ...não sei se me convences. Bem , já não vejo um filme 3D faz anos. Hum.
Pois.
Também não estava assim tão entusiasmado de ir ver o filme.
Mas quero ver se é assim tão bom :P
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