24/10/2003

Serenidade

Uma das coisas que mais admirava em ti era a tua serenidade. Não sei como conseguias nunca te irritar perante nada, nem mesmo quando os problemas apareciam em catadupa e pareciam querer engolir tudo. Reagias às contrariedades de uma forma bem diferente da minha, sempre com leveza e suavidade, como se o mundo fosse uma coisa lógica e capaz de se remendar a si próprio com toda a facilidade. Lembro-me bem: olhavas calmamente para mim enquanto eu desfiava os problemas, assustado, sentindo-me perdido no meio do negrume. Depois, quando me calava, acendias um cigarro. Olhavas para a chama do isqueiro, como se fosse uma luz que iluminasse a escuridão, e depois para o fumo que invadia o ar. Olhavas outra vez para mim. Não era o isqueiro a verdadeira chama, afinal. Dizias: tem calma. E eu tinha. Tinha toda a calma do mundo. E os problemas desapareciam no ar, como o fumo do teu cigarro.

Sem comentários: