23/04/2004

A Paixão de Cristo

Acabei de ver "A Paixão de Cristo". Vou tentar não vou tecer comentários extensos sobre o filme, nem sobre os vários significados e promenores de grande beleza e inspiração que o preenchem, como o Santo Sudário, a figura de Satanás, a interpretação de Maria e de Maria de Magdala, o facto do filme ser falado em aramaico, hebraico e latim, a traição de Judas e a sua loucura, a negação de Pedro, enfim, momentos que dariam, cada um, direito a um post maior do que este. Além disso, há já, com toda a certeza, muitas pessoas a fazê-lo, com interpretações bíblicas e opiniões, muitas delas mais documentadas do que as minhas, apesar de ser um estudioso da Bíblia e dos assuntos esotéricos em geral.
Quero apenas referir uma ou duas coisas. Como cristão convicto e apaixonado (que significa acreditar e tentar seguir as palavras e os ensinamentos de Cristo, o que é bem diferente de pertencer a qualquer entidade religiosa, seja ela qual for), não concordo que Mel Gibson tenha exagerado na violência desta sua "Paixão".
É que, ao contrário do que a maior parte das pessoas pensa, não acho que a verdadeira violência nesta obra prima sejam as chicotadas, o sangue, os açoites, a carne a saltar, a cruz, o riso dos executores, a gozação, a coroa de espinho ou o sarcasmo. A tudo isso, infelizmente, estamos nós já habituados. Dificilmente algum realizador de cinema poderia criar imagens mais chocantes a esse nível do que, por exemplo, assistimos em Nova Iorque, em Madrid, na Segunda Guerra Mundial, ou na vida do dia a dia.
A verdadeira violência deste filme, o verdadeiro choque, o que nos coloca em lágrimas e soluços compulsivos é o que aparece nas poucas palavras proferidas por Cristo durante toda a película. O que nos toca fundo não é o bater do chicote nem o arrancar da carne. São as palavras de amor e de esperança, de dádiva, dos flashbacks do que dizia durante a última ceia e o sermão da montanha, que nos são revelados por entre todo o calvário. É a diferença abissal entre as duas realidades. O pedir perdão por quem o mata, filmado de uma forma magistral.
E aí, conhecendo profundamente o sermão da montanha e a grandiosidade das palavras ditas por Jesus, acredito que Mel Gibson poupou os espectadores, ao não colocar mais momentos desses no filme. O público não aguentaria se aparecessem mais alguns dos seus conselhos, mais algumas das suas palavras sábias, algumas delas tão arrasadoras! Essa é a verdadeira violência. Não é ver Jesus chicoteado e pregado na cruz. É vê-lo sorrir, com uma expressão que faz Caviezel merecer o óscar, e dizer simplesmente:
"Não temam, ninguém me pode roubar a vida, porque entrego-a de livre vontade".

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