20/04/2004

É isto a liberdade de expressão?

Juro que não percebo. Existem alguns bons participantes no programa (o Bruno Nogueira é brilhante, por exemplo), mas, apesar desses bons exemplos, o "Levanta-te e ri" continua a colocar o Fernando Rocha no ar. E o público adora, demonstrando uma pobreza enorme no que diz respeito ao que é realmente bom humor (vejam algumas boas sitcoms americanas, quase todas as inglesas e, se quiserem ver um comediante em palco, vejam os stand-up comediants americanos, como Seinfeld ou Robin Williams, que não precisam de dizer palavrões para ter piada). Uma sequência de anedotas antigas, outras que se leram semanas antes na internet, noventa e nove por cento delas sobre sexo. Pelo meio, muitas asneiras, repetidas em catadupa, entre as frases da anedota, sem qualquer propósito que não seja ser profundamente ordinário e nojento, como se fosse uma coisa de "macho" dizê-las na televisão a torto e a direito. E o pior é que o público repete as frases em coro, demonstrando não só conhecer profundamente o "artista" como, ainda por cima, gostar e sentir-se bem com aquilo.
Estamos assim tão atrasados em Portugal que ainda nos rimos apenas por ouvir uma asneira? Será que ainda sentimos que estamos a ser livres por dizermos um palavrão? Estamos assim tão atrasados que o nosso ideal de sentido de humor é dizer palavrões ou ouvir anedotas sobre sexo? Será que Freud explicaria este facto com alguma profunda frustração sexual do povo português?
Numa altura em que se diz que "Abril é evolução", pergunto-me se os portugueses fazem a mínima ideia do que é liberdade de expressão. Será que acham que esse direito conseguido tão arduamente se reflecte unicamente na possibilidade de dizer porcaria na televisão? Está na altura de explicar a Portugal que a liberdade de expressão tem a ver com ideias e opiniões, com acção e actividade cívica.
E para os Fernandos Rochas que ganham a vida a repetir palavrões, aproveitando o atraso do País para viverem à grande, agora sim, justificar-se-ia usar as palavras e expressões que ele mais repete nos seus quinze minutos de vómito.

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