16/01/2004

A lei do aborto

Concordo que o aborto, em determinadas circunstâncias e até um determinado prazo, seja despenalizado. Porque acredito que cada um tem o direito de fazer as suas próprias escolhas. Porque acredito na profunda liberdade de cada um, mesmo que seja para errar, se for o caso. Mas, apesar disso, continuo sem perceber se vale a pena voltar a fazer uma pergunta cuja resposta já foi dada. E, apesar de acreditar na liberdade, confesso que tenho medo de que, numa sociedade tão à deriva como a portuguesa, tal acto de último recurso passe a ser visto como um método contraceptivo e seja praticado com mais frequência do que a desejada.
E continuo a acreditar também que, apesar de querer que cada um tenha a liberdade de escolher o seu caminho, um aborto é um atentado à vida, seja em que circunstância for. Eu, pelo meu lado, nunca o apoiaria. Mas isso sou eu. Cabe a cada um decidir em consciência a sua opção e, para isso, é necessário dar a cada um a liberdade de poder decidir.
No entanto, ressaltam algumas dúvidas. Quando, há poucos anos, houve o referendo, a população portuguesa respondeu e escolheu um caminho. Será que não se deve respeitar essa decisão? Que argumento tem a esquerda para voltar a colocar o assunto na berlinda, se ele foi decidido pelas mesmas pessoas que irão voltar a pronunciar-se? Será que é legítimo repetir a pergunta? E se a resposta for a mesma? Exigir-se-á outro referendo a seguir, até que o resultado seja, finalmente, o pretendido?

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