Duarte Pio e Cavaco Silva mostraram ambos claramente, na sequência do falecimento do único Prémio Nobel da Literatura português, a razão pela qual Portugal é hoje um País triste, pobre de corpo e mente, sem moral e sem educação.
O Presidente da República faltou ao último adeus a Saramago. Aparentemente temos um presidente que não é grande sequer o suficiente para esquecer questões pessoais e homenagear um dos maiores baluartes da cultura portuguesa de todos os tempos. Excelente exemplo, “senhor” Presidente. Terá toda a moral do mundo para qualquer discurso que fizer de agora em diante.
Quanto ao pseudo-rei de Portugal, este teve, segundo o tvi24.pt, o desplante de, nesta hora, acusar Saramago de ser inimigo de Portugal. Ora, que eu saiba, fez mais por Portugal um só romance ou crónica de Saramago, traduzidos por todo o mundo, do que fez este senhor em toda a sua vida, sendo rei ou não. Aliás, o único bom contributo que Duarte Pior tem dado a este nosso pobre País é o de mostrar que, por muito maus que sejam os nossos governantes, estaríamos ainda pior se houvesse uma monarquia em Portugal.
E, mesmo não tendo sido um filme brilhante, até Hollywood se rendeu ao talento de Saramago, com “Blindness”, realizado por um dos maiores directores da actualidade. Como piada, consigo imaginar apenas o que na vida de Duarte Pio poderia inspirar um filme.
Talvez uma nova aventura de Mister Bean.
20/06/2010
Duarte Pio, Cavaco, Saramago e o Mister Bean
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 22:55 2 comentários
Um obrigado a Saramago
Esperei dois dias para tentar encontrar algo realmente diferente que expressasse o que a leitura de Saramago significou para mim até agora. Mas volto sempre à primeira ideia que tive. Simplesmente colocar a última frase do "Memorial do Convento", uma dos mais extraordinários romances de sempre e, no caso, o desfecho perfeito do mais comovente e poderoso último capítulo que li até hoje.
Despeço-me assim de Saramago, com quem em tempos, partilhei uma alegria. Estávamos, se a memória não me atraiçoa, em 1998. Saramago ganhava o Nobel da Literatura. Eu tinha acabado de ganhar o prémio "Prosas de Estreia", com o meu primeiro romance, “A Rainha de Copas”. Dimensões completamente diferentes, claro.
Mas, numa sessão de autógrafos, estando eu na fila para que me autografasse o Memorial e o Ensaio, a conversa desenrolou-se, não me lembro bem como. Mas sei que terminou com o Nobel a dar-me os parabéns e a desejar-me sorte para o resto da minha carreira. Lembro-me de quão pequeno me senti no momento. Exactamente como me sinto agora, ao escrever estas linhas.
Mas, ainda assim, não me ocorre melhor final do que este, para dizer muito obrigado a Saramago, o escritor:
"Então Blimunda disse, Vem. Desprendeu-se a vontade de Baltazar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda."
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 22:45 0 comentários
23/05/2010
Um abraço para o Beto
O Beto partiu desta vida e deixou o País realmente mais pobre. Era humilde, simpático e tinha um talento incrível. Uma voz lindíssima. Ainda há duas semanas tinha estado a falar com ele, relembrando um seu concerto que tive a honra e oportunidade de produzir em Peniche na sequência de um dos seus CDs, no Festival Sabores do Mar, lá para 2004.
Parece impossível que a vida seja assim tão frágil. Mas é. É por isso que a temos que aproveitar como se cada dia fosse o último.
Um grande abraço para o Beto e as condolências para a sua família.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 21:14 0 comentários
10/05/2010
A Luz. Ao fundo dos túneis.
O Benfica é o justo campeão. É a melhor equipa de Portugal. É-o neste momento e foi no passado. Sim, porque se quisermos falar do passado, não vejo porque se há-de falar apenas nos dez anos anteriores. Passado é passado, todo ele, todo junto, é a história no seu todo, não apenas o período que dá jeito a alguns. E o presente é o agora. Onde é o campeão. Sim, também o tempo é benfiquista.
Mas, como campeões, pensa-se agora no futuro. Os vencedores nunca descansam nos louros. Querem sempre mais.
O Braga surpreendeu-me esta época. Mostrou que já tem alguma estrutura e estofo de campeão. Pelo menos no que diz respeito aos adeptos, que já são iguais às claques do FC Porto, que tem sido uma equipa de sucesso nos últimos anos. Alguns deles já são maus perdedores e ordinários que vandalizam ruas e não aguentam a felicidade dos outros. Parabéns.
Falcão é bom jogador. Lutador, inteligente, boa técnica, excelente no jogo aéreo. Mas, sendo falcão, não podia ser águia. E Cardoso é. Águia, monarca dos céus.
Mas enfim, deixando de falar de futebóis, alguém me explica a razão de hoje o país estar mais sanguíneo, mais "vermelhamente" apaixonado? E de as pessoas andarem na rua um pouco menos "blue"?
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 12:42 1 comentários
01/05/2010
Um punhado de cobardes
Em 1999, o húngaro István Szabó escreveu e realizou um filme notável chamado Sunshine. Neste filme, cujo papel principal é interpretado pelo brilhante Ralph Fiennes (A Lista de Schindler, O Paciente Inglês), ficamos a conhecer a história de uma família húngara, de apelido Sunshine, que, ao longo dos tempos do holocausto nazi, sobrevive através da venda de um elixir milagroso de cuja fórmula é a orgulhosa proprietária.
No entanto, pelo meio de toda a trama, cheia de desencontros familiares, amorosos e de conflitos religiosos e de honra, existe uma cena que me parece particularmente interessante. Em pleno campo de concentração nazi, um grupo de quatro ou cinco soldados alemães humilha uma multidão de judeus prisioneiros. No meio de toda a perplexidade e nojo gerados pela cena, sobressai um pensamento: não poderiam aquelas centenas de prisioneiros ter subjugado o punhado de soldados, mesmo que armados? Os soldados alemães apenas poderiam eliminar uns quantos prisioneiros antes de serem detidos. Então por qual razão é que os prisioneiros não se rebelaram?
É o medo de dar o primeiro passo que impede o real progresso da sociedade, o medo de atacar os poucos soldados que possuem uma arma, apesar de estarem em clara inferioridade. É preciso que alguém dê o primeiro passo, que dê o exemplo, caso contrário os déspotas e ditadores ficarão sempre no comando, não por real valor, mas por omissão dos opositores.
Mas este não é um mal exclusivo dos tempos de guerra ou dos regimes fascistas. Também em regimes democráticos, onde o povo tem o direito de votar e escolher os seus representantes e governantes, e temos alguns exemplos bem aqui perto, acontecem situações de ditadura, onde ninguém consegue dar o primeiro passo para mudar o rumo das coisas. Quando alguém detém o poder durante muito tempo, cria vícios, laços de comunicação e dependências que são difíceis de quebrar e que servirão para manter essa mesma soberania por muito tempo, nem sempre de forma justa. A verdade é que quem detém o poder pode usá-lo para o perpetuar, através do medo e da arrogância, das esmolas pontuais e cirúrgicas que fazem esquecer os maus momentos.
Encontram-se então pessoas que são heróis enquanto falam baixinho nos cafés, mas que mandam calar os outros quando se aproxima um estranho, que criticam opções e comportamentos dentro de quatro paredes, mas que dizem ámen fora delas. Que vendem o seu comportamento em troca de um subsidiozinho, como faz um animal quando tem fome e se roça nas pernas do dono para que este o alimente. Que nas casernas maldizem os inimigos, mas se perfilam em frente ao pelotão de fuzilamento como se não existisse escolha. Que não se lembram que podem lutar de facto, rebelando-se em busca de alternativas contra os soldados que detêm as armas mas que são muito poucos e frágeis e, se calhar, ainda mais medrosos e cobardes do que os próprios prisioneiros.
Somos assim, na maior parte dos casos. Não apenas em situações limite, mas em quase todos os momentos e escolhas do dia-a-dia. É preferível deixar os pequenos poucos decidirem por nós e aceitarmos tudo com um encolher de ombros e a famosa frase “é a vida”. É preferível contentarmo-nos com as migalhas do que há, do que buscar pelo que realmente queremos, só porque é difícil. É fácil escudarmo-nos em críticas à sociedade, aos outros, ao azar. É fácil não reparar que somos nós que desistimos, somos nós que não lutamos o suficiente, somos nós que nos rendemos.
Mas, ainda hoje, depois de experimentar tantos falhanços, porque também os há, depois de tantos objectivos falhados ou incompletos, ainda assim, ainda hoje continuo a acreditar que, com uma atitude determinada, cheia de humildade corajosa, de perseguição tenaz dos objectivos independentemente das dificuldades, mas sempre com o sentido de comunidade, é possível conseguir-se alcançar os sonhos pessoais. E, consequentemente, é possível trazer mais coragem e solidariedade para a população em geral.
Enquanto tal não acontecer, enquanto não houver esse sentido de lutar pelo que acreditamos até morrer, independentemente das consequências, estaremos sempre predestinados a ser humilhados por um punhado de cobardes que têm nas suas mãos uma meia dúzia de armas.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 20:19 2 comentários
08/04/2010
Porque duvidaste, Jesus de pouca fé? (crónica de um benfiquista desiludido)
Jorge Jesus tem feito um grande trabalho à frente do Benfica. Isso não está minimamente em causa e, neste momento, se mandasse algo no clube, não o trocaria por nenhum outro treinador.
Posto isto, acredito no entanto que, hoje, Jorge Jesus foi pequeno demais para o Benfica. Aliás, provou, de uma vez por todas, que, graças ao seu conhecimento táctico, à sua capacidade de melhorar aspectos técnicos nos jogadores, etc, podia ser um dos melhores do mundo, mas que, para isso, precisa ainda de largar a mentalidade de medo e pequenez que tantas vezes acompanha o povo português, do qual ele é um tão típico representante.
Mas, infelizmente, ao contrário de Mourinho, que aceita ser um vencedor, afirma-o perante tudo e todos, e é por isso o melhor, Jorge Jesus não tem esse espírito de vitória. Está habituado a clubes pequenos, que lutam para não descer ou para ir à Liga Europa, está habituado a que qualquer bom resultado seja já uma vitória grande para o clube. Mas no Benfica isso não chega. E há momentos em que perceber de algo, seja no futebol ou em qualquer outra matéria, não é tudo. É preciso mais do que isso, é preciso ter alma e coragem. Sim, porque o futebol, às vezes, não é apenas futebol. Às vezes é também uma metáfora da vida. E hoje ficou provado isso. Raramente aquele que se previne, aquele que faz as suas escolhas contando com o falhanço ou com a derrota, aquele que joga pelo seguro, raramente esse triunfa. Esse, quanto muito, na melhor das hipóteses, não perde. Mas quem ganha realmente algo, e isto é uma lei da vida, não do futebol, é quem tem coragem e aceita criar o seu caminho.
Jorge Jesus quis perder o jogo de hoje. Andou a semana toda a apregoar o casaço que os seus jogadores sentiam por ter sido adiado o jogo com a Naval. Mas foi decisão sua. Andou a época toda a dizer que só queria o campeonato, retirando a grandeza europeia a um Benfica que tem história suficiente para a exigir e que, inclusive, já tinha mostrado estar à altura. Mais uma vez avisou dos perigos do cansaço de um onze que não tem sido rodado, também, digo eu, por medo, já que em alguns jogos durante o campeonato, em casa contra equipas francamente mais fracas, alguns jogadores podiam ter sido poupados, dando hipóteses a outros jogadores de ganhar ritmo competitivo e não sobrecarregando os titulares habituais.
Depois, a sua parte táctica, normalmente impecável, foi incompreensível hoje. Jorge Jesus apostou no inenarrável guarda-redes Júlio César em toda a competição europeia. Teve sorte nos primeiros jogos pois a equipa respondeu bem à sua insegurança, mas a verdade haveria de vir ao de cima mais cedo ou mais tarde. E hoje veio quatro vezes ao de cima. Sim, quatro, porque o golo sofrido por Moreira já é uma consequência de tudo o resto feito anteriormente. O brasileiro poderá um dia vir a ser um bom guarda-redes, mas ainda não o é. E muito menos para uma prova como esta.
Depois, como se não bastasse tudo isto, Jorge Jesus fez experiências na defesa num jogo desta importância. Como é possível que tenha tirado Maxi Pereira do onze inicial, logo ele, o mais batalhador de todos os jogadores do Benfica, ainda por cima quando ele está suspenso contra o Sporting e não era necessário poupá-lo? E Coentrão também não merecia uma hipótese de mostrar a sua raça? E não seria interessante ter esses dois laterais em campo, tão ofensivos, para meter em sentido as alas do Liverpool e evitar os cruzamentos para Torres?
E qual a razão para Jorge Jesus desfazer a melhor dupla de centrais dos últimos anos do Benfica, colocando David Luiz na esquerda e lançando um jogador que tem potencial mas que não joga e não tem ritmo, no centro da defesa, mesmo ali na área de intervenção de um dos melhores avançados do mundo, Fernando Torres?
O Liverpool não é melhor do que o Benfica. Exceptuando Torres, Gerrard e o Kuyt, nenhum jogador do Liverpool conseguiria ter de caras lugar como titular neste Benfica. E, como o Liverpool não é melhor do que o Benfica, não foi o Liverpool que ganhou o jogo. Foi o Benfica que o perdeu.
Claro que alguns benfiquistas vão falar do árbitro. E sim, o árbitro erra, parece-me, no lance do primeiro golo. Mas, além de ser um lance discutível, já na primeira mão o Benfica beneficiou de dois penalties e teve algumas felicidade na expulsão do jogador do Liverpool, pelo que não se pode usar a arbitragem como razão para a eliminação.
A derrota esteve na atitude. É caso para dizer que o espírito de ser coitadinho, o complexo de não ser capaz, o mais valer contentar-me com pouco do que arriscar tudo, esse mesmo espírito mesquinho que acompanha o nosso País, abateu-se sobre o Benfica, afinal de contas, seu representante além-fronteiras.
Obviamente que, mesmo que agora os jogadores se desmoralizem, o Benfica vai ganhar o campeonato. Tem uma vantagem confortável demais a cinco jornadas do final e o Braga, que é o único que racionalmente ainda pode chegar ao título, não tem estaleca para vencer os jogos todos, como por exemplo a deslocação ao Funchal para defrontar o Nacional. Mas, depois da forma como se deu esta derrota, mesmo vencendo Campeonato e Taça da Liga, fica um sabor amargo a pouco. Não porque o Benfica tenha obrigação de ganhar provas europeias. Mas porque o podia ter feito, se tivesse tido vontade para tal.
Seria interessante e irónico ver agora uma inversão da história bíblica e, perante o afogar do Benfica, ver-se, no banco, Rui Costa, vestido de São Pedro, ele tão habituado a ser vencedor, a ganhar troféus, a ter atitude de campeão, virar-se para Jesus e perguntar “Porque duvidaste, homem de pouca fé?”.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 23:25 0 comentários
01/04/2010
A Desconstrução da Alma
Tenho um jogo que quero jogar contigo. E se eu desconstruísse a tua personalidade? Se me limitasse a repetir mentiras ao teu ouvido de tal forma que elas se tornassem a tua verdade? Tens consciência de que há verdades diferentes para cada um de nós, não tens, que cada ser tem o seu próprio universo e individualismo, que o azul que eu vejo é diferente do que tu vês e que o sabor de canela é distinto para cada um de nós?
Mas imagina: e se eu te repetisse mentiras de forma constante, de forma séria e abnegada, até que acreditasses serem essas palavras a mais pura das verdades? Ficarias impávido e sereno à espera que tudo voltasse ao normal e que a mentira se desvanecesse no éter, ou adoptarias um novo estilo de vida e tentarias adaptar-te à nova realidade, mesmo sendo discordante dela?
E se eu te enchesse de ideias preconcebidas sobre Deus e o Diabo, sobre o paraíso e sobre a salvação, sobre o inferno e o purgatório, sobre as regras da sociedade, se eu te obrigasse a viver debaixo do seu jugo e declarasse que eram as únicas regras possíveis, mesmo que castradoras, mesmo que fossem contra a tua natureza? Se eu te dissesse para não saltares, para não cantares? Que a tua voz não é bem vinda para o que te rodeia, que não poderás nunca ser o que sonhas, que tens que seguir protocolos e ritos, adaptar-te a tudo, esquecer-te da natureza, do instinto que te liga ao universo?
Se eu te ordenasse que sejas o que detestas, que sejas o que não és, que saboreies o que não gostas? Se eu te agredir e obrigar a esquecer as coisas que desejas e te contentes com ilusões e o que todos os outros têm, com a rotina e o tempo? Se eu te obrigar a esquecer as pessoas que amas e os sonhos que te invadem de noite, se eu te condenar a que sejas no dia uma sombra do que podias ser, frágil e trémulo, ansioso pelo sono, pela liberdade do sonho? E, depois, com uma gargalhada, se até o sonho te roubar? Se te proibir de dormir, te obrigar a ficar acordado a olhar o vazio, sem poderes pensar em nada?
Terias medo? Pavor, talvez? Vontade de gritar? E se eu te tirasse a voz? Se quisesses gritar e não conseguisses, se abrisses a boca, mas não saísse qualquer som, se te quisesses mover, mas fosses uma estátua de pedra?
E se eu te colocasse uma arma na mão e gritasse? Se eu bradasse para que te escondesses na conformidade e defendesses o que vês daquilo que não vês, mas que ainda assim é real, que enche o ar apesar de apenas o sentires mas não ser visível? Talvez te dissesse que o ódio é o alimento do futuro, o único capaz de crescer, de ficar cada vez maior, intenso, apaixonante, até que tudo o resto seja consumido e apenas tu existas, com a arma na mão, a gritar para o infinito, nesse vórtice de ódio e loucura.
Se eu te apontasse um holofote para os olhos e jurasse que o amor não existe? E se jurasse tantas vezes que o amor não existe que isso mesmo se tornasse uma verdade para ti, se a luz te encadeasse de tal forma que pensasses ser um axioma inviolável? Ainda escreverias cartas como escreves? Ainda chorarias ao ver filmes românticos ou a pensar naquela pessoa que perdeste? Ainda lutarias como um louco pela felicidade e rezarias a pedir ajuda a Deus mesmo sem O conhecer ou sem acreditar na Sua existência?
E se, depois de te desconstruir a alma, depois de te desprogramar, como se faz aos computadores, eu te largasse no meio do mundo? Como reagirias? Ficarias assustado? Lutarias com unhas e dentes para regressar à antiga realidade? Ou irias para casa e ficarias fechado no teu quarto, encolhido sobre ti mesmo, sem querer ver o que te rodeia, sem querer sentir outra vez aqueles cheiros antigos e perfumados, que te trazem recordações que anseias serem outra vez realidade, o cheiro da liberdade de acção e de escolha, a capacidade de criar a tua vida a cada momento, sem medo, sem constrangimentos, sem regras, aqueles cheiros que te trazem outra vez à memória as paisagens, as paisagens flutuantes que te pairam na memória e te uivam na alma? Serias um autómato consciente das limitações do ser, consciente de que és apenas parte do que podias ser, de que és castrado, infeliz, miserável, apesar de todas as aparências e de todas as recompensas falsas?
E se esperneasses, se te revoltasses? Se, apesar do medo e do abismo, corresses para fora do casulo que construí em teu redor? E se descobrisses então que o amor existe e está em todo o lado, que o amor é criação pura, liberdade e coragem e é afinal a única redenção? E se uma simples carícia fosse capaz de reprogramar-te outra vez e de devolver a tua personalidade? E se uma só palavra fosse capaz de te fazer abandonar o mal? E se um beijo te fizesse esquecer de que tens medo do escuro e te permitisse sentir as coisas com verdade?
E se os anjos de asas brilhantes e os demónios de cornos e cauda não passassem de mentiras e apenas existissem pessoas, pessoas, com coisas boas e más, defeitos e virtudes, mas com luz, com individualidade, com liberdade, com verdade, com capacidade de criar e de amar, de sonhar e de caminhar?
E se tu fosses apenas uma delas, apesar o negares?
(excerto da peça de teatro homónima que publiquei no ano de 2003)
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 02:37 3 comentários
29/03/2010
Descobrir a poesia da vida
Provavelmente, lido assim de repente, o nome Beatriz Russo (leia-se Beatrice, com o devido e magnifico sotaque italiano) não lembrará nada aos leitores deste texto. No entanto, alguns lembrar-se-ão de quem se trata, se referir que foi a musa inspiradora de Mário Ruopollo, o carteiro-poeta que levava cartas ao exilado Pablo Neruda no belíssimo filme de 1994, realizado por Michael Radford, “O Carteiro de Pablo Neruda”.
Nesta obra, que prova mais uma vez a sensibilidade e o mundo de afectos do cinema italiano (vide também “A Vida é Bela”, “Cinema Paraíso”, “Malena” ou “La Strada”), encontramos, além de momentos de grande beleza, um grande tratado sobre a vida. É por trás das coisas, neste caso das imagens e das palavras, como ensina Neruda ao jovem aprendiz de poeta Mário, que se encontra a magia e a poesia.
E é por isso que, celebrando o recente Dia da Poesia, escrevi esta crónica para um jornal da região onde vivo, o Área Oeste. Porque o próprio filme é uma celebração da poesia, de Pablo Neruda, mas, mais do que isso, do próprio acto da criação poética.
“O Carteiro de Pablo Neruda” coloca-nos perante duas poesias diferentes, a que existe nas palavras, inventadas para que o ser humano possa recriar, compreender e comunicar o que o rodeia, e o próprio mundo em todas as suas vertentes, com toda a sua beleza e crueldade naturais. Em todas as coisas existe poesia. Este é um pensamento aparentemente lírico e comum, mas que é partilhado até pela raiz da própria palavra, que no original grego poiesis significa “acção de fazer alguma coisa”, o que pode ser extrapolado para “acção de criar alguma coisa” ou “acção criadora”. Então, se a acção criadora é poesia, todo o universo, enquanto criação, é o grande, o maior poema que existe. É isso que Pablo Neruda ensina ao jovem Mário e que o leva a conseguir apaixonar-se de uma forma intensa e metaforicamente afectuosa pela inesquecível Beatriz Russo (a incrivelmente bela Maria Gracia Cuccinotta na foto ilustrativa deste post).
Penso, por isso, nessa poesia eterna e constante que se respira em tudo o que existe, não apenas nas paisagens inspiradoras ou no sentimento amoroso, mas também nas coisas tristes e melancólicas, até na morte, desencadeadora de emoções, memórias e medos afectos.
Essa poesia, ou antes, essa “acção de fazer alguma coisa”, tem andado arredada do espírito do Homem, que se deixa ofuscar pelos sentimentos negativos e pela incapacidade de reagir perante um mundo perfeito e cheio de caminhos para escolher. Sem perceber essa dança divina, esse sopro constante que nos percorre em todos os momentos. No filme, foi depois de falar com Neruda e de partilhar o olhar e o sorriso de Beatriz Russo, que Mário resolveu alterar radicalmente a sua vida, sem rumo e sentido, e tornar-se poeta, descobrir e cantar as coisas belas da vida e até conquistar o seu amor, aparentemente impossível.
É a capacidade de perceber que existem diferentes realidades e universos dentro de uma mesma vida e saber que se pode alcançar cada um deles, desafiando o que existe. Não criar, não inovar, seguir sempre os mesmos caminhos e ficar escondido dentro do ninho quente, é desrespeitar a capacidade criadora que nos foi dada.
É preciso então descobrir a poesia da vida. Ou deixá-la descobrir-nos. Ou, como escreveu Pablo Neruda, “E foi naquela época... / A poesia chegou e procurou-me. / Eu não sei, não sei de onde veio, / se de um inverno ou de um rio. / Eu não sei como nem quando. / Não, não eram vozes, / não eram palavras, nem silêncio; / mas de uma rua eu fui chamado abruptamente / dos ramos da noite, dos outros, / no meio de um tiroteio violento, / e num retorno solitário lá estava eu / sem um rosto... e ela tocou-me”.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 03:01 1 comentários
12/03/2010
A partilha da angústia (texto longo)
Aconteceu-me isto: de noite, já avançada, caminhava lado a lado com um amigo. Dirigia-me para um bar, onde planeava conviver e passar uma noite animada. Andava um pouco desanimado porque havia já algum tempo que não conseguia alcançar aquele estado de inspiração que me leva a escrever a um ritmo alucinante. Por isso, precisava urgentemente de me divertir e distrair.
À entrada do referido bar, fomos abordados por um homem. Era de média estatura e lembro-me que usava um casaco azul. O seu casaco, a barba por fazer e a garrafa na mão são as únicas lembranças físicas que retenho dele. Estava nitidamente embriagado. Cambaleava e falava com a voz entaramelada. O hálito era insuportável, numa mistura de vinho e cerveja. O meu amigo, pouco paciente para estas situações, continuou a avançar em direcção ao bar, sem pausar para ver o que ele desejava. Eu, pelo contrário, ouvi o que me queria dizer. Não me recordo do que me contou de início. Mas sei que, de repente, perguntou-me se fazia ideia da razão pela qual estava embriagado daquela maneira. Respondi-lhe que não.
“Estou a comemorar o décimo aniversário do meu filho”, disse.
Obviamente que o olhei com um ar de reprovação. “Não era melhor estar em casa com ele, em vez de estar aqui na rua, com pessoas que não conhece?”, perguntei eu, cheio de moralidade.
“Talvez", respondeu, "Mas é que, ao mesmo tempo que festejo o aniversário dele, estou também a fazer um luto”.
“O quê?”, perguntei, verdadeiramente curioso, enquanto o meu amigo, furioso, me fazia sinais para largar o homem.
“O parto do meu filho foi difícil. Foi uma cesariana de muitas horas, mas o médico não desistiu e conseguiu salvar o meu filho e a minha mulher. Porém, nesse mesmo dia, enquanto salvava a vida da minha criança, o filho dele morria num acidente de automóvel”, explicou.
Era essa a causa da sua embriaguez: a partilha do sofrimento do homem que tornara possível que tivesse um motivo de alegria. O homem continuou a falar, mas não me consigo lembrar do que disse. Eu já não estava em condições de continuar a conversar. Algo se tinha acendido dentro de mim. Despedi-me dele, entrei no bar e informei o meu amigo que ia para casa. A inspiração voltara; precisava de escrever.
Desde então nunca mais vi esse homem do qual, lamentavelmente, nem o nome conheço. Ou então, provavelmente, passa por mim todos os dias, mas usa agora um casaco diferente e anda com a barba mais cuidada e sem o passo cheio de vinho. Não sei onde o posso encontrar e há poucas coisas na vida que lamente mais que isso, do que não ter sido capaz de esperar mais um pouco quando se reacendeu aquela chama de inspiração dentro de mim, e de o ter ouvido mais um pouco.
Afinal de contas, gostava de lhe poder explicar que, mesmo sabendo que isso em nada minimizaria a sua dor, naquela noite em que ele festejava e lamentava em simultâneo o nascimento do seu filho, ele tinha ajudado a que renascesse um escritor.
Escrevi depois isto:
O homem de casaco azul e barba por fazer chega a casa já muito depois da madrugada nascer. Cambaleante, dirige-se para o quarto do filho. Abre a porta devagar e aproxima-se da cama. Como está embriagado, tropeça num brinquedo e faz barulho. O jovem acorda assustado.
“Não te assustes”, diz o pai, “Sou eu. Vinha dar-te as boas noites”.
O jovem olha-o no escuro e reconhece a silhueta. “Porque não estiveste comigo hoje?”, pergunta, sentido, no seu jeito de criança, sobrancelha franzida, mãos nervosamente a enrolarem-se uma na outra.
“Estive contigo sempre”, responde o pai, serenamente embriagado.
“Não te vi”.
“Há coisas que não se vêem: sentem-se”
O pai senta-se na borda da cama e afaga o cabelo do filho. Este faz uma careta, igual à que faz quando não gosta da sopa que lhe dão, e diz: “Tens a boca a cheirar mal!”.
“Pois tenho... sinto-a amarga.”, responde, sem conter um sorriso. Abraça depois o filho com força e começa a chorar.
O filho, sem saber porquê, limita-se a falar:
“Gostava que tivesses estado aqui. Mas estou contente por agora estares”.
“Estou e vou estar sempre contigo”.
Abraçam-se ainda com mais força porque são pai e filho e nem o vinho vai separar estes dois. A criança, a quem não consigo inventar um nome, desculpa-o pela ausência, percebendo que tem uma vida de ensinamentos e brincadeiras pela frente. Ao mesmo tempo, o amargo da boca do pai começa a desaparecer; afinal não era vinho, era desgosto, e aquele abraço ajudou-o a dilui-lo.
Não sei se foi isto que aconteceu depois de ter deixado o homem entregue ao seu misto de alegria e angústia. Mas, na ausência de encontrar outra vez o meu amigo dessa noite, gosto de pensar que foi assim que tudo se passou.
Às vezes, imaginar que o que escrevo se tornou realidade faz de mim um homem muito mais feliz.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 00:13 2 comentários
08/03/2010
Pequeno Conto para o Dia da Mulher (texto longo)
Já escrevi este conto há uns anos e já o utilizei algumas vezes em outros locais. Mas como uma amiga me lembrou dele e o seu título original era "Pequeno Conto para o Dia da Mulher", resolvi voltar a colocá-lo aqui na íntegra, dedicado outra vez, claro, a todas as mulheres.
1. Dizia-te coisas muito parvas e sem qualquer sentido, melosas, demasiado melosas eu sei, capazes de fazer torcer o nariz às pessoas menos habituadas a lidar com palavras doces, tão habituadas à rudeza das coisas, à rugosidade do dia-a-dia e à velocidade dos sentimentos. Dizia-te por exemplo: quando te vejo, sinto flores a crescerem nas minhas mãos. Ou então: não sei como é que o sol consegue nascer sem te ver primeiro. Ou ainda: quando vejo o teu sorriso, sinto que ganho asas e que sou capaz de voar. Mas não me importava nada de parecer tonto ou ingénuo, não me importava de te repetir lugares comuns ou palavras de um romantismo exagerado; o que me interessava era que o resultado das minhas palavras era sempre o mesmo, fossem as minhas palavras quais fossem, e esse resultado era o teu sorriso, depois o sabor doce dos teus lábios e as cócegas que o teu cabelo comprido fazia no meu peito nu.
2. Há muitas coisas que nunca te contei, mas que gostava agora que soubesses. Um dia disseram-me que os anjos não comunicam da mesma maneira que os humanos, por palavras, mas sim por vibrações. E nessas vibrações eles não entendem a palavra não. Por isso, para nos entenderem, temos sempre que ser afirmativos e positivos. Achei tanta piada a isto que, a partir desse dia, quando te levantavas devagar da cama e te preparavas para ir embora, já não te pedia para não ires, como fazia tantas vezes. Em vez disso, dizia-te apenas: fica. Ainda não sei se eras mesmo um anjo ou não. Talvez fosses, acho que nunca saberei. Mas a verdade é que ficavas sempre mais um pouco, quando eu te dizia simplesmente para ficares.
3. Algumas das vezes em que aparecias sem avisar na minha casa, depois de pousares a mala no sofá e de acariciar o pelo macio dos gatos, depois de espalhares o teu cheiro a flores silvestres pela sala, olhavas-me nos olhos e dizias que querias ficar sozinha comigo no meio de uma multidão. Das primeiras vezes não percebia o que querias dizer, porque era uma frase confusa e porque ainda estava atordoado pela tua aparição súbita, que me enchia sempre de uma alegria contagiante de criança e me deixava capaz de fazer as coisas mais loucas, de dar cambalhotas ou de fazer o pino, de sair para a rua e gritar o que sentia, sei lá, ficava assim, vê bem como ficava, completamente eufórico e inconsequente. Mas, mesmo sem perceber o que querias dizer, confiava em ti cegamente. Não podia fazer outra coisa, se ficava assim, assim de uma forma que não te consigo descrever bem, atordoado, acho que é a palavra mais parecida com aquilo que te quero dizer, sem forças para te dizer que não. Era por isso que te seguia para onde me levavas. E então, porque te seguia cegamente, fosses tu para qualquer lado, íamos sempre para onde houvesse muita gente, para onde houvesse muita confusão e gritaria, para o meio de um estádio de futebol num dia de jogo importante, para a estreia de um filme de grande sucesso, ou para a pista principal de uma discoteca ao fim-de-semana. E tinhas razão. Tudo o que nos rodeava desaparecia quando ficávamos os dois sozinhos, no meio daquelas coisas todas, como se ambos conseguíssemos existir no vazio e os outros estivessem ali apenas para assistir ao enlaçar das nossas mãos.
4. Uma das coisas que mais admirava em ti era a tua serenidade. Não sei como conseguias nunca te irritar perante nada, nem mesmo quando os problemas apareciam em catadupa e pareciam querer engolir tudo. Reagias às contrariedades de uma forma bem diferente da minha, sempre com leveza e suavidade, como se o mundo fosse uma coisa lógica e capaz de se remendar a si próprio com toda a facilidade. Lembro-me bem: olhavas calmamente para mim enquanto eu desfiava os problemas, assustado, sentindo-me perdido no meio do negrume. Depois, quando me calava, acendias um cigarro. Olhavas para a chama do isqueiro, como se fosse uma luz que iluminasse a escuridão, e depois para o fumo que invadia o ar. Olhavas outra vez para mim. Não era o isqueiro a verdadeira chama, afinal. Dizias: tem calma. E eu tinha. Tinha toda a calma do mundo. E os problemas desapareciam no ar, como o fumo do teu cigarro.
5. Queria que esta história nunca terminasse e que pudesse escrevê-la para sempre, mesmo que fosse demasiado romântica e que me repetisse vezes sem conta. Ou então, queria que fosse como os dias, que morrem, mas depois voltam a nascer e seguem este ciclo eterno, seguindo uma tradição que nunca será rompida pelo tempo. É por isso que me recuso a escrever mais alguma coisa sobre ti, que faço um esforço titânico para não relembrar mais nada que se tenha passado entre nós. Para que continue sempre invadido da esperança de que tudo regresse e que nunca chegue o momento em que tenha de terminar uma última frase sobre ti com um ponto final, detesto esta palavra, final, para não ficar com a eterna sensação de que existem dias que, quando terminam, não voltam a nascer; seja porque o sol está morto de saudades, ou porque a lua não consegue parar de chorar
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 15:58 4 comentários
06/03/2010
Fazer ou pensar
Acredito que, na maior parte dos casos, ter cautela e ponderar demoradamente nos problemas em busca de soluções lógicas é um exercício que se prova, além de cansativo, desgastante e violento para o Homem, perfeitamente inútil.
Seria de facto útil apenas se pudéssemos unir ao dom do pensamento o dom da adivinhação; aí sim, faria sentido escolher qual o caminho a seguir, na certeza de que o resultado seria o escolhido, longe das influências dos imprevistos, das decisões tomadas pelos outros, do espontâneo da vida.
No entanto, como tal não é possível, acredito que a intuição e o impulso são, muitas vezes, a melhor solução. Ao menos aí vive-se o agora, o presente, em vez de se ficar sempre preso ao que irá ser, baseado no que foi.
Mas ninguém o explicou tão bem como Agostinho da Silva, que passo a citar:
"Conhecemos tão pouco da vida, do mecanismo complexo que deve ser este do mundo que, segundo me parece,o decidir-se não tem grande valor, senão no que respeita à estima que poderemos manter por nós próprios, à confiança que talvez seja absurda, mas que em todo o caso nos pemite o viver. Creio que, sejam quais forem as circunstâncias, tanto faz decidir-se atirando uma moeda ao ar; meditamos gravemente, pesamos todos os elementos, depois fazemos exactamente o que faria o homem que tendo visto apenas a milésima parte de um milímetro do dente de uma roda de engrenagem tivesse opiniões firmes sobre o género de papel ou de bolacha fabricada pela máquina que não a percebe no seu conjunto. Só por um extraordinário acaso se poderá acertar; temos todas as possibilidades, caro Amigo, de tomar sempre um decisão errada; a sorte da moeda ainda deve talvez ser a melhor, porque, pelo menos, suprime do sistema, já complexo, um elemento que pode perturbar: o da nossa vontade."
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 23:28 6 comentários
01/02/2010
Sessão sobre "Ao teu lado" em Almada
No dia 23 de Fevereiro de 2010, entre as 10:15 e as 13 horas, o escritor Luís Costa Pires irá estar presente na escola Secundária Francisco Simões, Rua Jorge Pereira, Laranjeiro, Almada, com o objectivo de participar em actividades de promoção da leitura, integradas no projecto da Biblioteca Escolar, “O escritor do mês”.
Irão ter lugar actividades de leitura, crítica literária, entrevista ao escritor, apresentação de uma fotobiografia e “conversa com livros”. A dinamização das actividades serão da responsabilidade da turma 10º B. O evento conta igualmente com o apoio técnico da produtora de televisão DUVIDEO. A entrada para o evento é livre.
Luís Costa Pires é autor dos romances "A Rainha de Copas" (1998 - Prémio Prosas de Estreia, em Segunda Edição), "Depois da Noite" (2000), "Mandrágora" (2002) e "Ao teu lado" (2008). Publicou também uma peça de teatro chamada "A Desconstrução da Alma" (2003). Além de romancista é guionista de cinema e TV e estudante de astrologia.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 19:34 2 comentários
Um amigo premiado internacionalmente
Há cerca de dez anos atrás, estava eu a trabalhar como chefe da secção cultural de um jornal chamado "Tribuna do Oeste" (uma das melhores equipas com que já trabalhei até hoje), quando travei amizade com um pintor chamado João Carlos. Ele estava também a iniciar-se na fotografia e demonstrava já enorme talento para esta arte. Conversa puxa conversa, acabei por convidá-lo a trabalhar comigo na Tribuna. Fizemos uma dupla de que hoje ainda me lembro com saudade, eu a escrever os artigos, ele a captar imagens. Recordo com particular atenção um artigo sobre as manifestações a favor de Timor que foi o exemplo perfeito de como trabalhámos bem em equipa.
O João seguiu depois para Lisboa e, daí, para Nova Iorque. Agora, com grande, grande orgulho, sei que venceu um prémio de fotografia importantíssimo a nível internacional.
Parabéns, João. Que continues sempre a realizar os teus sonhos e projectos.
Aqui fica a notícia retirada do Site da Lusa sobre o prémio.
A imagem de uma noiva, registada no Palácio Foz, em Lisboa, valeu ao fotógrafo luso-americano João Carlos o prémio Hasselblad Masters 2009, promovido por aquela marca sueca de máquinas fotográficas.
A fotografia foi considerada a melhor na categoria Social, de um total de dez áreas distintas da fotografia internacional, como Editorial, Paisagem, Retrato e Arquitectura.
João Carlos, 32 anos, radicado em Nova Iorque, venceu com uma fotografia de moda feita em 2004 no edifício do Palácio Foz, com uma criação de Susana Agostinho para uma produção de vestidos de noiva.
A produção resultou na edição de um calendário e numa exposição, com o autor a doar os lucros à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
"Estou contentíssimo, é muito prestigiante, um reconhecimento mundial que é muito bom, pelo título, pelo júri que escolheu os vencedores", disse João Carlos à agência Lusa, em reacção ao anúncio dos premiados.
Filho de pais portugueses, João Carlos nasceu em Nova Iorque, viveu em Portugal nos anos 1990, onde se formou em pintura, escultura e história de arte, e regressou aos Estados Unidos há dois anos.
O prémio Hasselblad Masters traduz-se na oportunidade dos vencedores poderem utilizar equipamento daquela marca sueca para a realização de um projecto que será publicado em livro.
Além disso, João Carlos foi convidado a assinar a nova campanha de imagem da Hasselblad Masters para os próximos dois anos, um convite que considera tão importante com a conquista do prémio.
O currículo de João Carlos inclui trabalho em diferentes áreas, do fotojornalismo a editorial de moda, de fotografia de cena em cinema a campanhas publicitárias.
Já trabalhou para as revistas Wallpaper, Umbigo, Cerimónia e Número e entre os seus clientes contam-se a Nike, Avon, Pfizer, Elite Models, L'Agence Models e Vodaphone.
Depois de uma temporada em Lisboa, João Carlos regressou há dois anos a Nova Iorque, cidade onde diz que o mercado é muito maior e onde é julgado apenas pelo seu trabalho.
"Estando em Nova Iorque já consegui trabalhos mais importantes em Portugal do que quando estava aí", disse o fotógrafo.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 18:00 1 comentários