20/06/2010

Duarte Pio, Cavaco, Saramago e o Mister Bean

Duarte Pio e Cavaco Silva mostraram ambos claramente, na sequência do falecimento do único Prémio Nobel da Literatura português, a razão pela qual Portugal é hoje um País triste, pobre de corpo e mente, sem moral e sem educação.

O Presidente da República faltou ao último adeus a Saramago. Aparentemente temos um presidente que não é grande sequer o suficiente para esquecer questões pessoais e homenagear um dos maiores baluartes da cultura portuguesa de todos os tempos. Excelente exemplo, “senhor” Presidente. Terá toda a moral do mundo para qualquer discurso que fizer de agora em diante.

Quanto ao pseudo-rei de Portugal, este teve, segundo o tvi24.pt, o desplante de, nesta hora, acusar Saramago de ser inimigo de Portugal. Ora, que eu saiba, fez mais por Portugal um só romance ou crónica de Saramago, traduzidos por todo o mundo, do que fez este senhor em toda a sua vida, sendo rei ou não. Aliás, o único bom contributo que Duarte Pior tem dado a este nosso pobre País é o de mostrar que, por muito maus que sejam os nossos governantes, estaríamos ainda pior se houvesse uma monarquia em Portugal.

E, mesmo não tendo sido um filme brilhante, até Hollywood se rendeu ao talento de Saramago, com “Blindness”, realizado por um dos maiores directores da actualidade. Como piada, consigo imaginar apenas o que na vida de Duarte Pio poderia inspirar um filme.

Talvez uma nova aventura de Mister Bean.

Um obrigado a Saramago

Esperei dois dias para tentar encontrar algo realmente diferente que expressasse o que a leitura de Saramago significou para mim até agora. Mas volto sempre à primeira ideia que tive. Simplesmente colocar a última frase do "Memorial do Convento", uma dos mais extraordinários romances de sempre e, no caso, o desfecho perfeito do mais comovente e poderoso último capítulo que li até hoje.

Despeço-me assim de Saramago, com quem em tempos, partilhei uma alegria. Estávamos, se a memória não me atraiçoa, em 1998. Saramago ganhava o Nobel da Literatura. Eu tinha acabado de ganhar o prémio "Prosas de Estreia", com o meu primeiro romance, “A Rainha de Copas”. Dimensões completamente diferentes, claro.

Mas, numa sessão de autógrafos, estando eu na fila para que me autografasse o Memorial e o Ensaio, a conversa desenrolou-se, não me lembro bem como. Mas sei que terminou com o Nobel a dar-me os parabéns e a desejar-me sorte para o resto da minha carreira. Lembro-me de quão pequeno me senti no momento. Exactamente como me sinto agora, ao escrever estas linhas.

Mas, ainda assim, não me ocorre melhor final do que este, para dizer muito obrigado a Saramago, o escritor:

"Então Blimunda disse, Vem. Desprendeu-se a vontade de Baltazar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda."

23/05/2010

Um abraço para o Beto

O Beto partiu desta vida e deixou o País realmente mais pobre. Era humilde, simpático e tinha um talento incrível. Uma voz lindíssima. Ainda há duas semanas tinha estado a falar com ele, relembrando um seu concerto que tive a honra e oportunidade de produzir em Peniche na sequência de um dos seus CDs, no Festival Sabores do Mar, lá para 2004.

Parece impossível que a vida seja assim tão frágil. Mas é. É por isso que a temos que aproveitar como se cada dia fosse o último.

Um grande abraço para o Beto e as condolências para a sua família.

10/05/2010

A Luz. Ao fundo dos túneis.

O Benfica é o justo campeão. É a melhor equipa de Portugal. É-o neste momento e foi no passado. Sim, porque se quisermos falar do passado, não vejo porque se há-de falar apenas nos dez anos anteriores. Passado é passado, todo ele, todo junto, é a história no seu todo, não apenas o período que dá jeito a alguns. E o presente é o agora. Onde é o campeão. Sim, também o tempo é benfiquista.

Mas, como campeões, pensa-se agora no futuro. Os vencedores nunca descansam nos louros. Querem sempre mais.

O Braga surpreendeu-me esta época. Mostrou que já tem alguma estrutura e estofo de campeão. Pelo menos no que diz respeito aos adeptos, que já são iguais às claques do FC Porto, que tem sido uma equipa de sucesso nos últimos anos. Alguns deles já são maus perdedores e ordinários que vandalizam ruas e não aguentam a felicidade dos outros. Parabéns.

Falcão é bom jogador. Lutador, inteligente, boa técnica, excelente no jogo aéreo. Mas, sendo falcão, não podia ser águia. E Cardoso é. Águia, monarca dos céus.

Mas enfim, deixando de falar de futebóis, alguém me explica a razão de hoje o país estar mais sanguíneo, mais "vermelhamente" apaixonado? E de as pessoas andarem na rua um pouco menos "blue"?

01/05/2010

Um punhado de cobardes

Em 1999, o húngaro István Szabó escreveu e realizou um filme notável chamado Sunshine. Neste filme, cujo papel principal é interpretado pelo brilhante Ralph Fiennes (A Lista de Schindler, O Paciente Inglês), ficamos a conhecer a história de uma família húngara, de apelido Sunshine, que, ao longo dos tempos do holocausto nazi, sobrevive através da venda de um elixir milagroso de cuja fórmula é a orgulhosa proprietária.

No entanto, pelo meio de toda a trama, cheia de desencontros familiares, amorosos e de conflitos religiosos e de honra, existe uma cena que me parece particularmente interessante. Em pleno campo de concentração nazi, um grupo de quatro ou cinco soldados alemães humilha uma multidão de judeus prisioneiros. No meio de toda a perplexidade e nojo gerados pela cena, sobressai um pensamento: não poderiam aquelas centenas de prisioneiros ter subjugado o punhado de soldados, mesmo que armados? Os soldados alemães apenas poderiam eliminar uns quantos prisioneiros antes de serem detidos. Então por qual razão é que os prisioneiros não se rebelaram?

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08/04/2010

Porque duvidaste, Jesus de pouca fé? (crónica de um benfiquista desiludido)

Jorge Jesus tem feito um grande trabalho à frente do Benfica. Isso não está minimamente em causa e, neste momento, se mandasse algo no clube, não o trocaria por nenhum outro treinador.

Posto isto, acredito no entanto que, hoje, Jorge Jesus foi pequeno demais para o Benfica. Aliás, provou, de uma vez por todas, que, graças ao seu conhecimento táctico, à sua capacidade de melhorar aspectos técnicos nos jogadores, etc, podia ser um dos melhores do mundo, mas que, para isso, precisa ainda de largar a mentalidade de medo e pequenez que tantas vezes acompanha o povo português, do qual ele é um tão típico representante.


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01/04/2010

A Desconstrução da Alma

Tenho um jogo que quero jogar contigo. E se eu desconstruísse a tua personalidade? Se me limitasse a repetir mentiras ao teu ouvido de tal forma que elas se tornassem a tua verdade? Tens consciência de que há verdades diferentes para cada um de nós, não tens, que cada ser tem o seu próprio universo e individualismo, que o azul que eu vejo é diferente do que tu vês e que o sabor de canela é distinto para cada um de nós?

Mas imagina: e se eu te repetisse mentiras de forma constante, de forma séria e abnegada, até que acreditasses serem essas palavras a mais pura das verdades? Ficarias impávido e sereno à espera que tudo voltasse ao normal e que a mentira se desvanecesse no éter, ou adoptarias um novo estilo de vida e tentarias adaptar-te à nova realidade, mesmo sendo discordante dela?

E se eu te enchesse de ideias preconcebidas sobre Deus e o Diabo, sobre o paraíso e sobre a salvação, sobre o inferno e o purgatório, sobre as regras da sociedade, se eu te obrigasse a viver debaixo do seu jugo e declarasse que eram as únicas regras possíveis, mesmo que castradoras, mesmo que fossem contra a tua natureza? Se eu te dissesse para não saltares, para não cantares? Que a tua voz não é bem vinda para o que te rodeia, que não poderás nunca ser o que sonhas, que tens que seguir protocolos e ritos, adaptar-te a tudo, esquecer-te da natureza, do instinto que te liga ao universo?

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29/03/2010

Descobrir a poesia da vida

Provavelmente, lido assim de repente, o nome Beatriz Russo (leia-se Beatrice, com o devido e magnifico sotaque italiano) não lembrará nada aos leitores deste texto. No entanto, alguns lembrar-se-ão de quem se trata, se referir que foi a musa inspiradora de Mário Ruopollo, o carteiro-poeta que levava cartas ao exilado Pablo Neruda no belíssimo filme de 1994, realizado por Michael Radford, “O Carteiro de Pablo Neruda”.

Nesta obra, que prova mais uma vez a sensibilidade e o mundo de afectos do cinema italiano (vide também “A Vida é Bela”, “Cinema Paraíso”, “Malena” ou “La Strada”), encontramos, além de momentos de grande beleza, um grande tratado sobre a vida. É por trás das coisas, neste caso das imagens e das palavras, como ensina Neruda ao jovem aprendiz de poeta Mário, que se encontra a magia e a poesia.

E é por isso que, celebrando o recente Dia da Poesia, escrevi esta crónica para um jornal da região onde vivo, o Área Oeste. Porque o próprio filme é uma celebração da poesia, de Pablo Neruda, mas, mais do que isso, do próprio acto da criação poética.

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12/03/2010

A partilha da angústia (texto longo)

Aconteceu-me isto: de noite, já avançada, caminhava lado a lado com um amigo. Dirigia-me para um bar, onde planeava conviver e passar uma noite animada. Andava um pouco desanimado porque havia já algum tempo que não conseguia alcançar aquele estado de inspiração que me leva a escrever a um ritmo alucinante. Por isso, precisava urgentemente de me divertir e distrair.

À entrada do referido bar, fomos abordados por um homem. Era de média estatura e lembro-me que usava um casaco azul. O seu casaco, a barba por fazer e a garrafa na mão são as únicas lembranças físicas que retenho dele. Estava nitidamente embriagado. Cambaleava e falava com a voz entaramelada. O hálito era insuportável, numa mistura de vinho e cerveja. O meu amigo, pouco paciente para estas situações, continuou a avançar em direcção ao bar, sem pausar para ver o que ele desejava. Eu, pelo contrário, ouvi o que me queria dizer. Não me recordo do que me contou de início. Mas sei que, de repente, perguntou-me se fazia ideia da razão pela qual estava embriagado daquela maneira. Respondi-lhe que não.

“Estou a comemorar o décimo aniversário do meu filho”, disse.

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08/03/2010

Pequeno Conto para o Dia da Mulher (texto longo)

Já escrevi este conto há uns anos e já o utilizei algumas vezes em outros locais. Mas como uma amiga me lembrou dele e o seu título original era "Pequeno Conto para o Dia da Mulher", resolvi voltar a colocá-lo aqui na íntegra, dedicado outra vez, claro, a todas as mulheres.

1. Dizia-te coisas muito parvas e sem qualquer sentido, melosas, demasiado melosas eu sei, capazes de fazer torcer o nariz às pessoas menos habituadas a lidar com palavras doces, tão habituadas à rudeza das coisas, à rugosidade do dia-a-dia e à velocidade dos sentimentos. Dizia-te por exemplo: quando te vejo, sinto flores a crescerem nas minhas mãos. Ou então: não sei como é que o sol consegue nascer sem te ver primeiro. Ou ainda: quando vejo o teu sorriso, sinto que ganho asas e que sou capaz de voar. Mas não me importava nada de parecer tonto ou ingénuo, não me importava de te repetir lugares comuns ou palavras de um romantismo exagerado; o que me interessava era que o resultado das minhas palavras era sempre o mesmo, fossem as minhas palavras quais fossem, e esse resultado era o teu sorriso, depois o sabor doce dos teus lábios e as cócegas que o teu cabelo comprido fazia no meu peito nu.

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06/03/2010

Fazer ou pensar

Acredito que, na maior parte dos casos, ter cautela e ponderar demoradamente nos problemas em busca de soluções lógicas é um exercício que se prova, além de cansativo, desgastante e violento para o Homem, perfeitamente inútil.

Seria de facto útil apenas se pudéssemos unir ao dom do pensamento o dom da adivinhação; aí sim, faria sentido escolher qual o caminho a seguir, na certeza de que o resultado seria o escolhido, longe das influências dos imprevistos, das decisões tomadas pelos outros, do espontâneo da vida.

No entanto, como tal não é possível, acredito que a intuição e o impulso são, muitas vezes, a melhor solução. Ao menos aí vive-se o agora, o presente, em vez de se ficar sempre preso ao que irá ser, baseado no que foi.

Mas ninguém o explicou tão bem como Agostinho da Silva, que passo a citar:

"Conhecemos tão pouco da vida, do mecanismo complexo que deve ser este do mundo que, segundo me parece,o decidir-se não tem grande valor, senão no que respeita à estima que poderemos manter por nós próprios, à confiança que talvez seja absurda, mas que em todo o caso nos pemite o viver. Creio que, sejam quais forem as circunstâncias, tanto faz decidir-se atirando uma moeda ao ar; meditamos gravemente, pesamos todos os elementos, depois fazemos exactamente o que faria o homem que tendo visto apenas a milésima parte de um milímetro do dente de uma roda de engrenagem tivesse opiniões firmes sobre o género de papel ou de bolacha fabricada pela máquina que não a percebe no seu conjunto. Só por um extraordinário acaso se poderá acertar; temos todas as possibilidades, caro Amigo, de tomar sempre um decisão errada; a sorte da moeda ainda deve talvez ser a melhor, porque, pelo menos, suprime do sistema, já complexo, um elemento que pode perturbar: o da nossa vontade."

01/02/2010

Sessão sobre "Ao teu lado" em Almada

No dia 23 de Fevereiro de 2010, entre as 10:15 e as 13 horas, o escritor Luís Costa Pires irá estar presente na escola Secundária Francisco Simões, Rua Jorge Pereira, Laranjeiro, Almada, com o objectivo de participar em actividades de promoção da leitura, integradas no projecto da Biblioteca Escolar, “O escritor do mês”.

Irão ter lugar actividades de leitura, crítica literária, entrevista ao escritor, apresentação de uma fotobiografia e “conversa com livros”. A dinamização das actividades serão da responsabilidade da turma 10º B. O evento conta igualmente com o apoio técnico da produtora de televisão DUVIDEO. A entrada para o evento é livre.

Luís Costa Pires é autor dos romances "A Rainha de Copas" (1998 - Prémio Prosas de Estreia, em Segunda Edição), "Depois da Noite" (2000), "Mandrágora" (2002) e "Ao teu lado" (2008). Publicou também uma peça de teatro chamada "A Desconstrução da Alma" (2003). Além de romancista é guionista de cinema e TV e estudante de astrologia.

Um amigo premiado internacionalmente

Há cerca de dez anos atrás, estava eu a trabalhar como chefe da secção cultural de um jornal chamado "Tribuna do Oeste" (uma das melhores equipas com que já trabalhei até hoje), quando travei amizade com um pintor chamado João Carlos. Ele estava também a iniciar-se na fotografia e demonstrava já enorme talento para esta arte. Conversa puxa conversa, acabei por convidá-lo a trabalhar comigo na Tribuna. Fizemos uma dupla de que hoje ainda me lembro com saudade, eu a escrever os artigos, ele a captar imagens. Recordo com particular atenção um artigo sobre as manifestações a favor de Timor que foi o exemplo perfeito de como trabalhámos bem em equipa.

O João seguiu depois para Lisboa e, daí, para Nova Iorque. Agora, com grande, grande orgulho, sei que venceu um prémio de fotografia importantíssimo a nível internacional.

Parabéns, João. Que continues sempre a realizar os teus sonhos e projectos.

Aqui fica a notícia retirada do Site da Lusa sobre o prémio.

A imagem de uma noiva, registada no Palácio Foz, em Lisboa, valeu ao fotógrafo luso-americano João Carlos o prémio Hasselblad Masters 2009, promovido por aquela marca sueca de máquinas fotográficas.

A fotografia foi considerada a melhor na categoria Social, de um total de dez áreas distintas da fotografia internacional, como Editorial, Paisagem, Retrato e Arquitectura.

João Carlos, 32 anos, radicado em Nova Iorque, venceu com uma fotografia de moda feita em 2004 no edifício do Palácio Foz, com uma criação de Susana Agostinho para uma produção de vestidos de noiva.

A produção resultou na edição de um calendário e numa exposição, com o autor a doar os lucros à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.

"Estou contentíssimo, é muito prestigiante, um reconhecimento mundial que é muito bom, pelo título, pelo júri que escolheu os vencedores", disse João Carlos à agência Lusa, em reacção ao anúncio dos premiados.

Filho de pais portugueses, João Carlos nasceu em Nova Iorque, viveu em Portugal nos anos 1990, onde se formou em pintura, escultura e história de arte, e regressou aos Estados Unidos há dois anos.

O prémio Hasselblad Masters traduz-se na oportunidade dos vencedores poderem utilizar equipamento daquela marca sueca para a realização de um projecto que será publicado em livro.

Além disso, João Carlos foi convidado a assinar a nova campanha de imagem da Hasselblad Masters para os próximos dois anos, um convite que considera tão importante com a conquista do prémio.

O currículo de João Carlos inclui trabalho em diferentes áreas, do fotojornalismo a editorial de moda, de fotografia de cena em cinema a campanhas publicitárias.

Já trabalhou para as revistas Wallpaper, Umbigo, Cerimónia e Número e entre os seus clientes contam-se a Nike, Avon, Pfizer, Elite Models, L'Agence Models e Vodaphone.

Depois de uma temporada em Lisboa, João Carlos regressou há dois anos a Nova Iorque, cidade onde diz que o mercado é muito maior e onde é julgado apenas pelo seu trabalho.

"Estando em Nova Iorque já consegui trabalhos mais importantes em Portugal do que quando estava aí", disse o fotógrafo.

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