24/12/2008

Ainda que falasse a linguagem dos anjos...

1. No meio das árvores enfeitadas e das múltiplas cores que invadem as ruas e as casas das pessoas, no meio de todos os cumprimentos e saudações, dos telefonemas a amigos e familiares esquecidos no passar normal dos dias, no meio de toda a troca de presentes e do cuidado com que se embrulha qualquer coisa, desde uma quente peça de roupa até uma doce caixa de chocolate, eu sei que existe realmente um Natal.

Por baixo de todo o consumismo, de toda a obrigatoriedade por trás desta quadra, de todas as tradições cujas raízes estão perdidas no tempo e que poucos conhecem, por trás de palavras repetidas sem sentimento ou sequer compreensão, “gosto muito de ti, Feliz Natal”, “Que tenhas tudo o que desejes nesta quadra e no próximo ano”, por trás de todos os jantares de colegas que, no dia a dia, não se suportam, por trás de toda a misericórdia existente apenas em breves dias, eu sei que há algo, que há uma energia qualquer que é real, que nos invade a todos, que nos rodeia, que nos embriaga e que nos enche de uma esperança genuína de que algo melhore.

2. Eu sei que existe o Natal, mesmo por baixo da hipocrisia e da mentira, dos interesses e da falsidade, dos sorrisos por vezes amarelos e das críticas feitas apenas depois do alvo virar as suas costas. Sei que existe um Natal em cada dia. Não são apenas frases feitas, são palavras de grande sabedoria. Existe uma novidade, um renascimento em cada dia, apenas cada um o saiba aproveitar. A verdade é essa, que todos os dias temos a hipótese de começar algo de novo, de deitar fora aquilo que não presta, todas as estruturas mortas e podres, as nossas prisões, os nossos medos, as nossas angústias, que todos os dias podemos mudar o que fizemos e que não está de acordo com o que sentimos ou desejamos, que todos os dias podemos voltar a perseguir os nossos sonhos, sejam eles quais forem, estejam perto ou ainda muito distantes. A verdade é essa, que temos o poder e a liberdade de escolher tudo a cada instante de cada hora, de cada dia. Que temos o poder de nos libertar dos preconceitos e das regras impostas pelos outros. É esse o espírito. O nascimento da esperança, da capacidade de mudar.

3. Sei que existe um Natal dentro de cada um de nós. Porque o Natal nada tem a ver com promoções, com comprar prendas ou enfeitar casas. Porque ele tem realmente a ver com um sentir profundo, com um desejo de que todos os Homens encontrem finalmente um caminho uno e coerente, longe de disputas sem sentido ou de ódios. Porque o Natal tem a ver com o desejo profundo de que todos os Homens deixem de lado guerrilhas e orgulhos, que se consigam despir de preconceitos e de teimosia, que larguem o egocentrismo e olhem mais para o que os rodeia. Que percebam o eterno milagre da vida, presente em cada coisa, em cada gota da chuva, em cada animal que passa, em cada sorriso apaixonado, em cada aroma de café.

Sei que é isso o Natal. Não é a quadra, não é a tradição. É a ténue esperança que ainda arde no coração de todos nós. A esperança de que, um dia, tudo aquilo que a quadra represente seja verdade. Seja em que dia for. Seja em que coração for.

4. Pois, como diria Jesus, o Cristo, aquele que é o verdadeiro responsável por esta quadra, aquele que, ao nascer trouxe esperança, mas principalmente coragem para enfrentar os problemas sem necessidade de orgulhos ou guerras, aquele que, por ironia do destino, é tantas vezes esquecido, tantas vezes desprezado, fica tantas vezes distante do coração daqueles que seguem à risca o profundo simbolismo da época, “Ainda que falasse a linguagem dos Homens e dos Anjos, sem amor no meu coração, nada seria”.

Acrescento eu, pedindo desculpa pela ousadia: “Ainda que seguisse todas as tradições e oferecesse aos meus próximos as melhores prendas do mundo, sem amor no meu coração, nada seria”.

8 comentários:

O Meu Confessionário da Alma disse...

(...)Obrigada!...
Fico feliz por receber sem já esperar um novo blog teu!
Adorei a foto (já a guardei na colecção de anjos).
Não chorei com o texto. Mas fiquei sensivel, ainda mais sensivel...
Um dia, e sonho com isto de olhos abertos (como sempre o faço), um dia, o Natal será apenas e tão só um abraço verdadeiro, um beijo na bochecha, um sorriso, não serão necessárias mil e uma prendas com laços e papeis deslumbrantes. Será, sim, o laço da VIDA, será aquela energia verdadeira que nos une realmente, sem convenções, sem obrigações, será o mais puro e verdadeiro sentido do tal "amor incondicional", o tal que nos move sem nos darmos conta, o tal capaz de parar guerras sem que se entenda o porquê, o tal capaz de nos unir numa catastrofe, o tal que me faz estar aqui e agora a enviar-te este comentário.
Que o Natal não seja só o dia 25 de Dezembro, seja muito mais do que um dia, seja se possivel 365 dias de um ano, mais milhões de dias de uma vida!
Bem do fundo da alma, onde quer que o fundo seja, desejo-te o melhor sempre, a cada dia, a cada hora, minuto, segundo, que tudo aquilo que imagino se torne realidade, e sejas feliz sempre. (É uma ordem!)
Pronto já estou lamechas... Há dias assim... Tudo de bom Luís!
Bjs

Meg disse...

Sim, o Natal existe! E só depende de nós deixá-lo fora dos consumismos, dos cumprimentos, dos telefonemas de conveniencia, das árvores enfeitadas e das tradições!..:)

Boas Festas*

Patrícia Lino disse...

Olá, muito boa tarde, caro Luís Costa Pires.

Pesquisava sobre a "Parábola da mulher de Loth" na internet, quando dei por mim, no seu blog.

E porque pesquisava eu a "Parábola da mulher de Loth"? Sou aluna do primeiro ano na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e estou actualmente a desenvolver um projecto para a cadeira de Métodos e Técnicas de Pesquisa, intitulado "Projecto Clarice". O "Projecto Clarice" tem como principal objectivo divulgar a obra da escritora brasileira Clarice Lispector.
O Projecto tem como ideia base a utilização de várias formas de expressão, entre elas, a escrita - como é claro.
Estou presentemente a analisar três contos da autora e foi num deles que encontrei a seguinte expressão (que me trouxe até aqui): "E não olho para trás: tenho em mente ainda o castigo que Deus deu à mulher de Loth." (LISPECTOR, Clarice, Contos de Clarice Lispector, Lisboa, Relógio D'Água, 2006).

Estive a ler os seus restantes post's e vejo que a grande maioria deles se concentra na Literatura. Por isso, lhe peço ajuda.

Toda a parte gráfica/prática do meu trabalho se encontra aqui:

http://www.projectoclarice.blogspot.com

Peço-lhe unicamente que divulgue o "Projecto Clarice" na sua página. Ou de outra forma, o que achar melhor ou mais adequado.

O importante é passar a mensagem.
Um muito obrigada.

Com o melhor dos cumprimentos,
Patrícia Lino

Patrícia Lino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
@ish@ disse...

Estou por aqui com um blog que se destina a acompanhar o sucesso e 'suor' dos meus amigos.

Não sei como em vez de uma tenho duas páginas.

Dá uma espreitadela e já agora escreve um novo artigo para o teu blog que isto está paradito.

Movimento cria movimento.


:-)

O Meu Confessionário da Alma disse...

:-(ando às voltas com o pequeno espaço que criei... e não consigo colocar comentários... Já alterei o raio das definições umas duzias de vezes e nada:-( como é que isto se faz?

Anónimo disse...

Olá miguito!
Fiquei deveras feliz por finalmente ter encontrado o teu espaço aqui... n li nada por causa da hora mas voltarei com mais tempo, sou 1 adepta da blogosfera...

beijinhos pr tu! ;)

(carla)

O Meu Confessionário da Alma disse...

:-(
Os anjos devem estar mudos!
Já não se canta aqui...
Nem ecoam os sons da tua escrita, o que me deixa irritada (suavemente) e triste (termendamente...)
É que não é justo, sabes quantos bateres de asas já se perderam? Sabes? Tens noção?
Não o entendo, mesmo...
Com tantos contos que tens para nos dizer, calas o pensamento.
:-(