08/06/2004

Votar

Um professor dedicado à filosofia, chamado Francisco Trindade envia-me, há já alguns meses, emails a anunciar novos textos no seu site pessoal, afirmando-se seguidor de Proudhon, um pensador francês do século XIX.
Obviamente que, quando o tema me interessa, costumo ler os seus textos. Mas, o último que me enviou deixou-me bastante preocupado. Nesse texto, Francisco Trindade defende a abstenção nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, por considerar que votar "mesmo que em branco, implica acreditar no sistema vigente. Implica participar no sistema. Participando no sistema estamos a apoiá-lo. Ao votar estamos a apoiar os governos, a guerra, a miséria, a desigualdade social (...) Ao não votar nas eleições para o Parlamento Europeu Burguês, fazendo-o de forma consciente, estamos a desacreditar o sistema. Se ainda acredita na liberdade de cada um e no respeito de todos, não vote!"
Sinceramente, choca-me o que li. Não votar não é desacreditar o sistema, é fugir às responsabilidades, é dizer que não se interessa, é perder o direito moral de reclamar, uma vez que se recusa também o direito e o dever de escolher e cumprir parte do dever cívico. Quem não concorda com o "sistema democrático" vigente, tem bom remédio: lutar para que ele mude. E isso pode ser feito nesta época. Através da colaboração em projectos sociais, educacionais e cívicos, através de associações, cooperativas, sindicatos, grupos, através da escrita, da arte, do jornalismo. Através da solidariedade, da fraternidade, da cooperação. Não é necessário adoptar posturas marginais. As sociedades mudam-se por dentro, não por fora.
Se pouca gente participa de facto na vida da sociedade não é porque não existam meios para o fazer. É porque as pessoas são preguiçosas e egoístas, porque preferem falar mal do estado das coisas no café e, depois, ir para casa ver os "Malucos do Riso", ou, então, citar teorias, filósofos e ideais, sem colocar nada realmente em prática.
A sociedade não se muda com teorias. Muda-se com actos. Votar é apenas um deles, se calhar o menos importante deles. Mas é o único que, ainda assim, faz sentido À maior parte das pessoas que vivem adormecidas. Se também esse acto ficar desacreditado, então caminhamos definitivamente para o abismo.

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