12/06/2004

Vergonha

Não concordo quando ouço dizer que os jogadores portugueses tiveram uma excelente atitude no primeiro encontro do Europeu. O pressing final é perfeitamente natural. Mal seria se uma equipa, a perder, ainda por cima em casa e num Europeu, não tentasse dar a volta ao resultado que lhe é adverso. Para mim, a atitude não se vê nesses momentos. Vê-se na concentração, na coragem, na forma como os jogadores encaram o encontro desde o primeiro minuto.
A equipa portuguesa jogou muito mal e a Grécia foi uma mais que justa vencedora, porque defendeu muito bem, correu mais, demonstrou mais força e mais concentração. No entanto, há que perceber que o descalabro colectivo, por vezes, nasce de erros individuais. E, neste caso, Paulo Ferreira foi o grande responsável pelo primeiro golo da Grécia e, consequentemente, por tudo o que se passou a seguir, pela desconcentração e nervosismo nacionais. Por muito que possa parecer cruel falar de erros individuais, a verdade é esta e não se pode admitir que um jogador campeão da europa, com a experiência do lateral direito português cometa um erro daqueles.
De resto, Pauleta só tem jogado bem em jogos particulares, onde marca golos a rodos. Figo só sabe fazer jogadas individuais. Maniche não demonstrou qualidade para alinhar de início contra equipas com um meio campo tão fechado, pois fechar o meio-campo não é a sua especialidade, mas sim a transição para o ataque. Petit teria sido a escolha óbvia para suster o meio campo e o contra-ataque da Grécia.
Enfim. Desta vez os portugueses não merecem isto. Apoiaram a equipa, encheram as casas e as ruas de bandeiras nacionais. Receberam os estrangeiros como deve ser. Construiram novos estádios em tempo recorde. No entanto, além de Cristiano Ronaldo, apenas Deco, que até é brasileiro, pareceram lutar com vontade pela selecção.
Agora, como sempre, lá estamos na corda bamba. Contra a Rússia é possível que Portugal consiga vencer. Contra a Espanha... contra a Espanha será preciso quase um milagre, porque é, claramente, a melhor equipa do grupo. É claro que ainda tudo é possível, mas as hipóteses são mínimas.
Somos sempre assim. Como diria Fernando Pessoa, que conhecia o espírito português como ninguém, “Quem te sagrou criou-te português / Do mar e nós em ti nos deu sinal. / Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. / Senhor, falta cumprir-se Portugal!”.
É sempre assim. Falta sempre cumprir-se Portugal.

Sem comentários: