21/12/2003

O passar dos anos II

Escolher. É isso que se faz cada vez que um novo ano começa. Começamos logo por escolher que resoluções tomar para os próximos trezentos e sessenta e cinco dias, sem saber, ou sequer ligar, ao que irá acontecer em qualquer um deles. Quando muito sabemos, e porque aquele calendário novo, garboso, luzidio, que está agora pendurado na parede nos diz, que a lua irá estar cheia em dia tal, ou que poderemos dormir até mais tarde no dia xis. Mas, mesmo assim, mesmo sem saber de nada, estas decisões são fortes e decididas, mesmo que não cheguem depois a passar de um sonho ou de uma vontade.
É pena que, com o passar dos dias, deixemos desvanecer-se essa fé infinita na criação desses novos caminhos, e nos deixemos depois conduzir.
Infelizmente, não tenho agora o hábito de pendurar um calendário novo na porta da cozinha no dia um de Janeiro de cada ano. Mas, lembrando os ensinamentos sábios e silenciosos do meu tio, talvez o volte a fazer agora, que percebo com tanta clareza a riqueza deste ritual tão simples.
E permita-me sugerir-lhe, caro amigo leitor, que, caso também não tenha este hábito, o ganhe agora. Nem que seja para que, durante o ano que ainda agora começou, se vá lembrando, de vez em quando, de tudo aquilo que queria mudar na sua vida, de toda a individualidade que queria alcançar, de toda a força que sentia e que o distante passar dos dias e o cair da areia da ampulheta do tempo vai minando e desgastando.
E assim talvez consiga recuperar o sonho e lutar pelo que deseja. Sem medos. E mudar com um sorriso cada nova folha do calendário.

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