31/12/2003

Bom 2004

Apesar de não ter andado com tempo para vir aqui ao blogue (e peço desculpa por isso a todos os que o visitam regularmente), não poderia deixar chegar o ano de 2004 sem desejar a todos um óptimo ano, cheio de sonhos realizados.

Tudo de bom.

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21/12/2003

O passar dos anos II

Escolher. É isso que se faz cada vez que um novo ano começa. Começamos logo por escolher que resoluções tomar para os próximos trezentos e sessenta e cinco dias, sem saber, ou sequer ligar, ao que irá acontecer em qualquer um deles. Quando muito sabemos, e porque aquele calendário novo, garboso, luzidio, que está agora pendurado na parede nos diz, que a lua irá estar cheia em dia tal, ou que poderemos dormir até mais tarde no dia xis. Mas, mesmo assim, mesmo sem saber de nada, estas decisões são fortes e decididas, mesmo que não cheguem depois a passar de um sonho ou de uma vontade.
É pena que, com o passar dos dias, deixemos desvanecer-se essa fé infinita na criação desses novos caminhos, e nos deixemos depois conduzir.
Infelizmente, não tenho agora o hábito de pendurar um calendário novo na porta da cozinha no dia um de Janeiro de cada ano. Mas, lembrando os ensinamentos sábios e silenciosos do meu tio, talvez o volte a fazer agora, que percebo com tanta clareza a riqueza deste ritual tão simples.
E permita-me sugerir-lhe, caro amigo leitor, que, caso também não tenha este hábito, o ganhe agora. Nem que seja para que, durante o ano que ainda agora começou, se vá lembrando, de vez em quando, de tudo aquilo que queria mudar na sua vida, de toda a individualidade que queria alcançar, de toda a força que sentia e que o distante passar dos dias e o cair da areia da ampulheta do tempo vai minando e desgastando.
E assim talvez consiga recuperar o sonho e lutar pelo que deseja. Sem medos. E mudar com um sorriso cada nova folha do calendário.

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O passar dos anos

Recordo-me perfeitamente de como, dantes, era grande a expectativa que invadia o meu corpo de criança cada vez que um ano chegava ao fim e o meu tio se aproximava da porta da cozinha, levando na mão um novo calendário, e se preparava para trocá-lo com o que estava, moribundo, na parede. Hoje, que gosto tanto de ler e de estudar filosofias, esoterismo e ocultismo, parece-me que esse gesto tão simples é que era um verdadeiro e honesto ritual: o retirar lento do calendário do prego fino e escuro, já um pouco torto de suportar o passar dos anos, as poucas folhas ainda sobreviventes já gastas, assinaladas nos dias devidos com acontecimentos vários, e a substituição pelo novo, vaidoso e luzidio, ainda a cheirar a novo, com todos os seus desenhos garridos e folhas novas e indicadoras dos dias da semana e do mês, das efemérides e das fases da lua.
Era como um esquecer dos problemas do passado; como se o homem tivesse afinal de contas a capacidade divina de apagar o que lá vai e que é menos bom, mantendo, no entanto, sempre as boas recordações e ter sempre mais fé, mais esperança naqueles dias que serão mais ou menos iguais aos anteriores, mas que cheiram a novo, que têm tanta coisa por explorar, independentemente de todo o sofrimento por que passou anteriormente.

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A não perder

Fantástica a crónica de Clara Ferreira Alves no Diário Digital, sob a prisão de Saddam. A não perder.

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15/12/2003

Na MTV...

Chego a casa cansado. Ligo a televisão. Não quero ouvir notícias, nem ouvir histórias com sotaque brasileiro. Mudo para a MTV. Vejo Tori Amos ao piano, virtuosa, selvagem, dedicada de corpo e alma à música que gosta de cantar.
Agora já estou pronto para enfrentar o mundo.

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14/12/2003

Boa notícia

De regresso do Porto, onde duas interessantes conversas sobre livros, a hospitalidade nortenha e as viagens me ocuparam o sábado, acordo e ligo a televisão. Saddam foi capturado. Quer se concorde com a guerra, quer não, esta é sempre uma boa notícia. É que, acima de tudo, Saddam foi um ditador sanguinário. E, depois, esta é uma garantia de que a actividade da resistência, quer no interior do Iraque, quer nos países ocidentais sofreu uma grande baixa. O próprio terrorismo internacional, que irá continuar com toda a certeza, sofreu, ainda assim, uma derrota.
É claro que o ideal seria outro, um final desta história sem guerra, sem invasões, sem a prepotência americana e o servilismo português.
Mas, dentro da realidade possível, esta foi uma boa notícia.

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11/12/2003

De partida para o Porto

Para o pessoal do norte, fica aqui a notícia. No sábado, dia 13, estarei pelas 17 horas na FNAC de Santa Catarina, para uma conversa sobre literatura e os meus romances, com especial destaque para o último, chamado "Mandrágora". Depois, pelas 22 horas, conversarei com os interessados na FNAC do NorteShoping.

Será uma conversa despretenciosa, amena e com amizade, sobre livros e sobre tudo o que interessar aos presentes.

Apareçam.

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08/12/2003

Nada é nosso

Gostava de poder voltar no tempo para poder viver outras vidas e emoções. De ter combatido os boches e os nazis, de ter participado nas linhas de defesa de Torres Vedras, de ter sido atacado em Pearl Harbour, de ter fugido para Casablanca ocultando documentos secretos, enquanto procurava a mulher que amava, de ter andado de terra em terra montado num cavalo a cantar cantigas de amigo para as donzelas que passavam, indiferente ao perigo que me esperava na ponta de cada espada. Gostava de ter ajudado a descobrir o rádio e a penicilina, de ter carregado sob sol ardente as pedras que hoje são as paredes das pirâmides. Gostava de ter vibrado com os Beatles, de suspirar pela Marilyn, de fazer amor e não guerra, até de descobrir que com duas pedras se pode afinal fazer fogo, ou de peregrinar atrás de um homem que veio da Nazaré e que contava parábolas de grande beleza e sabedoria. Gostava de ter fugido do incêndio de Roma, de nadar com um manuscrito na mão evitando que se molhasse, apenas porque contava a história de uma nação, de partir numa corrida louca para a Índia, enfrentando tempestades e monstros imaginários, ou de dançar uma valsa num salão de Viena.
Mas hoje, em redor, apenas ouço gritos e pessoas, muitas, desencantadas, sem saber para onde andar, sem conseguir perceber quais os caminhos que podem seguir. Ideias: poucas e confusas, entulhadas debaixo de um rio de informações duvidosas e exploradas comercialmente, preconceitos e futilidades.
Hoje temos tudo desde que nascemos.
E é por isso mesmo que nada é realmente nosso.

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Novo design

E pronto, enchi-me de paciência e, com muito esforço, descobri como fazer algumas alterações ao template do Depois da Noite. Espero que o blogue fique mais do agrado de todos.
Mas, se não ficar, pelo menos uma coisa é certa. Este novo aspecto da página tem muito mais a ver comigo e, principalmente, não é igual a tantas outras, como acontecia dantes.
E, à medida que for descobrindo mais sobre este universo dos blogues, esperam-se mais mudanças.

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Novos links

De tempos a tempos, é necessário actualizar a lista dos blogues. Porque existem textos fantásticos, piadas geniais e, principalmente, conceitos originais e inovadores por essa blogosfera. Por isso, acrescento hoje mais quatro, na certeza de que existem muitas mais dezenas que merecem figurar em qualquer lista de links.
São eles o Blogo Social Português, pela sua irreverência e voz crítica, o Eu Adoptei, ao qual me uno também na sua campanha pela adopção de crianças em Portugal (e aproveito para agradecer ao Nunca te disse por me ter dado a conhecer esta acção), o Mar Salgado, já um clássico da blogosfera nacional, e o Aqui não há poeta, onde as palavras fluem de forma mágica.
Por agora são estes. Mas em breve serão mais.

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05/12/2003

Aforismo delirante

A liberdade é a cruz a que me abraço.

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Melodia

Toma atenção, abafa os lamentos e escuta a minha voz como se fosses uma pianista. Com perícia, afina as notas soltas da minha voz e apaga as palavras mal ditas e ressentidas. Ordena as minhas frases de forma a que se tornem sonatas e poemas, com cambiantes e matizes melodiosas, ou então para que desafiem o silêncio das coisas não ditas, das visões que não existem, e então se ergam no ar com o estrondo de um foguete luminoso.
Depois, usa a minha boca como se fosse uma flauta e submerge-me nessa música que fazes soar dentro de mim todos os dias, a todos os momentos, a cada novo raio de sol. E então descansa. Sei que, depois dos aplausos, não terás que esperar muito pelo silêncio que se segue, o silêncio que rodeia quem se cala, sonhando poder ouvir toda a melodia outra vez.

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01/12/2003

Cena banal

Há uma cena a que assisto quase todas as manhãs e que me deixa um pouco mais alegre. É uma visão simples, singela, que, certamente, acharão banal. Mas, não sei por que razão, se por esta mania que eu tenho de não intelectualizar os sentimentos e deixá-los fluir, é uma cena que me toca profundamente.
E é tão simples quanto isto: uma senhora com os seus 70, 80 anos, pequenina, curva, olhar doce, mas ausente, diria perdido no passado, a passear o cão, pequenino, peludo, esteja a chover (altura em que a senhora usa um lenço na cabeça) ou a fazer sol.
É só isto. Mas, não sei. Toca-me, o que é que querem? Nunca vos aconteceu, serem tocados por algo sem percebem bem porquê?

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