06/03/2010

Fazer ou pensar

Acredito que, na maior parte dos casos, ter cautela e ponderar demoradamente nos problemas em busca de soluções lógicas é um exercício que se prova, além de cansativo, desgastante e violento para o Homem, perfeitamente inútil.

Seria de facto útil apenas se pudéssemos unir ao dom do pensamento o dom da adivinhação; aí sim, faria sentido escolher qual o caminho a seguir, na certeza de que o resultado seria o escolhido, longe das influências dos imprevistos, das decisões tomadas pelos outros, do espontâneo da vida.

No entanto, como tal não é possível, acredito que a intuição e o impulso são, muitas vezes, a melhor solução. Ao menos aí vive-se o agora, o presente, em vez de se ficar sempre preso ao que irá ser, baseado no que foi.

Mas ninguém o explicou tão bem como Agostinho da Silva, que passo a citar:

"Conhecemos tão pouco da vida, do mecanismo complexo que deve ser este do mundo que, segundo me parece,o decidir-se não tem grande valor, senão no que respeita à estima que poderemos manter por nós próprios, à confiança que talvez seja absurda, mas que em todo o caso nos pemite o viver. Creio que, sejam quais forem as circunstâncias, tanto faz decidir-se atirando uma moeda ao ar; meditamos gravemente, pesamos todos os elementos, depois fazemos exactamente o que faria o homem que tendo visto apenas a milésima parte de um milímetro do dente de uma roda de engrenagem tivesse opiniões firmes sobre o género de papel ou de bolacha fabricada pela máquina que não a percebe no seu conjunto. Só por um extraordinário acaso se poderá acertar; temos todas as possibilidades, caro Amigo, de tomar sempre um decisão errada; a sorte da moeda ainda deve talvez ser a melhor, porque, pelo menos, suprime do sistema, já complexo, um elemento que pode perturbar: o da nossa vontade."

6 comentários:

www.martaguerreirodossantos.com disse...

"Imagina que um dia uma pessoa se aproxima de ti e em vez de te perguntar que horas são ou onde fica uma rua pergunta-te, com a maior naturalidade, "Importa-se de me dizer se sabe pensar?"
Muito poucas pessoas perderam um minuto da sua vida a pensar nisso. Mas toda gente perdeu muito mais que um minuto, que uma hora, que uma noite de sono por nao saber pensar, por nao saber racicionar.
Já ouvi muita gente a dizer que quer ser rico, ter um telemovel novo, etc. mas nunca ouvi ninguem dizer: Quero saber pensar."

"Penso logo existo" diz um filósofo que subestima a dor de dentes.
Penso logo sinto será o mais adequado?
Ou penso logo desisto?
Desiste-se porque claramente não se sabe pensar!

"Uma nêspera estava na cama deitada, muito calada, a ver o que acontecia. Chegou a Velha e disse: olha uma nêspera! E zás comeu-a. É o que acontece às nêsperas que ficam deitadas caladas a esperar o que acontece." (Mário Henrique Leiria)

Mas nem sempre estar quieto é sinônimo de que a vida está parada...

"Ser poeta é ser mais alto (...)É não saber sequer que se deseja (...)"

Porque é tão díficil chegar a um consenso sobre a importância real do pensamento ou do excesso dele mais precisamente??

A minha intuição diz-me :
Não pensar mais do que o necessário.
Não sonhar menos do que o coração necessita.
Realizar tudo aquilo que se deseja.

Mas eu faço exactamente o contrário...

Katiana disse...

Boa noite Marta!
"Realizar tudo aquilo que se deseja."
Marta, aqui(Realizar tudo aquilo que se deseja), não faças ao contrário.

Katiana disse...

Boa noite Marta!
"Realizar tudo aquilo que se deseja."
Marta, aqui(Realizar tudo aquilo que se deseja), não faças ao contrário.

Katiana disse...

Boa noite Marta!
"Realizar tudo aquilo que se deseja."
Marta, aqui(Realizar tudo aquilo que se deseja), não faças ao contrário.

jotaluis disse...

Depois de ler " A partilha da Angustia" ainda fiquei mais indeciso quanto ao valor da moeda ao ar, que não tem permitido que comente este texto. Voltarei depois de beber mais Agostinho da Silva.

jotaluis disse...

Depois de ler " A partilha da Angustia" ainda fiquei mais indeciso quanto ao valor da moeda ao ar, que não tem permitido que comente este texto. Voltarei depois de beber mais Agostinho da Silva.