1. No meio das árvores enfeitadas e das múltiplas cores que invadem as ruas e as casas das pessoas, no meio de todos os cumprimentos e saudações, dos telefonemas a amigos e familiares esquecidos no passar normal dos dias, no meio de toda a troca de presentes e do cuidado com que se embrulha qualquer coisa, desde uma quente peça de roupa até uma doce caixa de chocolate, eu sei que existe realmente um Natal.
Por baixo de todo o consumismo, de toda a obrigatoriedade por trás desta quadra, de todas as tradições cujas raízes estão perdidas no tempo e que poucos conhecem, por trás de palavras repetidas sem sentimento ou sequer compreensão, “gosto muito de ti, Feliz Natal”, “Que tenhas tudo o que desejes nesta quadra e no próximo ano”, por trás de todos os jantares de colegas que, no dia a dia, não se suportam, por trás de toda a misericórdia existente apenas em breves dias, eu sei que há algo, que há uma energia qualquer que é real, que nos invade a todos, que nos rodeia, que nos embriaga e que nos enche de uma esperança genuína de que algo melhore.
2. Eu sei que existe o Natal, mesmo por baixo da hipocrisia e da mentira, dos interesses e da falsidade, dos sorrisos por vezes amarelos e das críticas feitas apenas depois do alvo virar as suas costas. Sei que existe um Natal em cada dia. Não são apenas frases feitas, são palavras de grande sabedoria. Existe uma novidade, um renascimento em cada dia, apenas cada um o saiba aproveitar. A verdade é essa, que todos os dias temos a hipótese de começar algo de novo, de deitar fora aquilo que não presta, todas as estruturas mortas e podres, as nossas prisões, os nossos medos, as nossas angústias, que todos os dias podemos mudar o que fizemos e que não está de acordo com o que sentimos ou desejamos, que todos os dias podemos voltar a perseguir os nossos sonhos, sejam eles quais forem, estejam perto ou ainda muito distantes. A verdade é essa, que temos o poder e a liberdade de escolher tudo a cada instante de cada hora, de cada dia. Que temos o poder de nos libertar dos preconceitos e das regras impostas pelos outros. É esse o espírito. O nascimento da esperança, da capacidade de mudar.
3. Sei que existe um Natal dentro de cada um de nós. Porque o Natal nada tem a ver com promoções, com comprar prendas ou enfeitar casas. Porque ele tem realmente a ver com um sentir profundo, com um desejo de que todos os Homens encontrem finalmente um caminho uno e coerente, longe de disputas sem sentido ou de ódios. Porque o Natal tem a ver com o desejo profundo de que todos os Homens deixem de lado guerrilhas e orgulhos, que se consigam despir de preconceitos e de teimosia, que larguem o egocentrismo e olhem mais para o que os rodeia. Que percebam o eterno milagre da vida, presente em cada coisa, em cada gota da chuva, em cada animal que passa, em cada sorriso apaixonado, em cada aroma de café.
Sei que é isso o Natal. Não é a quadra, não é a tradição. É a ténue esperança que ainda arde no coração de todos nós. A esperança de que, um dia, tudo aquilo que a quadra represente seja verdade. Seja em que dia for. Seja em que coração for.
4. Pois, como diria Jesus, o Cristo, aquele que é o verdadeiro responsável por esta quadra, aquele que, ao nascer trouxe esperança, mas principalmente coragem para enfrentar os problemas sem necessidade de orgulhos ou guerras, aquele que, por ironia do destino, é tantas vezes esquecido, tantas vezes desprezado, fica tantas vezes distante do coração daqueles que seguem à risca o profundo simbolismo da época, “Ainda que falasse a linguagem dos Homens e dos Anjos, sem amor no meu coração, nada seria”.
Acrescento eu, pedindo desculpa pela ousadia: “Ainda que seguisse todas as tradições e oferecesse aos meus próximos as melhores prendas do mundo, sem amor no meu coração, nada seria”.
24/12/2008
Ainda que falasse a linguagem dos anjos...
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 18:22 8 comentários
11/12/2008
A urina perna abaixo
As forças de segurança espanholas têm conseguido, nos últimos tempos, importantes vitórias no que diz respeito ao combate ao terrorismo da ETA. Em menos de um mês, dois chefes de comando foram presos, o que destabiliza e muito o funcionamento da organização.
Mas o que tem realmente piada é a descrição da forma como foi preso Aitzol Iriondo Yarza , um dos líderes da ETA, que, segundo os jornais, urinou de medo quando um polícia lhe apontou uma arma.
Até agora pensava que só nos romances e filmes aconteciam situações que evidenciam tão fortemente a cobardia daqueles que vivem potenciando o terror e a morte, ainda por cima às escondidas.
Mas, afinal não é só na mente dos escritores que eles não passam de reles cobardes que vivem passando por corajosos combatentes por causas, mas que na realidade se urinam pernas abaixo quando são realmente postos olhos nos olhos com os seus opositores.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 02:52 1 comentários
06/12/2008
Reportagem oficial sobre o lançamento do novo romance
Quem estiver interessado numa reportagem mais pormenorizada sobre o lançamento do livro e sobre o próprio conteúdo do mesmo, pode ler a nota de imprensa oficial no meu MySpace neste link.
Ou ir pela página principal aqui.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 22:13 2 comentários
Uma noite de sonho
(Fotos - Vítor Neno - NenoPress)
O lançamento do meu novo romance, "Ao teu lado", foi um sucesso. Foi uma noite muito especial, onde me vi rodeado de grandes amigos e de pessoas interessantes, amantes da literatura, da música e das boas conversas.
Atrever-me-ia a dizer que foi uma noite perfeita, se não tivesse eu sido o único que falhei nessa noite. Mas creio que tenho desculpa, pois estava tão emocionado com tudo o que se passava em meu redor, com as vozes do Ricardo Carriço e da Maria Helena Torrado a lerem excertos do meu livro, com as amáveis palavras do editor Assírio Bacelar, da Nova Vega, com a voz portentosa da Deolinda Bernardo, com os sorrisos e os olhos brilhantes dos convidados, e com o delicioso beberete cheio de Licor de Ginja de Óbidos, vinho do Cartaxo, Broas de Mel e Bolo-Rainha que todos tiveram a oportunidade de provar.
Mas a minha falha não foi grave. Apenas não disse tudo o que queria, nem tudo o que me ia na alma. Mas se calhar antes assim. Às vezes há coisas que não são precisas ser ditas.
Lêem-se nos olhos.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 21:58 0 comentários
Taraio
São as ironias da vida. No mesmo dia em que eu tinha a enorme alegria de ver apresentado publicamente o meu novo romance, o meu amigo Manuel Taraio partia para a outra vida.
Infelizmente não estive com ele, nem ele comigo. E, para dizer a verdade, há já largos meses que não nos encontrávamos. Quando isso acontece, fica-se sempre com a sensação de que muito ficou por dizer e fazer. Mas já não há tempo para nada.
Resta lamentar o sucedido, desejar que exista mesmo uma qualquer justiça divina e algo mais para além desta vida. E recordar o passado.
Como as tardes que passei com ele no seu atelier a vê-lo pintar as suas obras. Como a exposição que ele realizou numa galeria lisboeta, cujo catálogo teve como introdução um texto que o Taraio me pediu para escrever a propósito das caixas de memórias que pintava naquela fase da sua carreira.
Irei publicar esse texto daqui a uns dias aqui no blogue. Não hoje. Para prolongar ainda mais a sua memória que já de si vai ser eterna.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 21:49 0 comentários