“Porque os outros se mascaram mas tu não / Porque os outros usam a virtude / Para comprar o que não tem perdão. / Porque os outros têm medo mas tu não. / Porque os outros são os túmulos caiados / Onde germina calada a podridão. / Porque os outros se calam mas tu não. (…)”
Sophia de Mello Breyner Andresen
É pena que as novas gerações, principalmente fora das grandes cidades, raramente se interessem pelas coisas relacionadas com a política, os problemas sociais e eventos culturais. Parece-me importante que se perceba que todos temos uma voz e a possibilidade de falar e expor as nossas ideias, esse direito tão importante ganho graças ao 25 de Abril que há bem pouco festejámos. É fundamental tentar perceber o que se passa, pensar e, se possível, arranjar soluções para os problemas. Nem que seja para conviver num plano um pouco diferente da mera cortesia, da mera conversa de circunstância e do tempo que vai fazer amanhã, do odioso reality show ou do filme que passou no dia anterior. Parece-me importante não seguir cegamente as modas e as trends. É fundamental ter-se a capacidade e a coragem de decidir rumos e enfrentar obstáculos, de ter sonhos e assumi-los como objectivos, de nunca preferir a fuga, mesmo que a derrota seja uma possibilidade.
Está visto que era importante para o mundo existirem mais pessoas que se preocupam. Que percebem que o mundo não é apenas o seu umbigo e que a única forma de melhorar a sua própria vida é também melhorando o que os rodeia; porque não vivemos sozinhos, porque não existimos num vácuo, porque cada acção tem um efeito. Porque a nossa felicidade depende também da dos outros.
30/05/2005
Aos que se importam
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27/05/2005
A falta de sensibilidade
No meu trabalho de jornalista tive, recentemente, para a revista que dirijo, de desenvolver um artigo sobre a falta de acessibilidades nas cidades portuguesas. E confesso que, apesar de me considerar bem informado sobre a maior parte dos assuntos, aliás a minha profissão obriga a isso, fiquei desagradavelmente surpreendido com este caso concreto.
Realmente, existe um grande sentimento de egoísmo generalizado nas pessoas. Uma incapacidade de olhar para o lado e pensar nas necessidades alheias. Existe também a incapacidade de perceber as dificuldades que não possuímos. É como, infelizmente, diz o ditado, "com o mal dos outros posso eu bem". Pois, mas a verdade é que não devíamos poder bem com essa situação.
A vida de um deficiente motor em Portugal, a vida de alguém que ande numa cadeira de rodas, já por si uma pessoa com um problema grande o suficiente (não se trata aqui de os tratar como coitadinhos, mas reconhecer de facto os seus problemas), é uma vida difícil. Por exemplo, encontrei muitos casos de edifícios públicos, que deveriam estar preparados para o caso, que não possuem rampa para acesso a cadeira de rodas. Noutros casos, eles foram integrados posteriormente no edifício, muitas vezes em materiais diferentes do original da construção, o que torna a estética horrível, e, ainda por cima, apesar de lá existirem, não há forma de uma cadeira de rodas conseguir subir o passeio antes de lá chegar. É o caso, por exemplo, do edifício do Tribunal das Caldas da Rainha.
Como dizia um dos entrevistados, até passarem pelas coisas, as pessoas não fazem ideia de como pode ser difícil encontrar um passeio mais alto. Ou, simplesmente, um automóvel estacionado no passeio, que permite a passagem de um homem a pé, mas não de cadeira de rodas. E tal é frequente em Portugal. Já para não falar dos espertinhos que estacionam em lugares para deficientes.
Publicada por Luís Costa Pires à(s) 20:55 0 comentários