24/08/2004

Trapattoni

Evitei fazer comentários após a derrota do Benfica frente ao Porto, na esperança de estar errado. Mas agora não tenho dúvidas. Há um grande responsável pelos resultados vergonhosos conseguidos pelo Benfica nos últimos jogos. E esse responsável é Luís Filipe Vieira.
O presidente do Benfica tem que assumir as responsabilidades da má escolha que fez ao trazer Trapattoni para o Benfica. Não está aqui em causa o profissionalismo, nem a competência da "Velha Raposa". Trata-se de perceber que nem todas as peças encaixam em todas as máquinas. Trapattoni é um excelente treinador se tiver jogadores capazes de praticar o seu futebol cerebral e calculista. Acontece que o Benfica não é uma equipa inteligente. É uma equipa emotiva. Os jogadores portugueses não são cerebrais, são virtuosos. Por isso é que a fúria espanhola de Camacho funcionava para melhorar o jogo do Benfica, porque dava ainda mais força a essa qualidade encarnada. Não a frieza de Trapattoni. Essa não cabe no Benfica, não funciona. E, sinceramente, nem quero vê-la no meu clube.
O Benfica que eu amo é a equipa emotiva, imprevisível, capaz do melhor e do pior, mas cujos espectáculos são um hino ao desporto. Não é uma equipa de jogadores cinzentos e calculistas, que preferem empatar a zero do que arriscar perder o jogo. Não é uma equipa que, a perder por três a zero, coloca mais um defesa em campo.
Mas Trapattoni também errou em termos técnicos contra o Anderlecht. Ricardo Rocha, o melhor central da equipa, e Zahovic, o jogador em melhor forma, não podiam ficar no banco. Mas a verdade é que o Benfica foi um enorme, um gigante zero. Foi vergonhoso e humilhante. Como já tinha sido contra o Porto. Aliás, para mim, a derrota contra o Porto ainda foi pior do que esta contra o Anderlecht. É que os belgas são uma equipa construída. O Porto é um grupo de jogadores a tentar construir uma equipa, depois da razia em relação à época anterior.
O que Luís Filipe Vieira tem que perceber é que um grande homem é aquele que consegue admitir os erros que comete e os corrige. Trapattoni não pode ficar no Benfica, porque não é homem para perceber o clube ou para dar-lhe o fogo necessário, pelo contrário, arrefece-o. Repito: não é uma questão de competência, é uma questão de adequação. Uma equipa de futebol é um grupo de homens. E cada grupo de homens tem que ser entendido e ter um método adequado a si. Mourinho percebe isso e, como tal, cria motivações e níveis de confiança inacreditáveis nos seus jogadores. Trapattoni não, prefere fiar-se na disciplina e na inteligência táctica.
Para o Benfica não fazer a pior época da história, só há duas soluções. Ou sai Trapattoni, ou Luís Filipe Vieira manda embora noventa por cento dos jogadores actuais e compra outro tipo deles, mais calculistas, mas sem o coração que caracteriza o meu Benfica.

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