31/08/2004

Frutos de Sombra

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Eugénio de Andrade

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30/08/2004

Barco do aborto

O "Barco do Aborto" foi impedido pela marinha portuguesa de entrar nas águas territoriais nacionais, responsabilidade dos ultra-conservadores por trás da manutenção da falsa moral e bons costumes que minam a hipócrita sociedade portuguesa.
Correndo o risco de ser mal educado e ordinário, acredito que, se este barco tivesse vindo a Portugal há alguns anos e tivesse cumprido a sua função, esta situação não seria possível agora.

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24/08/2004

Trapattoni

Evitei fazer comentários após a derrota do Benfica frente ao Porto, na esperança de estar errado. Mas agora não tenho dúvidas. Há um grande responsável pelos resultados vergonhosos conseguidos pelo Benfica nos últimos jogos. E esse responsável é Luís Filipe Vieira.
O presidente do Benfica tem que assumir as responsabilidades da má escolha que fez ao trazer Trapattoni para o Benfica. Não está aqui em causa o profissionalismo, nem a competência da "Velha Raposa". Trata-se de perceber que nem todas as peças encaixam em todas as máquinas. Trapattoni é um excelente treinador se tiver jogadores capazes de praticar o seu futebol cerebral e calculista. Acontece que o Benfica não é uma equipa inteligente. É uma equipa emotiva. Os jogadores portugueses não são cerebrais, são virtuosos. Por isso é que a fúria espanhola de Camacho funcionava para melhorar o jogo do Benfica, porque dava ainda mais força a essa qualidade encarnada. Não a frieza de Trapattoni. Essa não cabe no Benfica, não funciona. E, sinceramente, nem quero vê-la no meu clube.
O Benfica que eu amo é a equipa emotiva, imprevisível, capaz do melhor e do pior, mas cujos espectáculos são um hino ao desporto. Não é uma equipa de jogadores cinzentos e calculistas, que preferem empatar a zero do que arriscar perder o jogo. Não é uma equipa que, a perder por três a zero, coloca mais um defesa em campo.
Mas Trapattoni também errou em termos técnicos contra o Anderlecht. Ricardo Rocha, o melhor central da equipa, e Zahovic, o jogador em melhor forma, não podiam ficar no banco. Mas a verdade é que o Benfica foi um enorme, um gigante zero. Foi vergonhoso e humilhante. Como já tinha sido contra o Porto. Aliás, para mim, a derrota contra o Porto ainda foi pior do que esta contra o Anderlecht. É que os belgas são uma equipa construída. O Porto é um grupo de jogadores a tentar construir uma equipa, depois da razia em relação à época anterior.
O que Luís Filipe Vieira tem que perceber é que um grande homem é aquele que consegue admitir os erros que comete e os corrige. Trapattoni não pode ficar no Benfica, porque não é homem para perceber o clube ou para dar-lhe o fogo necessário, pelo contrário, arrefece-o. Repito: não é uma questão de competência, é uma questão de adequação. Uma equipa de futebol é um grupo de homens. E cada grupo de homens tem que ser entendido e ter um método adequado a si. Mourinho percebe isso e, como tal, cria motivações e níveis de confiança inacreditáveis nos seus jogadores. Trapattoni não, prefere fiar-se na disciplina e na inteligência táctica.
Para o Benfica não fazer a pior época da história, só há duas soluções. Ou sai Trapattoni, ou Luís Filipe Vieira manda embora noventa por cento dos jogadores actuais e compra outro tipo deles, mais calculistas, mas sem o coração que caracteriza o meu Benfica.

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18/08/2004

Liber Mundi

Tenho passado grande parte do meu tempo livre a pesquisar e escrever sobre metafísica e o progresso espiritual. Não querendo misturar esses assuntos neste espaço, uma vez que não são bem aceites por toda a gente, muitas vezes por mero receio infundado do que ainda não conhecem ou por superstições tolas, criei um novo blogue, chamado Liber Mundi.
Nesse outro espaço irmão, colocarei os posts relacionados com essa temática, desde meros pensamentos, contos e parábolas, a estudos mais profundos sobre temas específicos como Tarot, Astrologia, estudos cabalísticos, etc, passando pelas palavras dos grandes mestres da humanidade. O objectivo é apenas partilhar a informação com quem se interesse pelos mesmos temas.
Fica já convidado a visitar esse novo espaço. Mesmo que "não acredite". Conhecer algo nunca fez mal a ninguém.

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Poemário

O Universos Desfeitos tem uma lista de poetas portugueses que vale a pena consultar. Está bastante actualizada e é extensa.
Um excelente trabalho a bem da cultura portuguesa.

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17/08/2004

Primeira medalha

Logo nos primeiros dias mdos Jogos Olímpicos de Atenas, um português alcançou uma brilhante medalha de prata, quase como que dizendo aos gregos que também somos capazes de conseguir bons resultados no “campo do adversário”. Sérgio Paulinho foi o autor do feito, na modalidade que elegeu há vários anos, o ciclismo.
Para mim, esta medalha teve um sabor algo especial, uma vez que acompanhei durante algum tempo a sua carreira, na altura em que colaborava na secção de desporto de um semanário regional e ele corria numa modesta equipa da zona de Alcobaça. Depois, o atleta deu o salto e acabei por perder-lhe o rasto. Agora, com surpresa e agrado, vejo-o ganhar uma medalha de prata na mais importante competição desportiva de todas.
Percebo que ganhar uma medalha olímpica deve ser um sentimento único. Ver a bandeira subir o mastro e ouvir os acordes do hino, ainda mais numa altura em que todos esses símbolos ganharam nova força junto do coração dos portugueses, deve provocar um momento de grande realização pessoal. É a noção clara de que toda uma nação está orgulhosa, embebida de um estranho e comovente amor comum, de que, por breves momentos, mais de doze milhões de pessoas, espalhadas pelo mundo, se emocionam e ovacionam um determinado feito.
Parabéns ao Sérgio Paulinho. Parabéns a Portugal.

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Fábrica de Sonhos

A Catarina Paramos, colega de escritas e pensamentos, pede-me para trocar o anterior link do blogue onde participava pelo novo, que se chama Fábrica de Sonhos.
Missão cumprida. Toca a visitar o novo blogue.

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13/08/2004

MPB

Na pesquisa que tenho andado a fazer sobre Música Popular Brasileira, encontro poemas de uma riqueza extraordinária, sempre com a simplicidade que caracteriza o povo brasileiro (voltarei a esse tema mais tarde). Quero, nos próximos dias, partilhar convosco alguns deles.
O primeiro, uma verdadeira obra-prima, é de um dos meus cantores brasileiros preferidos, Oswaldo Montenegro.

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente
Complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.
E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade também.

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09/08/2004

Sonho III

Encontro continuamente um profundo pensamento metafísico nas lojas que se chamam "O meu sonho" (e há delas em todas as terras do País, pois por todo o lado existem sonhadores).
Agora, encontrei novo papel afixado na porta da dita loja, dizendo: "O Meu Sonho. Volto já"
Não é o que acontece muitas vezes? Termos que esperar pelos nossos sonhos e ganhar forças apenas das suas promessas de regresso?

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