29/02/2004

A desilusão de Herman

O brilhante Herman José da minha infância a adolescência já não existe. Agora parece apenas um cómico barato, que se rodeia de bailarinas nuas, se veste de mulher ou faz os seus colegas vestirem-se dessa forma, que apenas diz piadas sobre sexo, como se não existisse outro tema, que não tem poder de crítica social e que já não tem coragem de se assumir como um contra-poder, de assumir o humor como um eco das injustiças e dos abusos.
Agora, parece apenas um novo rico que se passeia num carro luxuoso, que se gaba de ter relógios de marca, de saber cozinhar pratos franceses e de se dar com a nata do jet ser. Herman José já não denuncia a podridão que existe no País, agora apenas convida para o seu programa os amigos de festas e férias ou, então, pobres criaturas que sofrem de problemas mentais e, por isso, adoptam posturas diferentes do normal na vida, ou charlatões. Já não provoca os mais poderosos, como qualquer líder de opinião, como qualquer corajoso artista. Agora, apenas provoca os que são mais fracos.
Ainda por cima, uma notícia de jornal deu conta de que foi capaz de dizer o pior possível de Carlos Cruz no seu depoimento, ao ponto de referir que o aprisionado apresentador é um péssimo profissional e que nunca se deu bem com ele. No entanto, ainda está na memória de todos aquele abraço que lhe deu e as lágrimas que derramou, ainda há pouco tempo, quando o convidou para o seu programa.
Sinto uma pena imensa por ver um ídolo de infância cair desta maneira. Ao vender-se desta maneira às aparências num país tão pequeno como Portugal, Herman José provou que é mesmo verdade que, em terra de cegos, quem tem olho é rei.

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